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Com 6 meses de investigação, PF indicia 8 pessoas na Máfia do Câncer

A operação foi realizada em 19 de março deste ano e revelou esquema de desmonte da rede pública de oncologia para privilegiar o setor privado em Campo Grande.

Campo Grande News

02 de Outubro de 2013 - 10:43

Apesar de o inquérito da operação Sangue Frio ainda estar em curso, a PF (Polícia Federal) já indiciou oito pessoas por participação no grupo que ficou conhecido como Máfia do Câncer. Os nomes dos indiciados não foram divulgados. A operação foi realizada em 19 de março deste ano e revelou esquema de desmonte da rede pública de oncologia para privilegiar o setor privado em Campo Grande.

A próxima etapa será repassar o inquérito ao Ministério Público, que decide se oferece denúncia ou não contra os indiciados. No entanto, esta fase só será cumprida quando toda a investigação for finalizada.

Ainda são aguardados laudos periciais de HD de computadores e análises contábeis. A análise da papelada apreendida no Hospital Universitário e Hospital do Câncer, ambos em Campo Grande, é feita pela CGU (Controladoria-Geral da União). Ao término, mais pessoas podem ser indiciadas pela PF.

As denúncias foram centradas nos médicos Adalberto Abrão Siufi e José Carlos Dorsa Vieira Pontes. O primeiro dirigia o Hospital do Câncer Alfredo Abrão e era sócio da empresa NeoRad. As duas unidades são as únicas que oferecem radioterapia via SUS (Sistema Único de Saúde) em Campo Grande.

No dia da operação, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de Siufi. Ele chegou a ser preso por porte ilegal de arma, mas foi liberado ainda no dia 19 de março após pagar fiança de R$ 30 mil. Com as denúncias, ele deixou a direção do hospital.

José Carlos comandava o HU e, depois de ser afastado pela Justiça, pediu exoneração. Em 2012, a auditoria realizada pela CGU verificou prejuízo de R$ 973 mil aos cofres públicos no hospital ligado à UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). O valor foi obtido após levantamento em contratos do Hospital Universitário que somam R$ 11 milhões.

A análise trouxe à tona uma série de irregularidade: direcionamento de licitação, montagem de processos licitatórios, subcontratação de serviços para empresas ligadas a dirigentes do hospital, superfaturamento e emissão de empenho anterior à adesão em ata de registro de preços.

Dias antes da operação, o MPE (Ministério Público Estadual) levantou uma série de denúncias e pediu o afastamento da então direção do Hospital do Câncer. Foi identificado que a empresa NeoRad, cuja razão social é Saffar e Siufi, matinha contrato de remuneração da tabela SUS mais 70%.

Ainda foram apontados problemas como pagamento por tratamento de paciente morto e altos salários para familiares de Siufi. Auditoria relativa ao ano de 2012 aponta superfaturamento de R$ 600 mil no Hospital do Câncer.

Força-tarefa – As denúncias trouxeram o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a Campo Grande. Na primeira análise, dos 250 prontuários, foi identificado o desvio de R$ 155 mil. Valor que deverá ser devolvido pela Santa Casa e pelo Hospital do Câncer.

O ministério identificou haver “supertratamento” em grande parte dos tratamentos de quimioterapia paliativa, utilizado para pacientes em estágio terminal da doença. Foi apurado que, em alguns casos, a indicação era até três vezes maior do que o tempo orientado pelos protocolos médicos.

Ao todo, os auditores analisaram 255 prontuários, sendo 78 no HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian; 46 no Hospital do Câncer e 101 na Santa Casa. Também foram alvos dos auditores autorizações de procedimentos. Cento e onze foram emitidas após os pacientes terem morrido.