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Política

Em diplomação no TSE, Dilma defende renovação na Petrobras e promete ‘apuração com rigor

A oposição reagiu, pondo em dúvida as medidas moralizadoras e cobrando ação da presidente

O Globo

19 de Dezembro de 2014 - 16:37

A presidente Dilma Rousseff usou nesta quinta-feira (18) o discurso em que recebeu o diploma para o seu segundo mandato para fazer um discurso em defesa da Petrobras, alvo da Operação Lava-Jato, que revelou um esquema de desvios bilionários na maior estatal do país e levou à prisão antigos executivos da empresa. Na cerimônia de diplomação, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Dilma afirmou, em discurso de quase 17 minutos, que lutará de todas as formas contra a corrupção e prometeu implantar a “mais eficiente estrutura de governança e de controle que uma empresa estatal já teve”. A oposição reagiu, pondo em dúvida as medidas moralizadoras e cobrando ação da presidente.

— Alguns funcionários da Petrobras, que tem sido e vai continuar sendo o nosso ícone de eficiência, brasilidade e superação, foram atingidos no processo de combate à corrupção. Estamos enfrentando essa situação com destemor e vamos converter a renovação da Petrobras em energia transformadora do nosso país — afirmou a presidente, completando: — A Petrobras já vinha passando por um vigoroso processo de aprimoramento de sua gestão. A realidade atual só faz reforçar nossa determinação de implantar na Petrobras a mais eficiente estrutura de governança e controle que uma empresa estatal já teve no Brasil.

Apesar de reconhecer a necessidade de se apurar com rigor os casos de corrupção para que eles não se repitam, Dilma defendeu o papel estratégico da estatal na economia brasileira.

— O saudável empenho de justiça deve também nos permitir reconhecer que a Petrobras é a empresa mais estratégica para o Brasil e que mais contrata e investe no país. Temos que saber apurar e saber punir, sem enfraquecer a Petrobras, sem diminuir sua importância para o presente e para o futuro. Temos que continuar apostando na melhoria da governança da Petrobras, no modelo de partilha para o pré-sal e na vitoriosa política de conteúdo local — disse Dilma, que enfatizou:

— Temos que punir as pessoas, não destruir as empresas. Temos que saber punir o crime, não prejudicar o país ou sua economia.

Dilma fez uma defesa enfática do caráter nacional da estatal.

— Temos que continuar acreditando na mais brasileira das nossas empresas, porque ela só poderá continuar servindo bem ao país se for cada vez mais brasileira. A Petrobras e o Brasil são maiores do qualquer problema, do que quaisquer crises e, por isso, temos a capacidade de superá-las. E delas e deles, sair melhores e mais fortes.

A presidente conclamou sociedade e políticos a um pacto contra a corrupção.

— Chegou a hora de firmarmos um grande pacto nacional contra a corrupção, envolvendo todos os setores da sociedade e todas as esferas de governo. Esse pacto vai desaguar na grande reforma política que o Brasil precisa promover a partir do próximo ano.

Dilma enfatizou que a corrupção não é exclusividade de partido, instituição ou de “quem compartilha momentaneamente do poder”.

— A corrupção, como todos os pecados, está entranhada na alma humana. Não é exclusividade de um ou outro partido, de uma ou de outra instituição. Trata-se de um fenômeno muito mais complexo e resiliente. Estamos purgando, hoje, males que carregamos há séculos — afirmou.

Dilma mandou recado à oposição ao afirmar que uma disputa democrática não pode ser vista como uma guerra.

— O povo escolhe quem ele quer que governe e quem ele quer que seja oposição. Cabe a quem foi escolhido para governar, governar bem. Mais importante do que saber perder é saber vencer porque quem vence com o voto da maioria e não governa para todos transforma a força majoritária num legado mesquinho.

Dilma afirmou que na sua posse, em 1º de janeiro, detalhará as medidas econômicas que serão tomadas pelo governo para garantir mais crescimento e desenvolvimento para o país. Ela garantiu que a economia irá se recuperar “mais rápido do que muitos imaginam”.

A presidente fez referência à Comissão da Verdade, que recentemente divulgou seu relatório final, dizendo que com o atual nível democrático que o país passa, não há mais espaço para temer a verdade.

— Temos a felicidade de estarmos vivendo num país onde a verdade não tem mais medo de aparecer. Um país que não tem medo de discutir os crimes de arbítrio durante a ditadura também não tem medo de expor e punir as mazelas da corrupção.

Após o discurso de Dilma, o presidente do TSE, Dias Toffoli, fez uma crítica indireta ao PSDB, que após o resultado das urnas chegou a pedir a recontagem dos votos e que ontem entrou com ação pedindo a cassação do mandato da presidente por abuso de poder político e econômico.

— As eleições de 2014 são uma página virada. Não haverá terceiro turno na Justiça Eleitoral. Que os especuladores se calem, não há espaço para terceiro turno que possa a vir a cassar os votos dos 54 milhões de eleitores — disse Toffoli.

OPOSIÇÃO COBRA MAIS AÇÃO

A oposição reagiu nesta quinta-feira ao discurso de Dilma. Segundo parlamentares ouvidos pelo GLOBO, a presidente não diz a verdade quando afirma que decidiu adotar medidas moralizadoras na Petrobras por iniciativa própria.

— Essas declarações são de um cinismo difícil de medir. Ela vem a público dizer que está combatendo a corrupção? Quem pode acreditar nisso. Eu, que estou no Congresso, sei como foi difícil (investigar a Petrobras). As coisas só começaram a mudar depois da Operação Lava-Jato — afirmou o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy.

Segundo o deputado, o governo dificultou o quanto pode a apuração das primeiras denúncias sobre corrupção na Petrobras. O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), também criticou o discurso da presidente. Para ele, não bastam palavras. Dilma deveria adotar medidas concretas como, por exemplo, a demissão da diretora da Petrobras, inclusive da presidente da estatal Graça Foster.

— Está caindo a ficha dela. Mas não basta só falar e reconhecer. É preciso agir, renovar toda a diretoria que foi destruída por aparelhamento politico. É preciso garantir a independência na gestão para restaurar a credibilidade — defendeu.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acompanhou a cerimônia de diplomação afirmou mais cedo, em evento no Ministério da Justiça, que a situação da presidente da Petrobras, Graça Foster, é um problema de Dilma. Perguntado se Graça deveria deixar a Petrobras, Lula respondeu:

— Não acho nem desacho. Esse é um problema da Dilma, não é meu. A Petrobras tem muita força, gente — respondeu Lula, após discursar, cercado de seguranças do Ministério da Justiça.

O governo quer transformar a festa da posse de Dilma num grande ato de apoio popular e político à presidente reeleita. Para lotar a Esplanada em 1º de janeiro, o PT está convocando militantes e organizando caravanas de todo o país.