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Policial

Dono de aeródromo alvo de operação da PF é o único integrante de quadrilha foragido

O aeródromo foi sequestrado a mando da Justiça e pelo menos um avião que estava em hangar foi apreendido.

Correio do Estado

30 de Março de 2017 - 09:21

Luiz Carlos Fernandes de Carvalho, dono de aeródromo localizado em Corumbá, é o único alvo que não teve mandado de prisão cumprido na Operação All In, deflagrada na terça-feira (28) pela Polícia Federal. Segundo a corporação, Luiz é considerado foragido.

O aeródromo foi sequestrado a mando da Justiça e pelo menos um avião que estava em hangar foi apreendido. Segundo a PF, Luiz é integrante da quadrilha comandada por Gerson Palermo, de 59 anos, e que era especializada no tráfico de cocaína de “extrema qualidade” da Bolívia para vários estados do Brasil.

A pretendia expandir suas ações na fronteira. A cúpula da facção, instalada em Campo Grande, negociava a compra de uma fazenda com pista de aterrissagem na zona rural de Corumbá, localizada estrategicamente na linha divisória entre o Brasil e a Bolívia.

O valor não foi divulgado, entretanto, a propriedade era vista como ideal, pois estava longe o bastante do alcance da fiscalização e facilitaria o pouso de aeronaves carregadas com cocaína importada. Uma vez em solo brasileiro, o entorpecente seria destinado a estados da região sudeste.

O responsável por autorizar a compra seria Gerson, no entanto, ele tomaria suas decisões baseado nas tratativas e na avaliação do campo-grandense Hugo Leandro Tognini, amigo de longa data e homem de confiança. Segundo mandado de prisão expedido pelo juiz Odilon de Oliveira, titular da 3ª Vara Federal Criminal em Mato Grosso do Sul, Hugo desempenhava atividades de corretor de imóveis e, nessa condição, orientava Gerson sobre aplicações no mercado imobiliário.

O grupo precisava tanto de um ponto de referência na região que, por muitas vezes, seguindo recomendações de Gérson e Hugo, utilizou o aeródromo de Luiz. Este aviador tinha a missão de organizar a logística dos voos, sendo recompensado de forma generosa por serviços tais quais a contratação de pilotos.

É investigada a possibilidade de que o corretor, junto com Luiz Carlos, tenha contratado o piloto Danilo Peres Rodrigues, morador em Sorriso (MT), para o transporte aérea de entorpecentes. O avião utilizado por Danilo foi avaliado em R$ 600 mil e teria sido adquirido no dia 22 de julho de 2016. Antes, a aeronave, cujo modelo e prefixo serão mantidos em sigilo, foi pilotada várias vezes por Sílvio Berri Júnior, conhecido por prestar serviços a traficantes de grande poder aquisitivo como Fernandinho Beira-Mar.

Ação da PF no aeródromo anteontem.

O QUE CADA UM FAZIA 

Dados da 3ª Vara da Justiça Federal apontam envolvidos, como Hugo Leandro Tognini, de Campo Grande, amigo de longa data e homem de confiança de Gérson Parlemo, chefe do bando. Ele desempenhava atividades de corretor de imóveis e, nessa condição, orientava sobre aplicações no mercado imobiliário. Também exercia outras funções dentro da organização e era responsável pelo tráfico relativo aos veículos empregados (caminhões, carros e aviões), incluindo reparos, aquisição, contatos com despachantes, pagamentos e até recrutamento de motoristas. Ele já esteve envolvido com estelionato em 2011 e, em alguns casos, se passava por “laranja”, tanto que em seu nome está registrado um veículo modelo Gol preto, mas que, de fato, pertencia ao patrão Gérson.

Osvaldo Inácio Barbosa Júnior, também da Capital, atuava como gerente operacional, contratando pilotos, motoristas, colaboradores e laranjas. Ele gozava da confiança da cúpula e participou da negociação dos 300 quilos de cocaína apreendidos no dia 25 de setembro do ano passado, em Santos (SP). João Leandro Siqueira, além de estar envolvido com o tráfico, esteve na Capital no dia 18 de agosto de 2016, sob ordens de Gérson, para verificar se uma carreta seria capaz de transportar a cocaína apreendida mais de um mês depois.

Ézio Guimarães dos Santos tinha a função de operacionalizar o transporte, encarregando-se também de transferir propriedade dos veículos usados, entre eles a carreta vistoriada por Leandro e apreendida em Santos. Luiz Carlos Fernandes de Carvalho cuidava do transporte aéreo e participou da logística destes 300 quilos apreendidos. Jurandir Rosa Novais tem antecedentes por tráfico, contrabando e falsificação de documentos. Ele mora em Londrina (PR) e dava suporte na gestão de interesses patrimoniais de Gérson, e cedeu seu nome para registro de uma camionete de luxo. 

Célio Barbosa da Fonseca chegou a simular contrato de trabalho com Gérson, numa das duas empresas que tem em Londrina. O objetivo era tentar driblar a fiscalização mostrando que o líder ostentava porque tinha emprego e renda que lhes permitiam isso. Além disso, também fornecia contas bancárias para lavagem do dinheiro. Lucas Donizetti Bueno de Camargo atuaria como suporte da organização, na esfera da lavagem de ativos e falsificação de documentos. Ele foi quem registrou uma aeronave em nome de albergado doente de São Paulo, em troca de favores financeiros, prática comum da quadrilha.

Silvana Melo Sanches, esposa de Gérson, o ajudava nas atividades diárias, como por exemplo, recebendo pagamentos, lavando dinheiro na compra de bens e trocando constantemente chips de telefone celular. Assim como o marido, nunca teve vínculo empregatício. Caio Luiz Carloni, foi preso no dia 27 de abril do ano passado transportando meia tonelada de cocaína com destino a Santos. Também auxiliava no transporte e registro de veículos. 

Sebastião Nunes Siqueira já havia sido condenado por tráfico pelo juiz Odilon, em 1996, quando tentava enviar 672 quilos de cocaína para Nova Jersey, nos Estados Unidos. Também foi condenado novamente em 2015, mas seguia livre em razão de brechas na Lei. Ligado ao Cartel de Cali, na Colômbia, se apresentava com documentos falsos empregados na compra e transferência da carreta apreendida em Santos. Além disso, é tio de João Leandro. Milton Motta Júnior ocupava lugar de destaque entre os comparsas, organizando encontro entre os mesmos e transmitindo as orientações repassadas por Gérson. Keli Cristina de Souza, esposa de Osvaldo, participava dos delitos de ocultação de bens e valores, prestando auxílio ao marido no registro de caminhões. 

Eduardo Peres da Silva estava no esquema de lavagem e ocultação de ativos, é advogado e desfruta de confiança de Gérson, pois patrocina a defesa de Caio. Foi ele quem conseguiu o advogado Antônio Feitosa Neto, morador em Goiânia (GO), para servir como laranja na compra de um avião. Danilo Peres Rodrigues é o piloto que transportou coca para o grupo. Celso Luiz Lopes era transportador de entorpecentes. Ele tem passagens pela polícia desde 1978 e já foi condenado por falsidade, tráfico e associação para o tráfico, sendo condenado, assim como Sebastião, pelo juiz Odilon.