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Sidrolandia

Assentados se antecipam a ocupação organizada por Sindicato e entram na área da agrovila do Eldorado

Neste domingo as famílias que se posicionam contra entregar a gleba reservada à agrovila para acampados, se reuniram no Capão Seco para oficializar a fundação da Associação.

Flávio Paes/Região News

02 de Agosto de 2015 - 21:07

Um grupo de 650 assentados ligados a diferentes movimentos sociais se uniram para reagir a proposta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sidrolândia que no mês passado orientou acampados às margens da BR-060 e nas proximidades da Seara a invadir os 60 hectares reservados a agrovila.

 A área está  há oito anos ociosa  porque o Incra não toma as providências para fazer da gleba embrião de um núcleo urbano do Assentamento Eldorado.  Os assentados  começaram  a chegar na região do Capão  Seco e  construíram barracos nas áreas institucionais (reservada à construção de equipamentos públicos e perto da Unidade Básica de Saúde) e naquelas destinadas a quem pretenda se dedicar a algum tipo de comércio

Diante da movimentação dos sem terra, desde o último dia 17 de julho centenas de assentados começaram a ocupar a área e a dividirem em lotes de 360 metros quadrados. Colocando piquetes, queimaram a vegetação e instalaram as cercas. Algumas famílias perfuraram poço e já há quem levou os primeiros materiais para construção das casas.

Os assentados querem dividir a gleba em 512 lotes, destinados aos filhos (maiores idade) agregados dos parceleiros, além de funcionários que atuam nas escolas e postos de saúde da região. Neste domingo as famílias que se posicionam contra entregar a gleba reservada à agrovila para acampados, se reuniram no Capão Seco para oficializar a fundação da Associação Agrovila do Grande Eldorado, denominada de Cidade Vida.

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Os assentados tem pressa na regularização da entidade. Fixaram prazo máximo de 150 dias para os beneficiados construírem pelo menos uma peça de alvenaria (com  banheiro) nos lotes, na expectativa de assim criarem um fato consumo para levar o Incra a reconhecê-los como donos dos terrenos.

“Vamos encaminhar à Prefeitura o mais rapidamente a documentação da associação que será registrada em cartório e a lista dos assentados”, informa a professora Viviane Franco Campos, uma das líderes do movimento, convencida de que pode estar sendo dado um primeiro passo do embrião do futuro núcleo urbano do Eldorado.  

Quem tomou a frente da ocupação foi o borracheiro (e assentado) Cláudio Moreira, eleito presidente da Associação. Há oito anos ele é obrigado a pagar aluguel pela área onde montou e mantém sua borracharia num ponto estratégico no entroncamento de duas rodovias (uma vai em direção a BR-163 e outra é via de acesso a vários assentamentos).  Ao longo dos últimos 8 anos vinha aguardando o Incra implantar a agrovila para se habilitar a uma área.

Com a chegada dos primeiros acampados no último dia 17, uma sexta-feira, e diante dos rumores de que a orientação do Sindicato era para eles entrarem nos 60 hectares e criar uma extensão do assentamento, resolveu “delimitar seu território”. A atitude do borracheiro acabou sendo a “senha” para que alguns vizinhos seguissem seu exemplo.

No sábado, dia 18, cerca de 30 pessoas já tinham delimitado seus lotes, no dia seguinte, outros 150 e assim, numa progressão geométrica que motivou a organização de uma lista de interessados nos terrenos. Esta lista já conta com 647 nomes, 135 acima dos lotes disponíveis na área.

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O regimento interno aprovado na assembleia deste domingo, conduzida pela professora Viviane Rodrigueiro, eleita vice-presidente, estabelece critérios e define prazos rígidos para as famílias se consolidarem na ocupação. Quem não for assentado do Eldorado ou não atender alguns dos requisitos, fica de fora, mesmo que estejam entre os 647 inscritos.

Nenhuma família receberá mais de um lote, a menos que haja mais de um filho casado dividindo o mesmo lote. Será dada preferência a mulheres chefes de família, que tenham filhos com necessidades especiais. Também poderá se habilitar os agregados, pessoas que mesmo não sendo da família dos assentados, comprovadamente morem com eles. 

Não será tolerada a ocupação das áreas institucionais e a reservada ao comércio. “Há um projeto de um laticínio e de uma escola estadual para atender a região”, explica a professora Viviane. Depois de consolidada a ocupação, o desafio é garantir junto aos governos (municipal, estadual e federal) a infraestrutura (água, luz).

Embora o regimento com as regras de ocupação tenham sido aprovado por aclamação, alguns dos prováveis beneficiários duvidam que os sem terra consigam cumprir alguns prazos, como o de construir (não se admitindo barracos para a futura ocupação não ganhar característica de acampamento).

http://i.imgur.com/A9U1AdQ.jpgEntre os que estão céticos, está o assentado e pastor Juscelino Teixeira, justamente ele que delimitou o lote 1 da quadra 1. “Muita gente não vai conseguir passar pela seleção. Há pessoas que não são assentados”, afirma. Sua intenção (“caso a ocupação seja reconhecida pelo Incra”) é construir a sede da sua congregação (a Comunidade Cristã) e montar uma padaria.

No seu lote, onde construiu uma igreja, se dedica a produção leiteira, mas depende da ajuda dos filhos (residentes em Campo Grande) para sobreviver. O assentado João Rodrigues, mesmo não obtendo uma renda significativa com a produção de leite e a pequena horta que mantém no seu lote, sonha em construir no terreno de 12 x 30 uma casa onde sua filha, Gisele Souza Rodrigues, professora em Campo Grande, possa morar. “Ela quer morar perto da família e trabalhar numa escola do assentamento”, observa.

Mesmo contrariando o regimento interno da recém-fundada associação, que veta a construção de barracos, o assentado João Berlarmino de Souza e sua esposa, dona Lourdes, uma das lideres do acampamento Brejão, espera permanecer num dos lotes da agrovila, que ele pretende colocar em nome do filho especial.

O casal integra o grupo que seguindo a orientação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sidrolândia resolveram montar acampamento no Capão Seco.  São famílias que estavam acampadas na BR-060 (em frente da Fazenda Aracoara) e na antiga estrada boiadeira, em frente da Fazenda Brejão.