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Um jornal a serviço do MS. Desde 2007 | Quinta, 25 de Abril de 2024

Sidrolandia

Reportagem do RN flagra maquinários da Prefeitura construindo piscina em casa de luxo no centro

Os dois caminhões colocados a serviço de um produtor rural representam 18% da frota hoje disponível para atender os 2 mil quilômetros de estradas vicinais.

Flávio Paes/Região News

24 de Novembro de 2014 - 08:21

Funcionários da Secretaria Municipal de Infraestrutura, Habitação e Serviços Urbanos foram flagrados pela reportagem do Região News na sexta-feira por volta das 18 horas, trabalhando com dois caminhões basculantes e uma retroescavadeira do parque de máquinas da Prefeitura na construção de uma piscina na Rua Minas Gerais, fundos da casa do produtor rural Alfredo Machado Junior.

Diante da presença da reportagem fazendo o registro fotográfico do “cabrito”, gíria que denomina este tipo de prática do funcionário que usa equipamento público para auferir vantagem financeira, foi simplesmente sacar os celulares para fazer fotos do repórter.

http://i.imgur.com/VmzextI.jpgOs dois caminhões colocados a serviço de um produtor rural representam 18% da frota hoje disponível para atender os 2 mil quilômetros de estradas vicinais e a malha viária urbana. Atualmente a Secretaria de Infraestrutura dispõe de 11 caminhões, sendo três locados que não conseguem atender a demanda de serviço.

A pouco mais de um mês para terminar o ano, a Prefeitura está literalmente com o caixa zerado para manutenção da malha viária. O único recurso disponível, em torno de R$ 200 mil por mês, não cobre os gastos com combustível e manutenção do maquinário. A única cascalheira disponível na Fazenda de Dona Josefina, foi fechada pela Polícia Militar Ambiente, por falta de licenciamento.

Mais surpreendente que o flagrante de que funcionários públicos estão usando caminhões e máquinas da Prefeitura para prestar serviços particulares, é a constatação de que a prática não é só antiga, como vem sendo tolerada há muito tempo por quem comanda a Secretaria responsável pela manutenção das ruas e estradas.

“O cabrito já faz parte da cultura deste pessoal, sendo feito normalmente depois do expediente e aos finais de semana e feriados”, admite um ex-secretário procurado pela reportagem, que não tem dúvida de que punir esta irregularidade é abrir caminho para outro problema. “Vão aparecer muitos atestados médicos, sem contar o risco de surgirem defeitos mecânicos inexplicáveis”, explica a mesma fonte.

A desculpa para justificar esta atitude irregular do servidor é de que ganham mal, não recebem hora-extra, foram sacrificados com o corte de suas gratificações. “Às vezes eles nem recebem dinheiro do fazendeiro pelo cabrito. Ganham um porco, ovo caipira, um agrado para reforçar o cardápio em casa”.

Provavelmente pela possibilidade de participar destas atividades paralelas que podem ser rentáveis é que muitos funcionários, aprovados em concurso público para atuar como garis ou serviços gerais, se empenham tanto para atuar como motorista ou operador de máquina (num desvio de função) embora o trabalho seja longe da cidade, em regiões distantes da zona rural, onde as condições de trabalho são precárias.   

 Junto com o uso de equipamentos da prefeitura para execução de serviços particulares, outra prática disseminada entre os servidores desta área é a venda de aterro, que custa em média, R$ 50,00 por carga. Recentemente houve um caso emblemático deste comportamento no Bairro Sidrolar.

Um morador, que enfrentava problemas de alagamento da sua casa, construída abaixo do nível da rua, procurou a Secretaria quando solicitou um caminhão de aterro para nivelar o terreno. O pedido foi negado sob a alegação de que a Prefeitura não pode fazer este tipo de serviço.

“Conversando com um vizinho descobri que o problema é resolvido rapidamente se você pagar. Ele desembolsou R$ 100,00 e conseguiu dois caminhões de aterro”, conta a reportagem o morador, que temendo sofrer represálias, pediu para não ter o nome revelado pela reportagem. 

As dificuldades financeiras da Prefeitura para fazer a manutenção das estradas vicinais acabam sendo uma porta aberta para estes “servicinhos extras”, que abrangem i abertura de açudes e de estradas de circulação interna nas propriedades. Hoje o produtor que enfrenta problemas de acesso a sua fazenda tem que tirar dinheiro do bolso. A Prefeitura entra com o equipamento e o proprietário paga o combustível, além de bancar o “agrado” aos funcionários, embora todos sejam remunerados para fazer o serviço.