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Policial

Motorista relata tortura nas mãos do PCC durante roubo com morte

Vítima foi amarrada, agredida e teve arma colocada na boca.

Correio do Estado

14 de Março de 2019 - 15:05

Motorista de aplicativo passou por momentos de tortura durante roubo de seu veículo Nissan Tiida, cometido por integrantes da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) na madrugada desta quinta-feira, em Campo Grande. A vítima foi amarrada, espancada e teve uma pistola colocada na boca várias vezes. “Mandavam eu não me mexer, porque iriam me matar”, disse ele que não tinha esperança de escapar com vida. “Já estava preparado”. Um dos criminosos foi preso e o outro acabou morto em confronto com a Polícia Militar.

A vítima relatou que entre 00h40 e 1 hora da madrugada foi acionada para buscar uma passageira na Rua Pará, no Loteamento Rancho Alegre, região do Portal Caiobá. A suposta passageira é uma mulher de 22 anos identificada como a pessoa do PCC responsável por atrair vítimas e cooptar os executores de roubo. Ela estava agindo a mando de lideranças da facção que tinham o interesse de arrecadar fundos por meio da venda de um veículo no Paraguai, para financiamento do crime organizado. A mulher está sendo investigada.

Sem imaginar do que se tratava, o motorista se deslocou, no entanto, chegando ao local da chamada, deparou-se com dois homens. Ele inicialmente recusou a corrida, mas foi convencido após insistência dos suspeitos que alegavam que a mulher da chamada era a prima deles. Jackson Hofmeister Valenzuela, de 22 anos, e Rick Cesar de Arruda Benites, 18, embarcaram rumo ao bairro Universitário, mas sem definirem endereço certo. “Eles disseram apenas que iriam para uma festa e que chegando lá informariam o local”, disse.

No entanto, logo após o carro sair, os dois anunciaram o assalto. “O que estava atrás sacou uma pistola e colocou nas minhas costas. Depois bateu com a arma na minha nuca e me mandou ir para o banco de trás”. A vítima foi amarrada inicialmente com o cabo do próprio celular, teve o rosto coberto com a própria camiseta e em seguida teve os pés amarrados. “Um deles tirou o cadarço de seu tênis e me amarrou. Ele mandou abrir a boca e colocou a pistola na minha boca, dizendo que depois do roubo eles iriam me matar no Inferninho”.

De acordo com o motorista, eles ficaram rodando por cerca de 30 minutos. O tempo todo era agredido com socos, chutes e fios. Além da tortura física, também era torturado psicologicamente. “Um deles parecia estar muito alterado. Ele me batia muito e dizia que eu iria morrer assim que o carro fosse atravessado na fronteira com o Paraguai. Era muita violência. Eu falava que podiam levar o carro que eu não ia fazer nada, mas mesmo assim continuavam dizendo que iriam me matar de qualquer jeito. Foi um terror muito grande”.

Após rodarem pela região, eles pararam em uma mata onde desembarcaram e tiraram a vítima do carro. “Só lembro de ter muito mato e de eu passar por uma cerca”. O motorista foi obrigado a deitar-se no mato, onde continuou sendo agredido. “Eles me chutaram muito. Aí ouvi alguém falar que iria buscar a corda, pois iam me levar para o Inferninho e me matariam lá, deixando meu corpo amarrado. Então essa pessoa saiu com meu carro e eu continuei apanhando. Foi então que entendi que eu iria realmente morrer, que não escaparia”.

Alguns minutos mais tarde, o suspeito que havia saído com o carro retornou. “Então eles me mandaram ficar quieto porque era a hora da minha morte. Colocaram a arma na minha nuca e empurraram com força. Mas então percebi que eles foram se afastando, se afastando e quando não ouvi mais barulho algum, tirei o capuz do rosto, soltei os pés e corri para pedir ajuda. Não sabia onde estava, mas vi uma casa com a luz a acessa e pedi socorro lá. Um rapaz me soltou e acionou a PM. Em menos de cinco minutos a viatura já chegou”.

CONFRONTO

“Era uma área de mata e estava bastante escuro. De repente, o autor Jackson saiu de uma moita segurando uma arma e dei voz de prisão, mas como ele não largou, foi dado tiro instintivo para conter a agressão. Mesmo ferido, ele correu e foi perseguido”, explicou o PM. Foi chamado reforço e Jackson acabou encontrado nas imediações e continuou segurando a arma na direção dos policiais, fazendo menção de atirar. “Foi dado o segundo disparo. Em seguida ele foi socorrido até o Hospital [Regional], mas não resistiu”.