Logomarca

Um jornal a serviço do MS. Desde 2007 | Sexta, 26 de Abril de 2024

Esporte

Ferrari dá o troco na Mercedes nos treinos em Barcelona; bom para a F1

Mesmo com pneus cerca de meio segundo mais lentos que os de Hamilton, Vettel foi 412 milésimos mais rápido que o britânico. Equilíbrio entre as equipes deve permanecer nesta quarta

Globo Esporte

07 de Março de 2018 - 08:35

Os treinos da pré-temporada não são como, por exemplo, o Q3, a seção final da classificação, nos sábados de GP, quando todos os pilotos têm os pneus mais macios novos e gasolina no tanque para, essencialmente, uma volta lançada. A pole position, como regra, é um retrato fiel do conjunto carro-motor mais veloz naquele instante, naquela pista.

Nesta terça-feira, em Barcelona, primeiro dia da segunda série de testes da pré-temporada, Sebastian Vettel, com a Ferrari SF71H, estabeleceu o melhor tempo do dia, 1min20s396, obtido com pneus médios. E Lewis Hamilton, com o modelo W09 da Mercedes, apenas o quarto tempo, 1min20s808, com pneus macios. Mesmo com pneus cerca de meio segundo mais lentos que os de Hamilton, Vettel foi 412 milésimos mais rápido. A Pirelli disponibiliza todos os tipos de pneus para o teste.

Recuemos, agora, até sexta-feira, quando no mesmo Circuito da Catalunha Hamilton registrou o melhor tempo, 1min19s333, com pneus médios, e Vettel, com macios, o terceiro, 1min20s241. Naquela oportunidade, também com pneus que davam uma vantagem média de meio segundo a Vettel, ele foi 908 milésimos mais lento que o provável adversário na luta pelo título este ano, como já foi em 2017.

Se quisermos levar ao pé da letra essa disputa, na maioria das vezes não possível, ao menos hoje, podemos dizer que a Ferrari respondeu a Mercedes que a impressão de superioridade gerada na sexta-feira era mesmo apenas uma impressão. Se Hamilton mostrou-se inicialmente capaz de, com pneus mais lentos, ser mais veloz que Vettel, nesta terça-feira o piloto alemão obteve exatamente o mesmo efeito com o concorrente.

Ainda que, como lembrado no começo do texto, os ensaios de inverno da F1 não traduzem totalmente a realidade dos fatos, como acontece no Q3 da definição do grid, não deixam de emitir sinais do potencial de cada equipe, mesmo que não conclusivos. Imagine, por exemplo, se a exemplo de sexta-feira Hamilton repetisse a dose nesta terça-feira. Seria (você concorda?) mais um elemento indicador de uma eventual vantagem técnica da Mercedes sobre a Ferrari nessa fase da preparação dos times.

Valtteri Bottas, companheiro de Hamilton na Mercedes, pilotou o W09 de manhã e, como o inglês, de pneus macios marcou 1min20s596, ou seja, precisos 200 milésimos mais lento que Vettel, com médios. É um cenário bem semelhante ao de Hamilton nesta terça-feira na comparação com Vettel.

Felizmente, a informação que levamos para esta quarta é a de que os dados disponíveis sugerem seguir existindo um equilíbrio entre as duas escuderias que hoje mais se impõem na F1, Mercedes e Ferrari. Ufa, que boa notícia!

RBR pode vir aí também

Podemos ficar até um pouco mais contentes. Por quê? Você acompanhou o treino de Max Verstappen, da RBR? O holandês de 20 anos, vencedor já de três GPs, completou convincentes 130 voltas - o GP da Espanha, no mesmo traçado, tem 66 voltas. Esse era o objetivo mais importante do dia, o primeiro depois de frio intenso, neve e chuva. Os técnicos orientaram os pilotos a permanecer na pista, colher o máximo de dados para melhor compreensão dos novos carros e mesmo dos novos pneus, mais macios que os de 2017.

Partindo da excelente base do modelo do ano passado, é provável que Adrian Newey, responsável maior pelo projeto do RB14-TAG Heuer (Renault), voltasse a oferecer a Max e Daniel Ricciardo um monoposto rápido. Mas nos dois dias que Max o pilotou, na semana passada, enfrentou problemas mecânicos, duas vezes no sistema de alimentação de combustível. Ricciardo andou bem pouco, por causa do mau tempo.

Ao completar o equivalente a dois GPs em um único dia, nesta terça-feira, Max dá a entender que o grupo liderado por Newey equacionou as dificuldades iniciais do RB14. Na verdade, Max chegou até a ocasionar uma bandeira vermelha na sessão da tarde, por causa de as baterias terem descarregado. Os mecânicos interviram rápido e o piloto perdeu pouco tempo nos boxes, atestando ser um problema menor.

E também importante, claro: Max confirmou os dotes de velocidade do modelo de 2018 da RBR, já evidenciados no primeiro dia da pré-temporada, 26, quando Ricciardo deu 105 voltas e fez o melhor tempo, com pneus médios, 1min20s179, seguido por Bottas, da mesma forma com médios, 200 milésimos mais lento, e Kimi Raikkonen, companheiro de Vettel, com macios, a 379 milésimos. Nesta terça-feira Max estabeleceu 1min20s649, com pneus médios. A diferença dele para Vettel, com os mesmos pneus, foi de 253 milésimos.

Repare como há uma alternância não apenas entre Mercedes e Ferrari, mas com a RBR também. Quando imaginamos que por conta dos pneus a cenário será um, eis que funciona ao contrário. Foi assim dia 26 e nesta terça-feira.

Isso tudo reforça a ideia de Max e Ricciardo poderem estar ainda mais próximos das duplas da Mercedes e Ferrari, como já vimos em 2017 nas corridas da Malásia e do México, ambas vencidas por Max. O holandês disse acreditar que o RB14 representa um avanço em relação ao modelo de 2017. “Quanto vamos saber na Austrália.” A abertura do mundial será dia 25, em Melbourne.

“Esqueceu” o time italiano

Não foi por outra razão que Toto Wolff, sócio e diretor da Mercedes, afirmou nesta terça-feira ter se “impressionado” com a RBR. Curiosamente, não citou a Ferrari. E não deve ter-se esquecido. É provável que a desfeita ao possível adversário na luta pelo título tenha sido o chamado caso pensado, exatamente para atingi-la psicologicamente.

Acredite, isso existe na F1! Sente na primeira fileira, a três, quatro metros dos entrevistados, nas acanhadas salas de entrevistas, acompanhe-os com esse olhar e verá, sem dificuldades, que certas frases, colocações, foram previamente estudadas, tinham essa intenção, inocular alguma forma de desgaste ao concorrente.

Já Vettel optou por caminho oposto ao de Wolff. A assessora pessoal de Vettel, Britta Roeske, envia aos jornalistas que viajam com a F1 a gravação dos comentários do piloto. Nesta terça-feira, Vettel se limitou a dizer estar satisfeito com as 171 voltas completadas, “sem problemas”, o que permitirá à equipe iniciar o treinamento desta quarta-feira dispondo de bem mais dados para trabalhar o SF71H. Não falou mais nada.

É a mesma política de 2017, quando a Ferrari surpreendentemente começou o campeonato muito forte, haja vista que Vettel liderou da primeira a 13ª etapa do calendário, o GP da Itália. A declaração sucinta, esquiva, de Vettel nesta terça-feira é sintomática, levando-se em conta que repete a postura do ano passado e deu no que vimos, o time italiano bem preparado para o mundial.

A vez dos pneus ultramacios

É provável que já a partir desta quarta-feira, Mercedes, Ferrari e RBR comecem a usar pneus mais macios nos seus carros. Nesta terça-feira foi a primeira vez, desde o primeiro dia de ensaios, que os pneus atingiram a temperatura ideal de aderência - varia com o tipo -, fundamental para compreender como os carros reagem, pois será assim ao longo das 21 etapas do ano. Nesta terça-feira a temperatura ambiente esteve entre 13 e 19 graus e a do asfalto, 15 e 24.

Poderemos ter um cenário um pouco distinto por esse motivo, uso dos pneus mais macios, talvez mude um pouco o que estamos assistindo. Vimos em 2017 como o modelo W08 Hybrid era mais eficiente em uma volta lançada, haja vista o seu número de poles, 15, diante de somente 5 da Ferrari. Mas em condição de corrida o SF70H de Vettel e Raikkonen se mostrou, na média, tão ou mais capaz de vencê-las que o monoposto alemão, apesar de entre Hamilton e Bottas a Mercedes ter sido primeira em 12 GPs, a Ferrari, em 5, e a RBR, 3.

Ao passarem a treinar com os pneus hipermacios, a novidade da Pirelli este ano, ultramacios e supermacios, vamos entrar em um universo novo da F1, o dos mais velozes na seleção da volta lançada. Essa deve ser a lição de casa, dentre outras, dos pilotos e equipes nos próximos dias, talvez já a partir desta quarta-feira.

Há muito o que falar, ainda, sobre os treinos da pré-temporada, agora sob condições mais apropriadas, como os novos problemas da McLaren, que não tem mais a quem acusar, pois a Honda se associou com a STR e está indo muito bem. Stoffel Vandoorne, companheiro de Fernando Alonso na McLaren, não completou mais de 38 voltas, diante de, como mencionado, 171 de Vettel, 86 de Bottas, 130 de Max, 91 de Hamilton, por exemplo. Os planos da McLaren, agora McLaren-Renault, são de inserir-se nesse bloco.

A alegação da equipe inglesa, de proprietários árabes, é de ter enfrentado panes elétricas. Em conversa com amigos presentes no teste, e com formação técnica, o mais provável é o carro da McLaren seguir superaquecendo, como já havia acontecido na semana passada, apesar do frio intenso.

Se essa for mesmo a razão, e não a assumida por Zak Brown e Eric Boullier, diretores da escuderia, os engenheiros Peter Prodromou e Tim Goss talvez tenha de rever o projeto do MCL33, o que faria a McLaren ter um início de temporada difícil de novo. Alonso deve estar acompanhando tudo com grande interesse. E, quem sabe, de saco cheio, em bom português.

Há muito mais o que discutir sobre os testes de inverno da F1, envolvendo outros times, por exemplo. É o que faremos nos próximos dias.