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Sidrolandia

Rachado, PMDB apoia Dilma e namora Serra ao mesmo tempo

O presidente do PMDB, Michel Temer, diz: “o partido fez sua parte. A aliança se consolida com a indicação para a vice-presidência”.

Redação Notícias

10 de Abril de 2010 - 10:43

 Temer tenta controlar as disputas internas de seu partido até as eleições presidenciais de outubro. Já fechou acordo para indicar o nome de um vice, em troca do apoio partidário para a sucessão presidencial. Parte do próprio PMDB, porém, deseja dar suporte a outro nome. Entre os dissidentes, estão Roberto Requião e Orestes Quércia. Mesmo a disputa para a vaga de vice deixou cizânias internas.

O cenário poderia se aplicar a 2010. Mas são todos extraídos da negociação envolvendo o partido em 2002. Os peemedebistas mudaram de lado, mas não de rotina. De novo, chegam fissurados para uma disputa presidencial, na qual não terão candidato próprio.
 
Oito anos atrás, parte do PMDB integrava a sustentação política do então presidente Fernando Henrique Cardoso e apoiou o candidato da situação, José Serra (PSDB). A escolhida para compor a chapa foi Rita Camata, após uma disputa interna com Pedro Simon. Requião e Quércia, que dominavam suas bases no Paraná e em São Paulo, colocaram-se contra o apoio a Serra e subiram no palanque do então oposicionista Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao final da eleição, o PSDB foi derrotado. E o PMDB começou a negociar com os petistas, por meio de José Dirceu, uma participação no governo Lula em troca de apoio no Congresso.

Hoje, o PMDB apóia Dilma Rousseff (candidata do PT e de Lula) contra José Serra. Mas não, de novo, de maneira unânime. Quércia irá apoiar o tucano em São Paulo. Requião até se lançou como pré-candidato do partido, numa postura contra o que classificou de “alinhamento automático”. Enquanto isso, o presidente da legenda, Michel Temer, tenta se colocar como nome do partido para a vaga de vice. Já teve que tirar da disputa o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, recentemente convertido ao partido.

Esse é o retrato do PMDB, uma sigla que aglomera diferentes correntes e tendências, não tem um plano de poder definido, nem uma linha de atuação ajustada, com interesses regionais organizados em torno de caciques locais. E que deve, segundo os dois lados, fazer parte do próximo governo, seja ele de petistas ou de tucanos.

“O fato de o PMDB fazer um acordo não significa que todo o partido irá cumpri-lo. Apesar do apoio oficial a Dilma, Serra deve conseguir levar pelo menos um terço do partido para sua campanha”, diz o cientista político e professor Ricardo Caldas.

Números e história ajudam a entender o apreço dos partidos pelo PMDB. E do PMDB pelo poder. Atualmente, o partido tem oito governadores. Eram sete na posse em janeiro de 2007. Contam ainda com 91 deputados federais, 17 senadores, 172 deputados estaduais, 1.201 prefeitos (sendo 6 de capitais), 910 vices e 8.497 vereadores.

No Congresso, desde o fim do regime militar o partido tem o comando de pelo menos uma das duas Casas. Entre 1985 e 1993, comandou ao mesmo tempo a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Essa situação se repete desde 2009, com Michel Temer e José Sarney, respectivamente. Quando presidente, Sarney era um dos alvos presidenciais do então oposicionista Lula, em 1989. No ano passado, acuado por denúncias de corrupção, Sarney teve Lula como um de seus principais defensores.

Dificilmente um presidente conseguiria aprovar seus projetos sem o apoio do PMDB, partido tradicionalmente dono de grandes bancadas. Esse não é um fenômeno novo. Desde 1990, houve cinco eleições para a Câmara e cinco para o Senado. O PMDB fez o maior número de deputados em três delas _foi ultrapassado pelo PFL (hoje DEM) e pelo PSDB em 1998 e pelo PT e PFL em 2002. Sempre esteve na dianteira no Senado.

Em 2003, o presidente Lula desautorizou negociações para que o PMDB compusesse a sua base de apoio no Congresso. O governo federal passou a ter dificuldades para aprovar projetos, principalmente mudanças constitucionais, que requerem maioria de dois terços dos votos. Para atrair os deputados é que o governo teria se utilizado do chamado esquema do mensalão _distribuição de recursos para partidos aliados_, ocasionando depois a maior crise política vivenciada por Lula.

No seu segundo mandato, o petista abraçou os peemedebistas com cargos executivos, recebendo apoio parlamentar em troca. Até março, o PMDB comandava diversas estatais no setor de energia e de petróleo, além dos Ministérios da Integração Nacional, de Minas e Energia, das Comunicações, da Agricultura, da Saúde e da Defesa. Desses, quatro ministros deixaram o cargo para concorrer nas eleições deste ano. Estima-se que o partido controlava um orçamento de R$ 251 bilhões na máquina federal _mais do que o PIB (Produto Interno Bruto) da Argentina.

Apesar disso, o partido reclamou publicamente, alegando que a participação no governo não era condizente com o apoio dado pelos peemedebistas, pois pelo menos dois ministros estavam no posto por serem da cota pessoal do presidente Lula e não para contemplar a legenda: Nelson Jobim (Defesa) e José Gomes Temporão (Saúde).