Esporte
Catador de latinha nas horas vagas vai segurar a tocha por 15 minutos
O leve retardamento mental não o impede de ter uma vida atribulada, que inclui expediente em turno integral na Tip Top.
Flávio Paes/Região News
24 de Junho de 2016 - 20:19
Uma das estrelas do revezamento da tocha olímpica, que passa domingo por Sidrolândia, vai completar 49 anos dia 11 de agosto, mas tem a inocência de uma criança. Miguel Valdir da Silva, o Peixão como é conhecido por toda a cidade, foi indicado para segurar por 15 minutos a tocha durante os eventos culturais programados para a Praça Porfirio de Brito.
O leve retardamento mental não o impede de ter uma vida atribulada, que inclui expediente em turno integral na Tip Top, onde há mais de sete anos é um faz-tudo, funcionário padrão em assiduidade e pontualidade, com o trabalho de catador de latinhas nas poucas horas de folga. Torcedor do São Paulo, não perde um evento futebolístico, onde une o útil ao agradável: acompanha a partida e aproveita para garimpar suas latinhas.
Peixão (forma como chama a quem ele se dirige), também é conhecido como machão. Um dos filhos de dona Raimunda, de 83 anos, mais na verdade tem uma segunda mãe, exatamente a sua irmã caçula, Maria Alaide da Silva, 43 anos, que o considera o seu filho mais velho. A única pessoa a quem ele obedece, sou eu, mesmo assim, às vezes não é fácil, o homem é teimoso, reconhece.
Foi dona Maria que resolveu levá-lo ao médico há oito anos para confirmar o que sempre suspeitou: o seu retardamento mental. Até então, a família nunca o levou para uma instituição especializada.
Foto: Reginaldo Rodrigues/Região News
Miguel Valdir da Silva, o Peixão como é conhecido por toda a cidade, foi indicado para segurar por 15 minutos a tocha n Praça Central.
Latinhas garimpadas pela cidade
Um acidente que quase o matou na saída para Quebra Coco, quando caiu da bicicleta, foi o sinal de alerta. Dona Maria tentou aposentá-lo, não conseguiu. Decidiu então matricula-lo na APAE, que lhe abriu o caminho para um emprego nas vagas reservadas às pessoas portadoras de deficiência.
Por recomendação médica, a irmã não o proibiu de continuar percorrendo a cidade em busca das suas latinhas. Miguel conseguiu terminar a antiga 5ª série, o suficiente para aprender e escrever razoavelmente, com uma habilidade incomum para fazer contas de cabeça.