Sidrolandia
Santander quer investir em educação no Brasil cerca de 70 mil de euros
Destes, 70 milhões virão para o Brasil, que foi sede do III Encontro Internacional de Reitores, nos dias 28 e 29 de julho, no Rio de Janeiro
Terra
31 de Julho de 2014 - 16:25
O presidente do banco Santander, Emilio Botín, anunciou que o banco investirá 700 milhões de euros em educação até 2018, distribuídos entre as 1.290 universidades de 23 países ibero-americanos credenciados ao projeto Universia. Destes, 70 milhões virão para o Brasil, que foi sede do III Encontro Internacional de Reitores, nos dias 28 e 29 de julho, no Rio de Janeiro.
A Espanha receberá 240 milhões em investimentos. Os anúncios foram feitos no encerramento do Congresso, que contou com a presença de 1.103 reitores, de 33 países, que discutiram os rumos e desafios que a universidade ibero-americana enfrentará no século 21.
Do valor investido, 40% serão destinados a bolsas de mobilidade nacional e internacional a estudantes e docentes, 30% para pesquisas, inovação e empreendedorismo universitário e 30% para projetos e iniciativas acadêmicas destinadas à modernização e incorporação de novas tecnologias às universidades.
Segundo Botín, desde 2010, o Santander já investiu 594 milhões de euros em projetos universitários pelo mundo, além de implementar o programa com 18 mil bolsas de mobilidade ibero-americana, anunciado em Guadalajara, sendo 15 mil delas para alunos e 3 mil para professores e pesquisadores.
Esta foi a terceira edição do evento, que teve a estreia em Sevilha, na Espanha, em 2008, e a segunda em Guadalajara, no México, em 2010. Foram discutidos temas como internacionalização acadêmica, empreendedorismo e inovação tecnológica na formação superior.
Botín ressaltou que a universidade é uma alavanca para o desenvolvimento econômico e social de qualquer país e que a educação é o melhor investimento para governos, instituições e empresas privadas.
Ao final do evento, foi apresentada uma Carta Universitária que expõe compromissos de todas as instituições presentes para melhorar a educação superior ibero-americana até o próximo encontro, que acontecerá na cidade espanhola de Salamanca, em 2018.
Entre eles estão o papel de liderança social, constituindo um papel ativo e protagonista na sociedade, participando de debates sobre questões como pobreza, criminalidade infantil, exclusão digital e social e deterioração do meio ambiente.
Renovar os modelos de formação e oferta educativa também é um objetivo presente na carta. Segundo Botín, as crescentes demandas sociais e inovações tecnológicas podem dobrar a população de universitários na Ibero-América nos próximos 10 anos.
Os recursos públicos certamente não darão conta do aumento da oferta, portanto o documento recomenda que as universidades se associem mais com empresas privadas e renovem seus programas de financiamento.
Internacionalização
A internacionalização também está destacada na carta de compromisso para 2018, como condição indispensável para a universidade do século 21. A integração acadêmica entre universidades de várias partes do mundo contribui para o avanço do ensino superior, seja com projetos de mobilidade acadêmica, transferência de conhecimento em pesquisas ou professores mais internacionalizados.
A integração acadêmica entre universidades de várias partes do mundo contribui para o avanço do ensino superior
Para o reitor da Universidade de Oxford, Andrew Hamilton, da Inglaterra, o uso da tecnologia para integrar instituições facilita a transferência de conhecimento - a pesquisa universitária não se encerra mais na publicação de um trabalho, mas vai além, ao trocar informações e até mesmo projetos com outros pesquisadores.
É nossa sorte haver à nossa disposição as tecnologias da informação. As instituições estão se conectando com outras universidades e pessoas de todo o planeta, e isso faz com que todos evoluam em suas pesquisas. Hamilton também informou que cerca de 14% do corpo docente da universidade vem de outros países.
Para o especialista em política universitária e um dos criadores do programa Erasmus de mobilidade acadêmica na Europa, Guy Haug, a revalidação dos títulos universitários e equiparação de currículo é essencial para integrar cada vez mais as universidades.
No debate sobre a internacionalização, foi lembrada a importância de que para se atrair alunos estrangeiros, as universidades brasileiras precisam oferecer cursos não só em português, mas também em inglês e outras línguas.
Tecnologia e pesquisa
Não foi apenas no painel Pesquisa, inovação e transferência que o tema da tecnologia foi debatido. As inovações tecnológicas que cada vez mais fazem parte do mundo universitário foram tema recorrente em todos os debates.
O presidente do Santander, Emilio Botín, lembrou que, desde o encontro em Guadalajara, o alcance estratégico das informações, por meio da internet e dispositivos móveis, acelerou a expansão da sociedade digital, citando como exemplo as plataformas de cursos online e massivos, chamados Moocs, lançadas nos Estados Unidos.
Para que incorpore de maneira efetiva as mudanças tecnológicas, a universidade deve repensar suas estruturas e metodologias docentes, gerar conhecimento científico de maneira colaborativa, transferindo-o para o mundo empresarial, além de desenvolver estratégias de cooperação com outros sistemas universitários, como o europeu, anglo-saxão, asiático ou africano.
O reitor da Universidade Nacional de Singapura, Tan Chorh Chuan, salientou o foco da universidade em pesquisas e também no mercado de trabalho. Muitos chineses se formam e não conseguem empregos porque têm uma habilidade média ruim. A diversificação do setor de educação entre pesquisas e projetos da área de empreendedorismo na educação é muito eficaz.
A vice-presidente de plataformas e computação de nuvem da TOTVS Brasil, Marília Rocca, no painel Qualidade e Renovação do Ensino, destacou que, com a internet, o ritmo do aprendizado é muito mais rápido e depende do aluno, pois a fonte de informação passa a ser a rede, e não mais apenas o professor.
A tecnologia pode ser uma grande aliada, se for utilizada para interações mais ricas na sala de aula. A pesquisadora também citou os Moocs, que têm como principal vantagem a colaboração, e lembrou de exemplos como os três estudantes indianos do MIT que criaram módulos adicionais de um curso de engenharia.
Para o reitor da Universidade de São Paulo, Marco Antonio Zago, falar de tecnologia na universidade é colocar a mão nas feridas das instituições brasileiras. Segundo ele, as universidades precisam rever a maneira como se relacionam com seus alunos, que deveriam ter uma vida universitária muito mais focada na descoberta de informações do que no conhecimento acumulado.
A USP está preocupada em oferecer oportunidade de avançar tecnicamente no ensino de graduação, colocando componentes digitais mais intensamente como parte dos cursos tradicionais, treinando as pessoas para utilizá-los. É preciso também criar condições para que os docentes se dediquem ao tema e sejam premiados e promovidos por isso, afirmou.
Outros temas como a relação das universidades e professores com os estudantes, o papel social da instituição, a relação entre governo e educação, financiamento, meio ambiente também foram debatidos em painéis durante os dois dias.
Desconforto com o governo
Após o envio de um informe para os clientes do Santander da carteira Select, que possuem renda mensal superior a R$ 10 mil, alertando sobre a desvalorização do câmbio e da economia caso a presidente Dilma Rousseff subisse nas pesquisas, Botín comentou o assunto durante o congresso, dizendo que o relatório "não é do banco, mas de um analista", enviado sem a autorização da instituição financeira.
Além disso, o presidente informou que foram tomadas as providências contra os responsáveis, padrão em filiais de qualquer país em que o Santander esteja presente, mas não disse quais eram. Ele também acrescentou que, desde que o Santander iniciou suas atividades no Brasil, já investiu mais de US$ 27 bilhões no País e que a instituição considera a economia brasileira "importantíssima".
No congresso, era esperada a presença do secretário Executivo do Ministério da Educação, Luiz Claudio Costa, que participaria do painel Organização, governo e financiamento, mas ele não compareceu. Em nova coletiva, Botín foi questionado se a ausência de representantes do governo federal no evento seria um boicote em resposta à carta do banco sobre Dilma.
O executivo voltou a dizer que o relatório não expressa a
opinião do banco e tentou amenizar a ausência do MEC. Não fizemos uma reunião
de governo, mas sim de universidades. Estão aqui cerca de 1.200 reitores. Isso
sim é importante. A assessoria do MEC informou que a presença do secretário
havia sido cancelada ainda na semana passada, mas até o fechamento da
reportagem, não informou os motivos.