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Policial

Polícia indicia 2 médicos e mais 2 por mortes após erro na quimioterapia

A quarta vítima, Margarida Isabel de Oliveira, 70, morreu em 27 de janeiro deste ano, sete meses após a troca.

Campo Grande News

30 de Julho de 2015 - 16:21

A Polícia Civil concluiu que um erro no tratamento de quimioterapia da Santa Casa causou a morte de quatro mulheres. O médico José Maria Ascenço, dono da clínica que prestava serviços ao hospital, foi indiciado por homicídio doloso e lesões graves. Além dele, quatro pessoas foram responsabilizadas pelos crimes. Eles podem ser condenados a pena de até 96 anos de reclusão.

O resultado do inquérito policial foi apresentado na tarde de hoje (30) pela titular da Deco (Delegacia Especializada no Combate ao Crime Organizado), delegada Ana Cláudia Medina, e pela presidente da comissão de sindicância do hospital, a médica Priscila Alexandrino.

As investigações constataram que um erro – a troca de medicamentos, o metotrexato pelo Fluoroucil (5-FU) – causou as mortes das pacientes Carmen Insfran Bernard, 48 anos, Norotilde Araújo Greco, 72, e Maria Glória Guimarães, 61, em julho do ano passado. A quarta vítima, Margarida Isabel de Oliveira, 70, morreu em 27 de janeiro deste ano, sete meses após a troca.

Conforme Ana Cláudia, o farmacêutico Rafael Castro Fernandes não tinha experiência e foi responsável pela troca dos remédios durante a manipulação. Ele vai responder por homicídio culposo por cada uma das mortes e pode ser condenado, por cada crime, a pena de 6 a 12 anos de reclusão. Pelo mesmo crime foi indiciado o médico Henrique Eses Ascenço, que era o responsável técnico pela clínica.

A farmacêutica Rita de Cássia Junqueira Godin foi indiciada por falsidade ideológica, porque registrava a manipulação dos medicamentos no período da tarde, apesar da mistura acontecer de manhã.

A enfermeira Geovana Carvalha Penteado, que chegou a realizar a manipulação dos produtos, foi indiciada por exercício irregular da profissão.

Falhas – Segundo a delegada Ana Cláudia, o erro só foi percebido pela clínica de Ascenço após a família da primeira vítima, que morreu em 10 de julho do ano passado, procurar a polícia e denunciar o erro no tratamento da quimioterapia.

Ela contou que o hospital falhou ao não buscar realizar exames para descobrir a causa da morte dos pacientes. Essa falha exigiu mais da investigação, que levou aproximadamente um ano e foi obrigada a reconstituir todo o processo.
Rafael não tinha experiência para manipular os produtos na quimioterapia e, apesar disso, foi contratado para tratar os pacientes. Ele trocou o remédio no dia 26 de junho do ano passado.

José Maria Ascenço, que teve o contrato rompido com o hospital, vai responder pelo crime de homicídio com dolo eventual. Ele poderá ser condenado, caso o MPE (Ministério Público Estadual) o denuncie e a Justiça o puna, a pena de 8 a 24 anos por cada uma das mortes. A soma ainda tem o agravante de duas pacientes terem mais de 65 anos de idade.

Priscila Alexandrino destacou que a Santa Casa rompeu com a empresa de Ascenço após as mortes e o tratamento de quimioterapia passou a seguir todas as regras para evitar novas tragédias. “Hoje há segurança”, destacou.