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Wilson Aquino

Adeus, Luiz Roberto da Costa!

Wilson Aquino

03 de Novembro de 2020 - 14:10

A perda de um ente querido, parente ou não, é sempre um impacto. Por mais que saibamos que a morte faz parte da vida e que a vida não termina com a morte, porque é eterna, torna-se muito difícil aceitar o fato de que não mais veremos, neste plano, aqueles que amamos e que faziam parte de nossa rotina.

A perda recente que inspirou a presente reflexão foi a de Luiz Roberto da Costa, o “Seu” Roberto, meu vizinho. Não era um simples vizinho, pois fazia parte do nosso convívio no entorno de nosso lar. Aposentado da carreira militar, com mais de 70 anos, procurava viver bem e em harmonia com todos no seu dia a dia, sempre alegre, de voz mansa e otimista.

Adorava sua varanda no primeiro andar de nosso prédio. Eu, no terceiro e último do mesmo bloco. Era ali que ele passava boa parte do dia, sempre lendo, mantendo-se em dia com os noticiários dos impressos, que saia para comprar todas as manhãs. Também era ali com quem sempre estava a conversar com sua inseparável amada e companheira Sônia. Suas conversas eram longas e pareciam muito agradáveis. Era ali também que gostava de receber as visitas, inclusive filhos e netos.

Sempre bem-humorado e brincalhão, quando me via saindo para o trabalho, numa “segundona” por exemplo, ele, lá do alto perguntava:

- Wilson, pode me dizer que dia é hoje?

- É sábado ou domingo? Completava. Depois de lhe “tirar a dúvida”, ele ainda dizia: - Achei que hoje era sábado!  Eu repetia a ele  dizendo que um dia eu também desfrutaria daquele privilégio que só uma merecida aposentadoria permitia. Dava uma pequena gargalhada e me desejava abençoado dia.

Também era um grande apreciador de meus artigos publicados semanalmente neste prestigioso Jornal O Estado MS todo domingo, há mais de ano. Sobre as mensagens que escrevo, sempre alicerçadas nos bons princípios morais e espirituais, ele era um grande incentivador. Comentava os temas abordados, colocando seu ponto de vista sobre eles.

Entristece saber que ao sair e ao retornar para casa não mais o vejo no seu cantinho da varanda ao lado de sua amada Sônia.

“Seu” Roberto também amava a praia e ao longo da vida, conheceu quase todas elas do Brasil. Saia com Sônia, uma ou duas vezes por ano para passear. Contava que gostava de ficar longas horas de frente ao mar. Certamente relembrando fatos e feitos de sua longa jornada de vida. Chegava sempre cheio de histórias para contar.

O amigo deixa os filhos Elaine, Cleyson e Wanessa e três netos, responsáveis agora por levar adiante seu nome, seu legado.

Toda perda humana nos faz refletir e ver quão frágeis somos. Diante do corpo inerte do amigo, vi com mais clareza as fraquezas humanas.

Vi e refleti sobre como existem pessoas que desprezam a própria vida com futilidades; o próprio sangue quando cultiva e remói ódios e intrigas por toda uma vida, contra membros da própria família;

Como são duros de espírito e coração. Incapazes de perdoar, mesmo sabendo que ao fazê-lo, é ele próprio o maior beneficiário, pois retira do lombo, pesada carga;

Quão tolos e injustos são, que muitas vezes passam uma vida inteira sem entender e enxergar que o maior e verdadeiro sentido da vida é de fato amar e ajudar o próximo como a nós mesmos, como o próprio Senhor nos ensina por intermédio das Escrituras Sagradas.

Felizes aqueles que entendem a profundidade desse que é o segundo maior de todos os mandamentos e ensinamentos que Ele nos deixou para que, agindo assim, encontrássemos a felicidade plena neste plano de vida.

Então, depois de vagar também na imensidão das palavras carinhosas e amáveis proferidas pela filha Elaine, na despedida do pai, pouco antes de seu sepultamento, voltei à realidade e segui o meu caminho após garantir o armazenamento na memória e no coração, aquelas últimas lembranças gravadas naquele instante em torno do amigo que se foi.

 *Jornalista e Professor