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Esporte

Danilo vê 'momento ideal' para assumir titularidade da lateral da Seleção e mira Copa de 2022

Aos 28 anos, jogador esbanja confiança e quer suceder Daniel Alves.

Globo Esporte

14 de Novembro de 2019 - 07:45

Sem a presença de jogadores que atuam no Brasil na Seleção e, consequentemente, a ausência de Daniel Alves, o lateral-direito Danilo voltará a ser escalado como titular por Tite diante da Argentina, em amistoso nesta sexta-feira, às 14h (de Brasília), na Arábia Saudita. O jogador da Juventus, da Itália, festeja a nova chance, mas não quer que ela seja apenas ocasional.

Aos 28 anos e com seu principal concorrente se aproximando do fim da carreira, Danilo entende que este é o momento ideal para se firmar como titular da lateral da seleção brasileira e traça como objetivo a presença na Copa do Mundo de 2022 no Catar.

Em entrevista, o lateral-direito esbanjou confiança em sua capacidade e lembrou das lesões que o atrapalham em momentos cruciais com a amarelinha.

Ele também falou sobre o início na Itália e a experiência de trabalhar com alguns dos melhores técnicos do mundo, como Sarri, Guardiola e Zidane, contou detalhes da parceria de longa data com Alex Sandro e declarou que o Santos será a sua "primeira opção" quando voltar ao Brasil. Confira abaixo a entrevista com Danilo:

GloboEsporte.com: Como tem sido este início na Juventus? Tem gostado da Itália?
– É um tanto quanto diferente. Eu que venho da Inglaterra, e lá o clima é mais frio, o pessoal também. Em todos os sentidos. Em Turim o pessoal é mais quente, os torcedores são mais próximos, sempre pedem autógrafos e fotos na rua. Tem sido diferente. Na Inglaterra eu tinha mais tranquilidade, mas é bacana, você se sente mais motivado, acarinhado. Estou me adaptando pouco a pouco, conhecendo a cidade, os lugares, não tem sobrado tempo para sair muito.

Nem para provar a cozinha italiana?
– Isso é realmente bom. Eu gostava muito de Manchester, mas tinha quatro ou cinco opções (de restaurantes), na Itália a variedade da culinária é muito grande e muito rica, tem que tomar cuidado até para não subir o peso demais (risos).

Sempre quando um jogador se transfere para a Itália ele é perguntado sobre o aprendizado defensivo, já que a marcação é um dos pontos fortes da escola de futebol do País. Você percebeu diferenças?
– Não tanto. Meu treinador, apesar de ser italiano, tem ideia moderna de futebol, gosta de defender com linhas altas, posse de bola quase o tempo todo, então não é aquele treinador que dá tanta ênfase na parte defensiva, como falam da cultura italiana. Estou bem à vontade, isso não tem sido um desafio.

Mas o futebol praticado no Campeonato Italiano é diferente do da Premiere League, não?
– Sim, achei bem diferente. Em intensidade a Inglaterra é numero um, nenhuma liga consegue se comparar. Na Itália o jogo é mais posicional, pensado, não tao físico ou rápido, mas um jogo em que é preciso ser mais inteligente nas decisões. Ainda mais contra nós, já que as equipes vêm esperando o erro da Juventus.

Você teve oportunidade de trabalhar com alguns dos melhores treinadores do mundo. Pode detalhar um pouco do que aprendeu com cada um deles?
– Cada treinador foi importante no seu momento, é difícil destacar cada um. O Zidane foi importante no Real Madrid em termos de personalidade, naquilo que pedia para os jogadores, de jogar o futebol solto, de certa forma chamando a responsabilidade e fazendo aquilo que você pensa. Ele influencia os jogadores a decidir jogos, como ele fazia. Já Guardiola, Tite e Sarri, cada um têm suas particularidades, mas são parecidos nos cuidados com os detalhes. Eles são muito táticos, estudam muito os adversários, o que cada um tem que fazer com o seu oponente, e isso me ajuda a pensar os espaços, as decisões. É claro que na Itália o Sarri tem sido diferente, uma mescla do que eu já vivi. No City, a gente era praticamente mecânico, cada passo, centímetro era treinado. O Sarri gosta disso, mas dá liberdade de movimentação e decisão, enquanto o Guardiola é um pouco mais exigente em posicionamento, na movimentação. Mas o estilo de jogo dele tem sucesso. O Sarri tem buscado muito esse modelo, mas não é fácil transmitir a ideia ao elenco depois de tantos anos com outra forma de atuar. O Guardiola precisou de dois anos para isso, e mesmo assim a gente tem feito muito bem na Juventus apesar do pouco tempo.

– Na Seleção é diferente, com poucos dias de trabalho. São jogadores de qualidade, mas você tem que treinar nos jogos, é um pouco complicado, é até difícil manter ideia ou implantar um sistema.

O Brasil ainda não ganhou após o título da Copa América. O que espera desse amistoso na Arábia Saudita?
– Acho que Brasil x Argentina é até clichê falar, mas não tem amistoso, a gente se enfrentou na Arábia no ano passado, ganhamos de 1 a 0 e foi acirrado, fizemos gol no final e ficamos satisfeitos como se fosse decisão. É diferente. Apesar de não ser competição, eles vão querer demonstrar que podem ser superiores. Espero um jogo difícil, até pelo clima, o calor, temos que procurar fazer um jogo mais inteligente.

Contra a Argentina, você deve voltar a ser titular da Seleção, algo que não acontecia desde março. Como avalia esse seu momento com a amarelinha?
– Para mim é sempre uma honra jogar pela Seleção, é o que a gente almeja, nosso sonho maior. Eu fiquei fora da Copa América e foi uma frustração muito grande, eu tinha trabalhado na Copa do Mundo e também nos amistosos antes da Copa América, e aí fiquei fora. Mas foi pelo motivo de falta de jogo no Manchester City. No fim da temporada, talvez eu não tenha jogado nem três jogos completos.

– Uma coisa eu tenho como certo: a partir do momento em que estou jogando no meu clube com regularidade, desfrutando do futebol e contente, isso significa voltar à Seleção. Espero que na Juve eu não tenha problema de lesões novamente para chegar na Copa do Catar.

Estar no Mundial de 2022 é sua meta atual?
– É o meu objetivo. Sempre falei que eu sou uma pessoa de objetivos curtos. Quando você traça coisas muitos distantes, acaba perdendo o foco. Eu quero chegar nestes próximos amistosos e mostrar meu trabalho, também me estabilizar no meu clube. A partir disso, vou estar sempre na Seleção. Mas, olhando no horizonte, a meta é a Copa do Mundo, até porque não tem nada mais à frente da Copa.

O Daniel Alves, seu principal concorrente, já está com 36 anos e voltou recentemente ao Brasil. Acha que agora pode ser a sua hora de ganhar a posição dele?
– Eu já tenho bastante tempo na Seleção, sempre com competição com o Dani. Há um tempo, era com o Maicon. Sempre tive competição dura na minha posição, com jogadores que conquistaram coisas importantes. Mas acho que é o momento ideal, sim. Se olhar meu tempo na Seleção, experiência com clubes e tudo o que vivi, é hora de dar sequência e ter mais tempo como titular. Mas isso é complicado de traçar, eu não conseguirei controlar possíveis lesões e isso sempre prejudica muito. Meu objetivo é me manter saudável.

Realmente as lesões te atrapalharam muito. Na última Copa, por exemplo, você teve a chance de substituir o Daniel Alves, mas acabou se machucando. É possível fazer algo para que isso não volte a acontecer? Você buscou algum tratamento ou faz trabalhos específicos de fortalecimento?
– Com o passar do tempo, sempre fui trabalhando mais e ficando experiente também. Tudo o que faço é pensando no meu bem estar no futebol. Nossa carreira é curta, se você perde jogos é complicado. Eu tenho um fisioterapeuta pessoal e trabalho todos os dias com ele. Passo incríveis horas no clube! Me preparo por três horas para fazer um treino de uma hora e depois, em casa, ainda trabalho com o fisioterapeuta. Tenho que me dedicar dessa forma, senão não consigo estar bem. Minhas lesões foram de torção ou coisa desse tipo, só o meu último corte da Seleção que foi por problema muscular - e foi o meu primeiro da carreira. É azar, coisas que acontecem, não dependem do meu trabalho.

– Infelizmente, sempre tive problemas nos meus tornozelos. Foi isso o que me tirou de duas Copas Américas e uma Copa do Mundo, e que me fez ter um ano complicado no Real Madrid.

Qual desses cortes te abalou mais?
– Cada uma aconteceu no seu momento. Essa da Copa da Rússia foi um baque muito grande, eu tinha tido lesão no tendão, no glúteo, o que não é comum. Mas, uma coisa que demoraria semanas para curar, eu consegui em cinco ou seis dias, trabalhei muito. Aí, logo depois, tive lesão num treino bobo. A gente tinha treinado em gramados que não eram ideais e justamente no dia em que eu me machuquei o campo estava perfeito, mas travei e virei o pé. Em 2015 eu estava na maior sequência com o Dunga e acabei tendo lesão no amistoso contra o México, em Sâo Paulo, que me cortou da Copa América e ainda me tirou da pré-temporada.

Agora, na Seleção, mais uma vez você deve jogar ao lado do Alex Sandro, que foi seu parceiro no início no Santos, depois no Porto e, mais recentemente, na Juventus. Como é a relação de vocês?
– A gente chegou no Santos praticamente na mesma época, em momentos bem parecidos de vida, com 18 anos, numa equipe jovem e acabamos nos reconhecendo. A partir daí foi bacana, a gente morava no mesmo prédio, dividia quarto na concentração, aí jogamos juntos o Sul-Americano e o Mundial, fomos juntos para o Porto, seleção brasileira e agora coincidiu de nos encontrarmos na Juventus. Ele e a esposa são padrinhos do meu segundo filho, é sem dúvida o meu melhor amigo no futebol.

Diferentemente de outros jogadores que deixaram o Santos em litígio no passado recente, você saiu do clube pela porta das frentes. Quando voltar ao Brasil, pensa em atuar no Peixe?

– Futebol exige concentração mental, não é algo que penso ainda. Mas é um clube que, junto com América-MG, tenho mais carinho. O América me criou, o Santos foi o clube que me apresentou para o mundo de todas as formas, a jogar num nível mais alto, com jogadores como Neymar e Ganso, e tenho carinho enorme pelo clube e pela cidade. Não posso prometer nem vislumbro fazer isso agora, mas com certeza quando eu voltar para o Brasil o Santos será a minha primeira opção.