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Artigo: Se você parece mais velho, a culpa é sua

Durante os séculos, a busca da eterna juventude tem sido uma constante em todas as civilizações, mas todos as tentativas foram em vão

EL PAÍS

16 de Setembro de 2015 - 07:49

“Cada vez que me dizem que sou muito velho para fazer alguma coisa, faço imediatamente”, disse Picasso, que morreu com mais de 90 anos em plena capacidade criativa. Talvez, sem sabê-lo, tenha colocado em prática uma das maneiras mais eficazes de lutar contra a deterioração da idade: manter-se ativo. Hoje, ser nonagenário já não é excepcional; e dentro de 30 anos será normal. Impulsionada pela necessidade psicológica e física de se chegar à velhice sem decrepitude e escorada por novas modalidades científicas, a medicina antiaging é sem dúvida a rainha das terapias do novo século. Mas funciona? Conseguiremos ser jovens com 80 anos, parar o envelhecimento?

Durante os séculos, a busca da eterna juventude tem sido uma constante em todas as civilizações, mas todos as tentativas foram em vão. A imortalidade não é humana. Hoje, o realismo científico tomou o lugar da magia de antigamente, mas a busca continua. Pesquisadores de todas as vertentes tentam encontrar o gene ou genes da longevidade, descobrir o porquê da deterioração física e mental, decifrar a bioquímica hormonal e explicar as razões que irremediavelmente nos levam à morte.

Envelhecer, por enquanto, não tem cura; entretanto, como disse o ator Martin Held, “todo mundo quer chegar à velhice, mas ninguém quer ser velho”. E diante da encantadora perspectiva de passar dos 80 trazida pela expectativa de vida ocidental, todas as áreas científicas envolvidas abriram um novo caminho de pesquisa no qual o estudo do envelhecimento é rei.

Para que os anos sejam menos notados

1. Controlar o consumo de álcool. Desidrata e aumenta a produção de radicais livres.

2. Não fumar. Segundo a Sociedade Espanhola de Medicina Estética, os fumantes envelhecem 2,5 anos a mais para cada 10.

3. Ter relacionamento estável. O sexo libera hormônios de crescimento que ajudam a manter a elasticidade da pele, segundo o doutor David Weeks.

4. Fazer exercícios com moderação.Comprovado pelos pesquisadores da Universidade McMaster (Ontario).

5. Rir com os amigos. Reduz o estresse, que acelera o encurtamento dos telômeros.

6. Se proteger do sol. É o principal agente externo de envelhecimento.

O segredo está em uma pequena questão de interpretação. Julián Bayón, responsável pela unidade de controle de envelhecimento da Clínica Iván Mañero e Manuel Sánchez da Clínica Planas, em seu livro Antiaging, Viva Mais Sentindo-se Mais Jovem (Bresca), afirmam: “Não é um remédio contra o envelhecimento, mas do envelhecimento pensado para pessoas que desejam se cuidar e envelhecer com saúde”. Ou, o que dá no mesmo, não serve para retirar rugas e ir contra a passagem do tempo. A ideia das terapiasantiaging é estudar todos os fatores que agem no processo de envelhecimento e que afetam a saúde e a qualidade de vida para controlar possíveis males, minimizá-los e evitar que apareçam. “É uma disciplina preventiva, preditiva e regenerativa”, acrescenta. “Não estuda o envelhecimento por si só, mas em cada pessoa”.

Idade cronológica e biológica

Artigo: Se você parece mais velho, a culpa é sua

Nós não envelhecemos igualmente. As marcas do tempo mudam de acordo com o indivíduo, sua herança genética, hábitos e condições ambientais. De modo que todos nós temos duas idades: a que está no documento de identidade ou idade cronológica, e a de nosso organismo ou idade biológica. Há quem supere os 50 anos sem precisar usar óculos e quem tenha de colocá-los aos 20. Quem tem problemas motores com 60 e quem realiza o sonho de pular de paraquedas com 70 porque seu corpo permite.

A velhice é uma companheira inexorável dos anos, mas não ataca a todos da mesma forma: ter uma presbiopia precoce não significa que os demais órgãos vitais envelheceram do mesmo modo. Não existe uma fórmula infalível para calcular a idade biológica, mas a medicina antiaging, através de diferentes medições e análises, é capaz de averiguar o estado real da mente e do corpo.

“Com o aumento da quantidade dos parâmetros calculáveis”, afirmam Mañero e Sánchez, “poderemos fazer uma ideia mais exata se uma pessoa está melhor ou pior em comparação com a população da mesma idade cronológica e aplicar o tratamento antiaging ideal”. Segundo a OMS, os problemas biológicos e a genética são responsáveis por 27% de tudo o que influi em nosso envelhecimento e condiciona nossa saúde, o estilo de vida 43%, o sistema de saúde 10% e os fatores culturais e psicossociais, 20%.

Assim, nossa forma de envelhecer está submetida quase em 70% à tirania de acontecimentos aleatórios, ao azar. Aleatório ou programado, o processo de envelhecer é imparável, mas suas consequências podem ser prevenidas e minimizadas, ou pelo menos é o que prega a medicina antiaging ou medicina do envelhecimento, cujos argumentos de atuação são baseados nos critérios e nas teorias que a sustentam.

Nunca é tarde para se cuidar

Em que idade é conveniente realizar esse tipo de tratamento para que chegar à velhice não seja um problema pessoal e alheio? É a pergunta de um milhão de reais. “Entre 40 e 50 anos é perfeito, mas bons resultados também podem ser obtidos em idades mais avançadas”, afirma Jesús Benito, do Antiaging Group Barcelona. Realizar uma terapia antiaging não é comprar uma pílula da juventude.

Ainda que cada clínica tenha um procedimento diferente, todos os centros de renome deixam claro desde o princípio: realizar um tratamento desse tipo não significa retirar 15 anos das costas ou receber as coordenadas para voltar aos tempos da juventude. Essa terapia nada mais é do que um estudo profundo do estado físico e mental e do funcionamento do organismo, que servirá para prevenir males no futuro, corrigir os presentes e ter boa saúde para toda a vida.

Para conhecer o estado dos órgãos vitais são estudados o sangue, a saliva e a urina. São os chamados biomarcadores objetivos. Por outro lado, são medidos os subjetivos como os sintomas externos –digestivos, cardíacos, psicológicos, motores e sociais. Toda essa informação, junto com um exaustivo histórico familiar e pessoal realizado por médicos de diferentes áreas, formam o conjunto de dados para estabelecer um plano de ação absolutamente personalizado que inclui: dieta, programa de exercícios mentais e físicos, e a receita das vitaminas e minerais adequados. Além disso, todas as clínicas propõem um plano de acompanhamento que irá mudando de acordo com as necessidades que por ventura aparecerem.

Até quando é possível viver?

Há quem tenha chegado aos 122 anos. Um caso raro, claro, mas que graças ao aumento da qualidade de vida, os avanços científicos e os recursos de saúde muitas pessoas poderão alcançar nas próximas décadas. Como? Além da herança genética da longevidade –sim, chegar aos 90 anos também é herdado –, o futuro nos reserva surpresas prodigiosas em genética, nutrição farmacopeia..., que nos ajudarão a ser jovens com 80 anos sem poções milagrosas, mas por conquistas científicas.

Os chips genéticos, por exemplo, já permitem conhecer a suscetibilidade individual a problemas tão comuns como as doenças cardiovasculares, neurovegetativas, diabetes e câncer, e detectar os riscos e evitá-los antes que a doença apareça, ou seja, mediante o diagnóstico precoce; e por outro lado, graças à ação farmacológica.

Para entender: entramos na era das ciências genômicas (baseadas no estudo e compreensão da genética) que darão lugar, por exemplo, à genômica nutricional, capaz de avaliar com uma gota de sangue que alimentos são mais benéficos ou prejudiciais de acordo com nossos genes; as dietas serão pessoais e intransferíveis e além do sobrepeso, evitarão muitas doenças associadas a comer em excesso e por defeitos. A fármacogenômica, por sua vez, será capaz de intervir na ativação dos genes que nos protegem contra determinadas doenças e silenciar os que as potencializam.

Eternamente não, mas viver por muitos anos e em boas condições é uma promessa que será cumprida. As belezas septuagenárias –Jane Fonda, Lauren Bacall– não serão só exclusividade de Hollywood, do bisturi e dos retoques; mas chegar aos 55 como Sharon Stone será tão frequente como ter o primeiro filho a partir dos 35, algo impensável 20 anos atrás.

Medicina personalizada

Em abril de 2003, dois anos antes do previsto, a ciência anunciou ao mundo que o mapa genético humano, o genoma, também chamado de mapa da vida, foi completado com sucesso. Um feito que se transformou no protagonista da nova medicina, que estuda cada indivíduo em particular, previne antes de curar e busca a regeneração dos órgãos afetados através da células-mãe, em vez de substituí-los e extraí-los.

“Hoje, reagimos diante do aparecimento de uma doença, mas no futuro poderemos agir antes que ela surja e isso levará à ampliação do tempo que a pessoa poderá viver sem doenças associadas à velhice”, afirma María Blasco, diretora do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas (CNIO, na sigla em espanhol) e chefe do grupo de Telômeros e Telomerase. Essa equipe é responsável pela criação de um teste, o Life Lenght –mede a longitude dos telômeros (extremos dos cromossomos) das células-mãe; quanto mais curtos, mais velhos somos–, que junto com os testes genéticos esperam conseguir mudar nossa vida.

Como afirma José Ignacio Lao, médico geneticista coautor do biochip de DNA, e diretor do Centro Genomic Genetic International, “os avanços em medicina genômica, que chegam com maior rapidez do que o previsto, nos demonstram que o conceito que temos de doença é obsoleto e que no futuro será equiparável ao que hoje chamamos síndromes”. Significa que somos imortais? Não. Através de uma análise específica podemos evitar problemas futuros, driblar as doenças sofridas por nossos antepassados encurralados por seus genes e saber como nosso estilo de vida é influenciando por nossa idade biológica, que no final das contas é a que manda. Enzimas e genes são os pilares de um futuro que já chegou.

David Sinclair, geneticista e codiretor dos Laboratórios Paul F. Glenn dedicados à pesquisa biológica do envelhecimento, e conhecido como o alquimista do Resveratrol (macro antioxidante da moda para prevenir os problemas da idade) afirma que no futuro será possível reverter e abrandar as marcas da passagem do tempo no organismo graças a uma pílula capaz de estimular permanentemente uma substância conhecida como NAD (Dinucleótido de nicotinamida e adenina).

“É uma substância”, afirma, “essencial para a vida de todos os organismos; recentemente, descobriu-se que o corpo humano também a utiliza para reverter os danos provocados pelo envelhecimento e aumentar as defesas orgânicas contra o mesmo. Quando fazemos exercício e temos uma dieta saudável, os níveis de NAD aumentam. Mas com o passar dos anos, o corpo deixa de sintetizá-lo. O futuro está em encontrar um caminho que nos ajude a repô-lo”. É possível que em uma década a pílula de NAD seja tão comum para manter a juventude como é hoje o tratamento cosmético.