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Sidrolandia

Governo cria outro grupo de trabalho para nova avaliação das fazendas ocupadas por terenas

Atualmente na propriedade de 300 hectares vivem na área 38 famílias que se dedicam a produção agrícola para subsistência, enquanto o excedente é vendido.

Flávio Paes/Região News

28 de Julho de 2014 - 10:29

Depois mais de um ano de negociações, em que já anunciou duas avaliações sobre os valor das propriedades (R$ 78 milhões inicialmente e depois, R$ 80 milhões), o Governo Federal, em pleno processo eleitoral, tira da cartola uma medida que aparentemente só adia a solução do impasse entre produtores rurais donos dos 15 mil hectares, localizados entre Dois Irmãos do Buriti e Sidrolândia, que os índios terenas reivindicam como parte da reserva indígena Buriti.   

Por decisão do Ministério da Justiça, foi criada uma câmara técnica integrada por nove peritos federais, engenheiros agrônomos do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) que começarão a trabalhar no dia 1º de agosto e terão 30 dias para concluir seus laudos. Os ruralistas têm 10 dias para enviar suas próprias avaliações. Todo o trabalho será concentrado na Superintendência Regional do Incra em Mato Grosso do Sul.

Governo cria outro grupo de trabalho para nova avaliação das fazendas ocupadas por terenasImpasse - As negociações duram mais de um ano e só  foram deflagradas diante da pressão da opinião pública depois que o indígena Oziel Gabriel, 35 anos, morreu, em 30 de maio de 2013, durante confronto entre polícia e índios  durante a reintegração de posse na Fazenda Buriti, em Sidrolândia.

No dia 31 do mês passado venceu o prazo para o Governo Federal incluir o pagamento dos ruralistas nos precatórios que serão pagos ainda este ano. De um lado, os produtores rurais não abrem mão dos R$ 124 milhões, apresentados no laudo elaborado por uma empresa particular.

Do outro, o Incra, autor do estudo que estipulou a indenização, inicialmente, em R$ 78 milhões que, em seguida, subiu para R$ 80 milhões, após negativa da classe produtiva. A diferença de R$ 44 milhões, segundo os produtores, refere-se a ressarcimento por construções e máquinas danificadas pelos indígenas durante as invasões.

Fazenda Buriti

Governo cria outro grupo de trabalho para nova avaliação das fazendas ocupadas por terenasIndiferente ao impasse na negociação entre produtores e o Governo, os índios tratam de sacramentar a ocupação das propriedades. Só restou o escombro da antiga sede da fazenda Buriti, onde Oziel Gabriel foi morto no confronto com a Polícia. O piso foi preservado e sobre ele erguido um barraco coberto com folhas de buriti.

Atualmente na propriedade de 300 hectares vivem na área 38 famílias que se dedicam a produção agrícola  para subsistência, enquanto o excedente é vendido. O grupo conseguiu juntar dinheiro e comprar por R$ 20 mil um trator usado, emprego no preparo do solo.

Em 15 de maio do ano passado, um grupo de 100 indígenas ocupou a sede do local que ficou intacta até o dia 18, prazo estipulado pela Justiça Federal para a saída dos terena. O grupo aumentou e 600 índios estavam na fazenda no dia 30 de maio, quando policiais federais foram até a área cumprir ordem de reintegração de posse. O resultado foi à morte do índio Oziel Gabriel, 35 anos e a permanência dos índios que persiste até hoje.

O líder do grupo, Paulo dos Santos Fernandes, 23 anos, conta que desde a primeira ocupação do espaço, mais famílias aderiram ao movimento de retomada e a produção sempre foi o objetivo de todos. “Nós vivemos dessa terra desde o dia 15 de maio do ano passado, já faz mais de um ano e conseguimos conquistar algumas coisas. Aqui produzimos mandioca, milho, abóbora, melancia, batata, feijão e a terra é muito boa”, diz.

Governo cria outro grupo de trabalho para nova avaliação das fazendas ocupadas por terenasEm média, as famílias produzem em 250 hectares da fazenda. Nos primeiros meses após a ocupação, a lavoura rendeu bastante. Com o dinheiro arrecadado nas primeiras sacas e caixas vendidas, os terena conseguiram comprar um trator avaliado em R$ 20 mil. O veículo está sendo usado há dois meses na área e a expectativa dos indígenas é continuar lidando com a terra e produzindo.

Na sede da fazenda, além da área para convivência, os índios transformaram a antiga capela usada pela família de Bacha em um memorial em homenagem a Oziel, o índio morto em confronto. No pequeno espaço, pinturas feitas pelos próprios índios retratam a imagem do guerreiro e a palavra “resistência” ressalta o sentimento de quem vive ali.

“Nós queremos ampliar esse espaço e fazer um memorial para o Oziel. A resistência é porque nunca iremos desistir dessa terra”, diz Paulo, líder da comunidade.