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Expresse (mais) seus sentimentos

Artigo por Wilson Aquino

Wilson Aquino

29 de Janeiro de 2019 - 16:12

Quando perdi minha mãe em 81, vítima de um câncer com apenas 46 anos de idade, fui tomado por um profundo sentimento de remorso, de arrependimento por não ter dito mais o quanto a amava; o quanto era importante para mim. Me dei conta de que meus atos e ações e as poucas e curtas frases e palavras proferidas durante sua vida não bastaram para demonstrar meus reais e grandes sentimentos de amor e gratidão. Deveria sim ter dito muito mais.

Pude corrigir isso, de imediato, com meu querido pai a quem pude abraçar mais e dizer, sempre que podia, olhando nos seus olhos, o quanto lhe era grato pela vida! Pela (rígida) educação que recebera e, por fim, o quanto o amava incondicionalmente. Quando o perdi em 96 aos 66 anos de idade, também para o câncer, não tive mais aquele remorso, pois havia demonstrado e dito tudo o que devia.

Essas duas grandes perdas me tornaram ainda mais sensível aos problemas familiares, conjugais e sociais. Hoje vejo que a falta de maior expressão de sentimentos entre marido e mulher; pais e filhos e até nas amizades é um grande problema para as pessoas, que pelos motivos mais diversos, não contam como um é importante para a vida do outro. Não enaltecem suas qualidades. As pessoas têm dificuldade de serem francas, autênticas e verdadeiras em relação a sentimentos. Não conseguem dizer em público ou pessoalmente o quanto ama sua esposa, seu marido, seu filho,  sua filha.

E nem de longe valem aquelas postagens nas redes sociais, como no Dia das Mães, quando surgem centenas de fotografias de mães com os filhos dizendo que aquelas ali são os amores de sua vida. Escrevem essas frases clichês, mas poucos têm a coragem de fazê-lo olhando nos olhos e conversando sobre esses poderosos sentimentos. Há  aqueles ainda ousam escrever “mamis” ou “papis” para se referirem a mamãe e papai. Me perdoem, mas esses termos mais parecem abreviações pejorativas desses sagrados seres: “Hoje é aniversário de mamis”, lamentável esse termo.

Escrever verdadeiras cartas com sinceridade, expressando seus reais sentimentos pelo pai, mãe, cônjuge, filhos... também é muito importante.

Um grande amigo, que também perdeu a mãe, recentemente me chamou para compartilhar uma carta que ela lhe deixara. Ao longo das quatro folhas   escritas  ela contou o quanto o amava e que partia com o sentimento do dever cumprido, de gerar, amamentar, alimentar e educar seus três filhos e por saber que todos eles, já adultos, seguiam o bom caminho deixado por Deus para que todos nós pudéssemos encontra-lo e segui-lo.

No meio da carta, uma surpresa, ela contou e devolveu ao filho uma carta que ele lhe escreveu quando menino diante de seu leito quando estava enferma. O amigo também me mostrou esse ‘documento” em que expressou seu temor pela saúde de sua mãe e sobre o quanto rogava a Deus para mantê-la entre eles, porque ela era a base de sustentação da família. Falava também do profundo e grande amor que tinha por ela, pessoa que estava sempre pronta para amparar, ajudar, socorrer, orientar todos aqueles ao seu redor. Crianças ou adultos. Eram palavras de uma criança, tão verdadeiras e poderosas, que sua mãe guardou-as como um tesouro e que lhe deram muita força para ser perseverante na vida até que pudesse plenamente educar e formar seus filhos.

Agora, o amigo disse, era a vez dele guardar aquelas palavras da mãe, aquele documento especial que já vinha produzindo seu efeito, de alicerça-lo para enfrentar toda e qualquer dificuldade na vida até que pudesse fazer o mesmo com os seus filhos pequeninos, até estarem prontos para trilharem sozinhos o caminho da vida.

E para que ninguém duvide de quão é importante expressar plenamente nossos sentimentos, quer olhando nos olhos (do cônjuge, do filho...) proferindo palavras que vêm do coração ou escrevendo, medindo o peso e a importância de cada palavra, presto meu testemunho de que em casa, toda carta ou bilhetinho que escrevo para minha querida esposa, ela os guarda como verdadeiros tesouros e nosso relacionamento se fortalece e nos alicerça para enfrentarmos juntos as turbulências do mundo.

*Jornalista e professor