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Sidrolandia

Delegado pede intervenção da Polícia Federal para garantir acesso de proprietários a fazenda

Sem poderes para intervir na área, delegado Enilton Pires Zalla pede ajuda da Polícia Federal

Flávio Paes/Região News

30 de Agosto de 2014 - 07:43

 O delegado Enilton Pires Zalla encaminhou e-mail à Superintendência Regional da Polícia Federal solicitando o envio de agentes para garantir acesso dos proprietários à Fazenda Água Clara, que na quarta-feira à noite foi invadida e teve a sede destruída por índios terena, uma das 31 reivindicadas pelos terena como parte da Reserva Buriti. O delegado se convenceu de que é necessária a presença da Polícia Federal para evitar que a situação acabe desencadeando novos confrontos.

Desde 31 de maio do ano passado, quando o terena Oziel Gabriel morreu  num confronto com a policia na reintegração de posses da Fazenda Buriti, os federais passaram a ser hostilizados pela comunidade que responsabiliza a corporação pela morte dele. Não foi por acaso que o Ministério da Justiça enviou naquela época tropas da Força Nacional para evitar novos confrontos entre índios e fazendeiros. Só a Polícia Federal tem atribuição para intervir em conflitos envolvendo indígenas.

http://i.imgur.com/HTUbpjK.jpgNesta sexta-feira dois herdeiros da propriedade, Afrânio e Sebastião Marques, além da procuradora da terceira herdeira, a jovem Maria do Carmo, registraram boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia do episódio.

Os três denunciaram que os índios abateram três cabeças de gado, mas garantiram que não retiraram nenhuma das mais de 900 cabeças mantidas nas áreas de pastagem. Eles querem garantias para voltar à área que depois da invasão de quarta-feira foi abandonada pelos funcionários.

Como temem serem atacados pelos indígenas que estão espalhados pela região em outras propriedades vizinhas já ocupadas por eles, os proprietários enviaram um motoqueiro na Santa Clara para sentir o clima no entorno. Além de constatar os estragos na sede, o emissário foi abordado por terena que fizeram um alerta em tom de recado para os fazendeiros: para que não voltassem à propriedade porque eles pretendem tomar posse de vez dos 522 hectares.  

Na sede da fazenda só restou à cozinha. O restante foi queimado. Foram destruída sala, quartos, varanda, paiol, parte de uma ponte de madeira e um galpão em que eram armazenados maquinários e ração. Uma imagem de Nossa Senhora e outra de São Miguel Arcanjo, que ficavam na entrada da propriedade, foram quebradas.

Um produtor rural da região afirmou ter visto os índios na fazenda. Contou ao G1 que e estava a caminho da área quando avistou a ponte de madeira pegando fogo. Com a ajuda de um funcionário dele, apagou o incêndio, mas não conseguiu salvar a residência.

Segundo a Polícia Civil, o caso aconteceu quando policiais militares à paisana foram até a fazenda Água Clara para avaliar a situação do local para cumprimento de reintegração de posse. Afrânio Celso Pereira Martins, um dos responsáveis pela propriedade, disse ao G1que a decisão é referente a uma disputa particular entre ele e os irmãos que tentam decidir, na Justiça, o futuro da fazenda e não tem relação com a disputa de terras entre produtores e indígenas.

 No caminho, os militares passaram por outra propriedade que estava ocupada pelos terenas. Um dos membros da tribo, Arcênio Duarte, foi flagrado com uma arma, preso e colocado dentro do veículo usado pela corporação. A comunidade confundiu a situação e pensou que se tratava de sequestro.

Foi então que índios entraram na fazenda. Quando representante da Fundação Nacional do Índio (Funai) chegou ao local, montou uma comissão que foi até a delegacia para denunciar o caso, mas quando chegou à unidade, percebeu que o terena estava detido no local. Ele pagou fiança e foi liberado.

Lideranças indígenas disseram ao G1 que avisaram por telefone os companheiros que estavam na fazenda assim que souberam do mal entendido e afirmam que a desocupação foi imediata. A fazenda, segundo eles, estava inteira quando o grupo chegou e deixou a área.