Logomarca

Um jornal a serviço do MS. Desde 2007 | Quarta, 24 de Abril de 2024

Esporte

Taffarel define perfil do novo goleiro e planeja sequência de jogos na Seleção

Novo preparador de jogadores dessa posição na comissão técnica encabeçada por Dunga, o tetracampeão espera definir rapidamente o dono da posição visando o Mundial de 2018

Globo Esporte

12 de Agosto de 2014 - 08:33

Um goleiro com personalidade, que transmita tranquilidade, não sinta o peso da camisa pentacampeã do mundo da Seleção, obcecado pela vitória e, fundamental, que saiba jogar com os pés. Esse é o perfil definido para o próximo goleiro do Brasil. E definido por ninguém menos do que Taffarel, titular nas Copas do Mundo de 1990, 94 e 98.

Novo preparador de jogadores dessa posição na comissão técnica encabeçada por Dunga, o tetracampeão espera definir rapidamente o dono da posição visando o Mundial de 2018, na Rússia.

Essa foi uma das críticas direcionadas a Mano Menezes, técnico da seleção brasileira entre agosto de 2010 e novembro de 2012. Reclamaram que ele não definiu um “camisa 1” nesse período. Tiveram chances Victor, Jefferson, Diego Cavalieri, Rafael, Gabriel e Diego Alves, que terminou sua gestão como titular e era, antes da Copa de 2014, o preferido de Gilmar Rinaldi, empresário na época e, agora, diretor de seleções da CBF.

Taffarel é dos que acreditam que a confiança determina a trajetória de um goleiro na Seleção, e acha que para dar isso ao atleta, não há um limite longo para testes e tentativas.

Preparador de goleiros do Galatasaray, função que manterá paralelamente ao trabalho na equipe nacional, ele assume com a missão de encontrar um substituto para Julio César, titular nas duas últimas Copas que anunciou, após a eliminação em 2014, sua despedida da seleção brasileira.

“O Júlio teve seu tempo, foi bem, deixou boa impressão. Agora será a vez de outro. O importante é que temos goleiros. Precisamos analisar bem para dar a camisa 1 a um goleiro que transmita tranquilidade ao torcedor, ao treinador e à equipe” - disse Taffarel.

Em entrevista por e-mail, o novo integrante da CBF reafirmou sua admiração por Rafael, ex-goleiro do Santos que atua no Napoli (ITA), rasgou elogios a Dunga, parceiro na conquista do tetra em 94, e disse confiar na vontade dos jogadores brasileiros em mudarem a imagem após a goleada por 7 a 1 sofrida contra a Alemanha.

“Eles são os mais sentidos. Querem mudar tudo”.

Você volta à Seleção ao lado de Dunga, Gilmar e Mauro Silva. É um resgate da geração tetracampeã? Por que a CBF reuniu tantos atletas que participaram daquela conquista?

“Acho só uma coincidência. Nós somos praticamente da mesma geração, jogamos juntos por tantos anos e tivemos as mesmas experiências dentro da Seleção, comportamento profissional e sucesso. A CBF está apostando nesse perfil para o comando da Seleção”.

Como é o Taffarel preparador de goleiros? Exigente, estudioso? Que métodos você usa?

“Sempre fui exigente comigo, mesmo quando jogava. O goleiro tem que estar sempre com vontade de trabalhar, a confiança para fazer um bom jogo vem disso. Os trabalhos são variados: força, agilidade, técnica, etc”.

Paralelamente ao trabalho na seleção brasileira, você vai seguir no Galatasaray. Como pretende observar os goleiros brasileiros? Vai usar tecnologia ou terá uma equipe de ajudantes?

“Hoje em dia, está fácil acompanhar qualquer campeonato ou jogador. Tenho um programa instalado nos meus dispositivos em que posso analisar um goleiro, sua última partida, seus lances, as defesas, os gols sofridos. Dá para acompanhar tranquilamente”.

Antigamente, era raro um goleiro atuar fora do Brasil, você foi uma exceção. Hoje isso é comum. De que forma a abertura desse mercado ajuda os goleiros brasileiros?

“Antigamente, o pessoal tinha receio com os goleiros brasileiros, mas hoje buscam bastante. A escola brasileira é boa, tem técnica. O goleiro já sai pronto do país, e adquire mais experiência e qualidades ao ter contato com a escola europeia”.

Você inicia um ciclo diante do anúncio do Julio César de que não vai mais defender a equipe. Acha que isso é irreversível? Começar em busca de um novo dono para a camisa 1 é estimulante?

“O Júlio teve seu tempo, foi bem, deixou boa impressão. Agora será a vez de outro. O importante é que temos goleiros. Precisamos analisar bem para dar a camisa 1 a um goleiro que transmita tranquilidade ao torcedor, ao treinador e à equipe”.

O Julio César afirmou, ao se despedir, que o Brasil tem sete ou oito goleiros em condições de substitui-lo. Você concorda?

“Concordo. Há goleiros jovens, que prometem bom desempenho no futuro, outros jovens já prontos, e os mais experientes. Vamos ver com o Dunga qual será o perfil de goleiro com que ele quer trabalhar”. 

Que características técnicas, físicas e mentais deve ter um goleiro para ser titular da seleção brasileira?

“Não sentir o peso da camisa, ter todos os fundamentos bem treinados, espírito de equipe, e querer ganhar sempre. Seleção é assim, para defendê-la é preciso ser um vencedor”.

Quem é o melhor goleiro do mundo atualmente? Por quê? E o melhor do Brasil?

“Antes da Copa do Mundo, me faziam essa pergunta e eu dizia que teria de ver a Copa para respondê-la, mas que o Neuer estava jogando muito bem. Depois da Copa, ninguém mais teve dúvida de que ele realmente é forte. Quanto ao brasileiro, o melhor será o próximo a vestir a camisa da Seleção”.

O Neuer chamou atenção também pelo posicionamento mais adiantado e por jogar com os pés. Isso é algo que você pretende trabalhar com o goleiro da seleção brasileira?

“O goleiro moderno é assim, quase um líbero. Jogar bem com os pés é fundamental, isso faz parte do meu treinamento”.

Nos últimos títulos mundiais, os goleiros brasileiros foram você, Zetti e Gilmar, em 1994, e Marcos, Rogério Ceni e Dida, em 2002. Por que, hoje, é tão difícil reunir três goleiros desse nível?

“Quando se ganha uma Copa, todos são bons. Assim como 94 e 2002, se tivéssemos ganhado essa de 2014, Júlio, Victor e Jefferson seriam os melhores goleiros brasileiros”.

Em entrevista recente, você elogiou o Rafael, do Napoli. Ele é seu goleiro ideal nesse início de trabalho?

“Eu já gostava do seu estilo quando ele jogava no Santos. Agora, no Napoli, ele está jogando bem e adquirindo mais experiência. É um nome da minha lista, mas o importante é que ele esteja na lista do Dunga também”.

Até que ponto o preparador de goleiros interfere na convocação e na escalação dos jogadores da posição? Há uma consulta, a última palavra é dele ou do técnico?

“Eu tenho o papel de ajudar o Dunga a convocar bem os goleiros. É lógico que ele pode ter a preferência dele, mas, conhecendo-o, acho que teremos sempre um diálogo aberto, pois todo treinador gosta de ter um goleiro que lhe dê tranquilidade”.

Uma das críticas ao trabalho do Mano Menezes foi o fato de ele não ter definido um goleiro. Você acha importante definir um titular e dar tempo de jogo a ele? Em quanto tempo pretende fazer isso?

“Essa definição, quem dará serão os goleiros. Aquele que mostrar, realmente, todas as condições de ser o camisa 1 do Brasil. Goleiro é uma posição diferente, pois quanto mais ele joga, mais confiante fica. Por isso, é importante definirmos”.

Por que você acredita que o Dunga vai conseguir reerguer a seleção brasileira depois do vexame contra a Alemanha?

“Porque eu acredito no seu trabalho.  Juntamente com os jogadores, que, neste momento, são os mais sentidos daquela derrota, eles querem mudar tudo.

 Para isso, é preciso trabalhar com seriedade, foco, e colocar em prática o potencial de cada um. Unir forças. Isso é característica do novo comandante, o resultado será sempre um reflexo disso”.