Logomarca

Um jornal a serviço do MS. Desde 2007 | Quinta, 25 de Abril de 2024

Sidrolandia

Pressionada por denúncias da vizinhança, ONG que atende animais vai fechar em dezembro

O desafio de Barbara agora, antes do fechamento do abrigo, é localizar uma área para onde possa levar os animais que até o final do ano se não forem adotados

Flávio Paes/Região News

29 de Outubro de 2014 - 07:41

Depois de oito anos de funcionamento, cumprindo o papel de um Centro de Controle de Zoonoses, incumbência da Prefeitura, a Organização Não Governamental, Associação Protetora dos Animais, Amigo Bicho, encerra suas atividades em dezembro. A diretora da entidade, Barbara Damaris, tomou esta decisão depois que o Ministério Público foi acionado por queixas da vizinhança contra o mau-cheiro gerado por animais mortos que o município demora demais a remoção. A Promotoria concedeu prazo de 40 dias para serem feitas algumas adaptações.

Outro fator determinante para a medida é que o contrato de locação do terreno termina daqui a pouco mais de 60 dias, em 31 de dezembro. “Não temos condições financeiras de fazer as adequações exigidas. A Prefeitura chegou a oferecer outra área para pudéssemos levar o abrigo”, comenta Barbara. Que parece desanimada depois de tanto tempo exercendo este trabalho voluntário, mantido muita vezes com o dinheiro do seu próprio bolso, especialmente em 2013, quando ficou vários meses sem os repasses do município.

Ela também demonstra certo desapontamento com o comportamento da própria sociedade, que ao mesmo tempo abandona os animais em frente da ONG e da sua própria casa como fosse obrigação dela cuidar. “Sei que os vizinhos fazem assembleia antes de encaminhar suas reclamações ao promotor. Reconheço que muitas vezes surge o mau-cheiro, não por nossa culpa. O problema é que a Prefeitura demora a fazer a remoção dos animais mortos. Mantemos um trabalho permanente de limpeza, remoção do lixo e aterramento das fezes, além disse aplicamos periodicamente cal no pátio”, explica.  

Pressionada por denúncias da vizinhança, ONG que atende animais vai fechar em dezembroO desafio de Barbara agora, antes do fechamento do abrigo, é localizar uma área para onde possa levar os animais que até o final do ano não forem adotados. “Tenho alguns gatos que estão aqui há 8 anos. Há animais com dificuldades de locomoção que não vou jogar na rua, nem entregar à carrocinha da Saúde para serem sacrificados”, comenta. Hoje a ONG atende com ração, medicamento (quando precisam) mais principalmente atenção e carinho, 40 gatos adultos, 15 filhotes e 30 cães. Uma população pequena diante dos 180 animais que já recebeu, muitos recolhidos abandonados nas ruas, alguns vítimas de violência, com as patas fraturadas, quase mortos de fome.  

Barbara começou seu trabalho voluntário meio por acaso comovida para falta de atenção do poder público com os animais que abandonados pelos donos, tinham como destino a morte. “As pessoas acionavam a Secretaria de Saúde que enviava a carrocinha para levar cães e gatos ao sacrifício”, explica.

Neste período de funcionamento da ONG, conseguiu transformá-la numa entidade de utilidade pública que passou a receber ajuda do município para fazer o trabalho. Hoje recebe um repasse mensal de R$ 6 mil, que gasta com ração (40% das despesas), compra de medicamentos e paga os funcionários, inclusive uma veterinária.  

Diante da omissão do poder público, Barbara, muitas vezes cumpriu um papel, que é de responsabilidade da Prefeitura, no controle das zoonoses. Sensibilizou veterinários que cobraram um preço simbólico (R$ 40,00 por procedimento) para promover de três a quatro castrações, uma forma de controlar o crescimento populacional de cães e gatos, especialmente aqueles que são abandonados pelos donos, que ela lembra, são justamente quem tem maior poder aquisitivo, os ricos, não os mais pobres, como poderia se supor.

“O município teria de assumir esta responsabilidade. Uma castração custa R$ 250,00, poucas pessoas teriam condições de pagar”, destaca. Esta atuação poderia ser viabilizada se fossem feitas parcerias com os cursos de veterinária das universidades de Campo Grande. Ela também critica o formato atual de vacinação contra a raiva adotada pelo Município.

Ao invés de se fazer num único dia em postos fixos, a Secretaria de Saúde deveria treinar os agentes de saúde, para fazer esta vacinação de casa em casa, como se faz em Campo Grande. “Aqui no abrigo funciona um posto. Na última campanha entregamos 80 doses para os donos vacinarem seus animais em casa. Não temos certeza se de fato fizeram isto”, admite.