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Sidrolandia

Fed anuncia redução de estímulos e mantém taxa de juros inalterada

Última vez que o órgão elevou os juros foi no dia 14 de junho, pela segunda vez no ano.

G1

20 de Setembro de 2017 - 14:12

Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira (20) que vai dar início, a partir de outubro, a uma redução gradual do programa de estímulo à economia. O Fed vai reduzir sua carteira de títulos do Tesouro e hipotecário, que foi ampliada após a crise de 2008 para injetar dinheiro na economia americana. O órgão também decidiu manter a taxa de juros do país entre 1% e 1,25% ao ano.

No comunicado divulgado após o término da reunião, o Fed diz que desde o último encontro em julho, quando também decidiu manter as taxas de juros inalteradas, "o mercado de trabalho continuou a se fortalecer e a atividade econômica tem aumentado moderadamente até agora neste ano". A última vez que o órgão elevou os juros foi no dia 14 de junho, pela segunda vez no ano.

O informe também apontou que o órgão seguirá monitorando sinais de recuperação da economia para definir o rumo das taxas de juros. É esperada mais uma elevação ainda neste ano.

Títulos

O Fed anunciou também que vai começar a reduzir sua carteira de títulos com lastro em hipotecas e do Tesouro. A medida já era esperada pelo mercado.

O país acumulou o volume alto de dívida em títulos durante o programa de estímulo monetário lançado em 2008. A carteira de títulos do Fed passou de US$ 1 trilhão em 2008 para US$ 4,5 trilhões atualmente.

O aumento foi feito para enfrentar a chamada crise do subprime nos Estados Unidos, iniciada após o estouro da bolha imobiliária em 2008. Isso aconteceu porque, com os juros baixos, os bancos concederam crédito imobiliário a clientes com histórico de maus pagadores para conseguir taxas maiores, no segmento chamado subprime. Os bancos, por sua vez, venderam essas carteiras de crédito para investidores do mercado financeiro. Quando os juros voltaram a subir, a inadimplência aumentou e a bolha estourou. O valor dos imóveis não cobria as dívidas e o mercado financeiro reagiu de maneira caótica. Um dos pontos mais críticos foi a queda do banco americano Lehman Brothers, em setembro de 2008.

Para sair da crise, o pacote de estímulo dos EUA previa a injeção de dinheiro na economia por meio da compra de títulos do Tesouro e hipotecários pelo Fed. Foi nesse contexto que o banco central dos EUA acumulou uma carteira elevada de títulos.

Como funciona o programa de estímulo que o Fed irá reduzir

Os papéis que sofrerão a redução são títulos do Tesouro norte-americano (que funcionam para o investidor de maneira semelhante aos brasileiros) e os que possuem lastro em hipotecas - ou seja, operações em que uma pessoa oferece um imóvel como garantia para tomar crédito.

O governo iniciou uma operação grande de compra de títulos em 2008 para estimular a economia. "Quando o governo compra títulos para injetar dinheiro na economia, no fundo, o que ele está fazendo é botar dinheiro para rodar. O que ele quer com isso é estimular as pessoas a consumirem", explica o economista Pedro Coelho Afonso, chefe de operações da Gradual Investimentos.

A medida acaba interferindo na taxa de juros, que ganha uma tendência de alta com o aumento da quantidade de dinheiro em circulação.

Com o início da redução dos estímulos, o recado que o Fed passa ao mercado é que a avaliação é de que a economia não necessita mais de injeção de recursos, enquanto a taxa de juros se aproxima de um patamar considerado adequado.

"O que o Fed está querendo dizer é: 'olha, mercado, eu não vou mais injetar tanto dinheiro na economia e os juros estão indo para o patamar adequado'", simplifica Afonso.

Efeitos para o Brasil

Os mercados em outros locais, incluindo o Brasil, monitoram pistas sobre o rumo da taxa de juros nos Estados Unidos porque, com taxas mais altas, o país se tornaria mais atraente para investidores. Eles poderiam retirar seus dólares aplicados atualmente em outros mercados para investir nos EUA.

Um aumento das taxas nos EUA, então, poderia motivar uma tendência de alta do dólar em relação ao real e um aumento da Taxa Selic no Brasil, como forma de tornar o país mais vantajoso para os investidores. Com a indicação de que os juros nos Estados Unidos não devem continuar subindo, então, a tendência seria contrária.

Afonso aponta, no entanto, que a questão pode ser interpretada como um "dilema" para o Brasil, que iniciou no final de 2016 um movimento de redução da taxa básica de juros. "A taxa de juros ótima, ou seja, boa o suficiente para movimentar a economia local e ao mesmo tempo não afugentar o investidor estrangeiro, é muito difícil de ser encontrada."

No entanto, os efeitos para o Brasil do anúncio desta quarta devem ser mínimos, pois tanto a redução do programa de estímulo quanto a indicação de alta dos juros já estavam preficicadas pelo mercado, como aponta Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

"As consequências que eu imagino para economia brasileira, particularmente, são mínimas", diz Silveira.

"Como os diretores do Fed vêm anunciando repetidamente o que vão fazer há muito tempo, a gente pode acreditar que os preços atuais já refletem esse comportamento. O nível das bolsas já reflete a redução dos juros e da quantidade de moeda em circulação, o preço do dólar em relação a outras moedas também, os juros de títulos do Tesouro também", explica o economista.