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Policial

Terenas choram a morte de Oziel e mobilizam 3 mil índios para reocupar a Fazenda Buriti

Já estão vindo para Sidrolândia, moradores de aldeias da região, especialmente de Aquidauana. Na Fazenda Buriti o cenário é de guerra e destruição.

Flávio Paes/Região News

30 de Maio de 2013 - 17:42

Foto: Marcos Tomé/Região News

Terenas choram a morte de Oziel e mobilizam 3 mil índios para reocupar a Fazenda Buriti

Enquanto participavam do velório de Oziel Gabriel, na Aldeia Córrego do Meio, os índios terenas que foram retirados a força da Fazenda Buriti, estão se organizando e prometem reocupar a propriedade. Há um grupo concentrado a três quilômetros da Buriti e a promessa é de reunir pelo menos 3 mil índios para a nova ocupação.

Já estão vindo para Sidrolândia, moradores de aldeias da região, especialmente de Aquidauana. Na Fazenda Buriti o cenário é de guerra e destruição. As três casas da sede (a principal e a do caseiro), foram incendiadas e acabou só ficando em pé as mangueiras. No grupo que liderou a ocupação, 450 guerreiros são de Dois Irmãos do Buriti e aproximadamente 60, são de Sidrolândia.

Pelo tom de voz e ameaças dos índios que acompanham o velório do terena Oziel Gabriel, morto hoje em confronto com a Polícia, a tensão deve aumentar em Sidrolândia nos próximos dias. O grupo despejado na manhã desta quinta-feira da fazenda Buriti fala em “justiça com as próprias mãos” e garante que um policial ou o fazendeiro Ricardo Bacha será morto para pagar pelo “assassinato do guerreiro Oziel”.

O corpo do terena chegou no meio da tarde para velório na aldeia Córrego do Meio. Amigos receberam Oziel com palmas, gritos e muito choro. “Se eu estivesse lá não tinha deixado que isso acontecesse”, lamentava a mãe dele. Entre os terenas, nenhum divulga o nome. Todos pedem para serem identificados apenas como “guerreiros”.

O irmão de Oziel, Otoniel Gabriel, de 32 anos, avisa. “Mataram um dos nossos, vai morrer gente de lá”. A ameaça é reproduzida por vários índios. O cunhado do terena morto é mais específico em relação aos “alvos”. “Ou a gente mata um policial ou o fazendeiro. O Ricardo Bacha vai pagar, vamos vingar a morte”.

OzielOziel era auxiliar de serviços gerais na prefeitura de Sidrolândia e uma das lideranças no movimento que busca a retomada de terras que os terenas consideram tradicionais em Sidrolândia. Eles brigam desde a década de 90 por 17 mil hectares onde hoje está a fazenda Buriti. “Somos 5 mil índios em 2.5 mil hectares. Não queremos um palmo a mais do que é nosso”, diz o cunhado, de 34 anos.

O terena garante que não havia qualquer arma de fogo com os índios “apenas armas artesanais”. Ele acusa a Polícia Militar de “proteger o Ricardo Bacha”. “Por isso ele é o maior culpado e vai pagar”, ameaça. Outro cunhado de Oziel, de 57 anos, reclama da falta de solução para a questão fundiária em Mato Grosso do Sul.

“Isso só aconteceu por causa da morosidade da Justiça”. As famílias já preparam o funeral de Oziel, que será amanhã, com rituais e danças indígenas. O terena será enterrado no cemitério da aldeia Córrego do Meio, que fica ao lado da Fazenda Buriti.