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Esporte

Demian Maia deixa lamúria para trás, e cita idade para justificar luta relâmpago

Lutador acredita que urgência do UFC em fazer luta com Woodley é pelo desejo de casar duelo com St-Pierre, e compara desafio atual com luta pelo cinturão com Spider

Combate.com

12 de Julho de 2017 - 10:27

No próximo dia 29, Demian Maia terá a segunda oportunidade de se tornar campeão do UFC. Há sete anos, perdeu para Anderson Silva no peso-médio. Agora, enfrenta Tyron Woodley pelo cinturão dos meio-médios, em Anaheim, na Califórnia, pelo UFC 214. Se antes era o azarão, como ele mesmo apontou num almoço com a imprensa, em São Paulo, agora o que pesa contra ele é a falta de tempo. Enquanto o americano e atual campeão terá 146 dias entre sua última luta e a próxima, o lutador paulista terá um curto intervalo de 76 dias.

- No momento em que a gente aceitou a luta - porque a gente quer muito ser campeão, eu e toda a minha equipe - temos que trabalhar e fazer o melhor para chegar lá 100%. Não tem muito mais o que ficar lamentando. A choramingada a gente já deu na época entre a gente. Não abrimos para a imprensa porque não tem motivo. Mas foi a oportunidade que se apresentou desse jeito e a gente teve que pegar.

A luta entre Demian Maia e Tyron Woodley foi anunciada pelo próprio campeão no dia 24 de junho, durante o programa “UFC Tonight”. O brasileiro admite que chegou a ficar sem reação quando a negociação culminou na data do UFC 214. A idade e as circunstâncias da divisão, com a possível volta do canadense e ex-campeão Georges St-Pierre, pesaram para que aceitasse a proposta.

- A primeira reação foi: a gente não sabe o que faz. “Está muito em cima da hora”. Os caras conversaram com a gente na sexta à noite (dia 23 de junho) e na terça-feira (27) já estava assinado, e a mídia já sabia. A gente ficou: "Cara, não sei o que faço...". E chegamos a uma conclusão e algumas coisas pesaram. O que eles querem em novembro é a luta do GSP, então tanto faz se for eu ou Woodley, porque a luta que eles querem ganhar a grana é a de novembro. Eles vão colocar alguém de qualquer jeito, então vamos dizer que eu não aceitasse... eles iam colocar outra pessoa. Vai sair um cara para lutar com GSP, e aí não sei quando vou poder ir de novo. Estou com 39 (anos) e em novembro faço 40. Uma hora minha performance vai começar a cair, pode ser daqui a um ano ou daqui a dez. Me perguntei: posso esperar tanto tempo e arriscar fazer uma luta e perder, e nunca mais ter uma chance? A gente sentou e chegamos à conclusão que era melhor ter essa chance do que se arrepender de nunca ter tido.

Da luta contra Carlos Condit para a seguinte, contra Jorge Masvidal - seu último adversário -, Demian teve um intervalo de quase nove meses. Agora, o camp será de cinco semanas, contando a semana da luta, em que praticamente apenas corta-se o peso necessário para bater o limite dos 77kg. Mas tentando pensar positivamente, Demian enxerga o outro lado.

- Racionalmente, claro que prejudica (esse tempo curto). Mas a luta sempre tem uma coisa que não é tão racional. Já aconteceu de ter lutas na época do jiu-jítsu - ou mesmo no MMA antes do UFC - num curto espaço de tempo e ter um bom resultado. Psicologicamente, talvez tenha ficado mais atento sabendo que tinha menos espaço para errar e fiz um bom camp.

Sobre a luta com Woodley, Demian não vê mistérios sobre o que deve acontecer dentro do octógono. Ele sabe que terá que evitar a mão pesada do adversário, e naturalmente levar o duelo para o chão, onde pode trabalhar o seu jiu-jítsu afiado.

- A luta provavelmente será ele tentando meter a mão dele, que ele forte para caramba, é muito explosivo e nocauteador, e eu tentando fazer meu jogo que é finalizar. Não tem muito segredo, não existe o que ele vai falar ou o que eu vou falar. No fim das contas, quem entende do esporte sabe o que vai acontecer. É uma luta que ele, para ganhar, depende de umas coisas, e eu dependo de outras. Quem encaixar melhor, vai ganhar.

Demian Maia venceu Jorge Masvidal por decisão dividida (29-28, 28-29 e 29-28) (Foto: Jason Silva)Demian Maia venceu Jorge Masvidal em maio e já vai lutar no final de julho, e pelo cinturão (Foto: Jason Silva)

A oportunidade de se tornar campeão lembrou o lutador da primeira chance que teve de ser dono de um cinturão no UFC. Em 10 de abril de 2010, ele fez uma luta marcada pela polêmica contra Anderson Silva. O então campeão foi criticado pela forma pouco respeitosa com Demian, o provocando a todo o momento durante cinco rounds. Hoje, ele se vê buscando o título num contexto totalmente diferente, muito mais confiante.

- Naquela luta, eu era o azarão, era o cara que estava indo lá porque a primeira opção era o Sonnen, mas ele estava machucado, e a segunda era o Vítor, mas ele não podia. Fui e aceitei. Mas não tinha o nível competitivo ainda para ganhar do Anderson. Poderia ganhar, mas foi colocada na minha frente (a oportunidade), não foi construída como para essa luta. Agora, construí isso, sou o brasileiro com o maior número de vitórias, tenho sete vitórias seguidas, essa construção hoje me faz ter consciência que vou entrar nessa luta com 50% de chance, igual ao Woodley, meio a meio. Independentemente do que as pessoas achem, de bolsa de apostas, sei que a realidade é essa, Não vai ser fácil, mas não é tão difícil quanto se imagina. É uma luta exatamente 50% a 50%, e na luta do Anderson não era isso, o Anderson era claramente favorito. Por isso que é uma disputa de cinturão construída. Essa é a diferença.

Confira outros trechos da entrevista de Demian Maia:

Corte de peso em curto tempo

- Estou bem, no peso. Venho fazendo uma reeducação alimentar há alguns anos. Mesmo passando a luta e com todos os compromissos que tive, e comendo algumas besteiras, mantenho hoje em dia uma dieta que pretendo seguir para a vida. Não é uma dieta para a luta, como fazia antes. Isso me fez manter um peso adequado. Vi uma matéria interessante esses dias do Vice Sports e falaram muita coisa legal, a única coisa que erraram foi quando disseram que “foi uma sacanagem darem essa luta para o Demian com tão pouco tempo porque agora o camp dele vai ser muito mais concentrado em perda de peso que em treinamento”. Foi a única coisa que eles erraram, eles não sabem realmente. Estou com um bom peso. Se eu tivesse com o peso muito alto, seria um enorme problema com esse tempo. Esse é um problema a menos que a gente tem.

Momento melhor no meio-médio que no peso-médio

- O mais óbvio, que todos vão falar, é o peso, e que os caras são muito grandes (nos médios). Mas o principal não é isso, é a equipe que consegui montar. Quando baixei, o Edu (Alonso) virou meu “head coach”, alguns treinadores eu já tinha e outros a gente colocou, e continuamos juntos desde a primeira luta nos 77kg. O camp que o Edu monta é um trabalho excelente, que me faz chegar no ápice e tira o melhor de mim na parte que preciso, e o que ele conseguiu ver que as pessoas não veem, mesmo pessoas do jiu-jítsu. Me dão dicas que vejo que a pessoa não entende o que é lutar jiu-jítsu no MMA, mesmo o cara que viveu a vida inteira no jiu-jítsu, campeões mundiais. Você pensa: “Ele está pensando no caminho errado, não é dessa maneira que aplico o jiu-jítsu da melhor forma”. E o Edu, sem treinar jiu-jítsu, percebeu isso. A gente conseguir montar essa equipe e fazer esse tipo de treinamento por muitas lutas seguidas, essa constância foi me fazendo melhorar.

Demian Maia x Mark Muñoz ufc mma (Foto: Agência AP)Demian Maia em ação contra Mark Muñoz, no peso-médio, antes de descer de divisão. Nessa luta, acabou derrotado (Foto: Agência AP)

Estilo de luta atrapalha a venda dela?

- Acho que não, porque o St-Pierre vende para caramba. Esse é o maior exemplo, um dos maiores vendedores não fala m*** e a luta muita gente acha chata. Eu gosto, acho interessante ver uma luta estratégica, mas o grande público, em geral, acha (chata). Então, acho uma falácia falar que não vende... É óbvio que o cara falar um monte de m*** facilita vender, ainda mais para o tipo de público que temos no UFC, mas o cara tem que, primeiro, dar resultado esportivo. Você pega o Conor, que é o maior vendedor atual, e ele tem ótimos resultados esportivos. Ele foi colocado nas lutas certas pelo UFC e na hora certa. O UFC não colocou o Frankie Edgar contra ele, que é um antídoto, lá atrás. Aliás, (não colocou) até hoje, para não acabar com a carreira dele. O UFC não está errado, trabalhou o cara, não quis queimar. E ele, quando precisou demonstrar desempenho esportivo contra (José) Aldo e (Eddie) Alvarez, mostrou. Ele fala besteira, tem excelente desempenho e teve investimento de milhões do UFC. Não é tão simples como as pessoas pensam. E, por outro lado, tem um monte de campeões que não vendem. Dizem que o próprio Woodley não vende.

Porque a demora para lutar pelo cinturão?

- Acho que cai no gosto pessoal. Não sei de quem, mas lá de dentro (do UFC). No fim das contas, de repente o cara tem uma concepção... cai no gosto pessoal e na visão de mundo da pessoa. Ela acha que o americano é melhor para a empresa, tem a concepção que o jogo de porrada é melhor, mesmo que seja uma luta chata de porrada. Ela coloca na cabeça que o cara não vende e nem vai vender, “esse cara não funciona”. No fim das contas, por maior que seja a empresa e por mais profissional, sempre têm pessoas por trás que tomam decisões baseadas também em emoção, não só com a razão.

Última chance de disputar o cinturão?

- Isso é uma coisa relativa. Se for disputar e perder, a primeira coisa que vamos pensar é que é a última chance. Só que o mundo é tão maluco que daqui a pouco disputo o cinturão, aí tem outra disputa, um cara se machuca, outro se machuca, ganho mais uma luta e daqui a um ano estou disputando o cinturão de novo. Pode ser que os caras precisem. De repente, fiz uma luta boa, fiquei mais conhecido. Você não vai construir de novo aquelas sete lutas e chegar lá. O Tyron mesmo disputou duas lutas para disputar o cinturão.

Woodley e Demian (Foto: Reprodução / Instagram)Woodley brincou com Demian em evento do UFC, pouco antes de acertarem luta pelo título (Foto: Reprodução / Instagram)

Brincadeira com Woodley em foto

- Ele é muito forte. Já sabia, já tinha visto ele várias vezes. É bem volumoso, mas é baixo. Já tinha lutado no mesmo card dele, também nos encontramos algumas vezes, e lá foi no Summer (Kickoff Press) do UFC, eles reuniram todos os atletas e ele pediu para fazer essa brincadeira. Ele pediu ao (Dennis) Bermudez para filmar, e tudo certo. Foi legal, foi rápido. E ainda trocou ainda uma ideia comigo: “Vamos lutar em agosto”. Eu disse: “Prefiro lutar mais para frente. Entendo que para você é bom por causa de pay-per-view”. Ainda não tinha nada assinado. Ele disse: “Não, vai ser bom para você”. Eu ri e disse: “Depois a gente conversa...” (risos). Não ia discutir isso ali. Obviamente que para ele é mais interessante lutar com mais gente puxando o pay-per-view, ele sozinho não vai vender tanto como Jon Jones x Cormier.

Momento do Brasil no MMA

- Difícil falar o que vai acontecer com o MMA no Brasil. Não depende só do brasileiro, depende da direção do UFC querer ser mais plural e dar mais oportunidades para os brasileiros. Do mesmo jeito que estou disputando o cinturão agora, com muito esforço, poderia ter sido dada essa chance ao (Ronaldo) Jacaré há algum tempo. Depende muito do que a direção quer, manter um esporte mais americanizado, com mais campeões americanos, ou abrir para o mundo. Eles que vão ditar muito o que acontece. Não é um esporte só em que você é bom, tem que ter a oportunidade para chegar lá e disputar o cinturão.

Luta com Anderson Silva atrapalhou imagem?

- Isso pode ser. Não sei. Nunca conversei com o Dana (White) sobre isso, ele nunca falou sobre isso. Mas pode ser que sim.

Expectativa para luta com GSP e provocação de Woodley

- Na verdade, existe essa possibilidade, mas não há nada garantido. E mesmo se tivesse alguma coisa garantida, isso não pode ser nunca uma falta de concentração. E o que o Woodley fala, faz parte. Nenhum lutador se desconcentra (com provocação) porque a gente vive isso todo dia, estamos acostumados. Ele fala mais até como promoção da luta, ele sabe que não vai me desconcentrar por causa disso. O que pode desconcentrar é isso, você pensar numa luta depois. Ainda mais uma luta quer não é certa. Isso, toda vez que vem na minha cabeça, tento bloquear ou esquecer, porque isso sim pode atrapalhar.

No papel de campeão na defesa de um estilo

- Isso com certeza é o principal, como prazer pessoal, poder mostrar que tem outro caminho, que não só o caminho da porradaria. Mas acho que, mesmo como business, é importante você ter mais “Lyoto’s”, mais “Demian’s”, mais caras especialistas. Você consegue criar card’s mais interessantes. Hoje a gente vê o cara com uma personalidade diferente, mas o estilo de luta é muito parecido. O McGregor tem um boxe particular, um boxe meio amador, que é muito bem desenvolvido e interessante de ver. Independentemente de ser o McGregor ou não, é aquele boxe amador que sai, bate e volta, usa a envergadura. Ele não puxa esse marketing, de ser especialista, e isso é legal para o público, porque quando o cara faz muito bem uma coisa, você quer ver aquilo. Quando o cara é mediano em tudo, é interessante, mas acho que como business ainda é mais interessante quando o cara é muito bom em alguma coisa.

Demian Maia Neil Magny UFC Rio UFC 190 MMA (Foto: André Durão)Demian Maia fez de Neil Magny mais uma vítima do seu jiu-jítsu, com um mata-leão no UFC Rio (Foto: André Durão)

 

Nenhuma importância para ordem da luta

- O que me falaram é que a minha ia ser o co-main event, mas isso não faz diferença nenhuma. Essa vaidade eu não tenho, nenhuma, nenhuma. Já passou minha fase disso. Para mim tudo bem (ser ou não o co-luta principal), o que vou fazer? É uma pessoa que decide, não dá para eu me incomodar com o que uma pessoa pensa, ou ficar viajando nisso. Para mim está ótimo. Já vou ter um serviço grande que é ir lá e ganhar minha luta numa disputa de cinturão, é nisso que vou focar. Tanto faz se é uma luta antes ou uma luta depois, isso é muito pequeno perto de tudo o que está envolvido.

Disputa de cinturão aos 39 anos x 32 anos

- Estou bem melhor hoje em dia, é engraçado isso. Acho que é uma soma de fatores. Sou muito mais profissional hoje, tenho a consistência do ano após ano fazendo o negócio direito, e você vai evoluindo. Engraçado que não sinto meu corpo perder performance, isso até é uma coisa que me intriga. Sei que uma hora isso vem, e fico até observando meu corpo, mas não sinto perder performance ainda. Até brinquei que tem aquele filme do Benjamin Button (personagem que nasce idoso e rejuvenesce com o passar do tempo), e estou me sentindo assim. Independente de perder ou não essa luta, estou me sentindo melhor que há dois anos, isso é interessante. O treinamento também evoluiu, não só o nosso, mas de um modo geral. O ser humano vive mais. Hoje em dia, um cara de 40 anos é um cara novo, antigamente era um cara velho. Você vê muito mais atletas mais velhos competindo em alto rendimento. É uma evolução não só nossa do esporte, mas do ser humano como um todo.

Divulgação do jiu-jítsu

- Minha missão muito é essa, ficar divulgando o jiu-jítsu, tentando usar o UFC como plataforma. E dar suporte para as minhas academias afiliadas, para os meus alunos, tentar ter a parte de educação agregada com a parte de atleta. E eventualmente fazer algum trabalho com mídia, que acabo recebendo muitos convites. Até já fiz para a Globo duas vezes, e fui convidado para fazer no dia do Aldo agora (no UFC Rio 8), mas estava em Los Angeles e não podia. Tentei até desmarcar para vir, porque sei da importância que é. A Globo faz quatro ou cinco eventos por ano, então dá para fazer. Não dá para fazer algo constante, toda semana. Nem é que não dá, mas vou me arrumar mais sarna para me coçar.

Aposentadoria

- Não tenho um plano certo. Tenho muito de perceber quando o corpo começar a cair, ou mesmo que o corpo continue mas a vontade não seja mais a mesma. Adoro ir todo dia para a academia treinar, para mim é divertido, mesmo com frio vou feliz treinar. Até brinco com meus filhos perguntando se eles já viram algum pai ir de bermuda e mochila trabalhar. Eles vão brincar, vou brincar, e eles dão risada. Eu acho que mais dois anos (para parar), não sei... Se conseguir manter mais dois anos em alto rendimento, vou estar mais feliz e mais tranquilo financeiramente para parar.

UFC 214
29 de julho, em Anaheim (EUA)
CARD DO EVENTO (até o momento):
Peso-meio-pesado: Daniel Cormier x Jon Jones
Peso-pena: Cris Cyborg x Tonya Evinger
Peso-meio-médio: Tyron Woodley x Demian Maia
Peso-meio-médio: Robbie Lawler x Donald Cerrone
Peso-casado (63,5kg): Aljamain Sterling x Renan Barão *
Peso-meio-pesado: Jimi Manuwa x Volkan Oezdemir
Peso-pena: Ricardo Lamas x Jason Knight
Peso-pena: Andre Fili x Adversário a ser definido
Peso-leve: Sage Northcutt x John Makdessi
peso-palha: Kailin Curran x Alexandra Albu
Peso-leve: Josh Burkman x Drew Dober
Peso-mosca: Eric Shelton x Jarred Brooks
Peso-pesado: Dmitri Smoliakov x Adam Wieczorkowski
Peso-pena: Renato Moicano x Brian Ortega