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O país dos "sem-previdência", Fernando Paro
Quase metade dos habitantes do país não possui qualquer tipo de previdência; a partir de 2035, teto da aposentadoria pública será de apenas três salários mínimos.
Fernando Paro
19 de Julho de 2013 - 14:08
O histórico de mau poupador do brasileiro se tornou uma ameaça ao sonho da aposentadoria tranquila. Quase metade dos brasileiros - 48% - não faz nenhum tipo de contribuição para quando deixar o mercado de trabalho e 42% recolhem apenas para o INSS, segundo o indicador da Serasa Experian de Educação Financeira do Consumidor, lançado no início deste mês. Os conscientes e precavidos, que além da previdência social também contribuem para planos de previdência privada, somam 5% - outros 2% têm apenas previdência privada e 3% não souberam responder.
Em um país que envelhece
no dobro da velocidade que foi observada nos Estados Unidos, esses dados são
extremamente preocupantes, afirma o especialista em previdência Renato
Follador. A origem do problema, segundo ele, é a conhecida falta de educação
financeira e previdenciária do brasileiro, que leva à incapacidade de pensar e
planejar o futuro. "O maior crime em relação à velhice das pessoas é não
orientá-las sobre a necessidade de guardar dinheiro. Qualquer governo com visão
estratégica deveria educar sua população para o futuro", diz.
Diante do aumento da expectativa de vida dos brasileiros, o risco de faltar
dinheiro para a aposentadoria por conta da falta planejamento é cada vez maior.
Muitas pessoas ignoram essa possibilidade ao longo da vida e se veem obrigadas
a continuar trabalhando, mesmo na velhice. Hoje, de cada três pessoas que se
aposentam, duas permanecem no mercado de trabalho para poder manter o mesmo
padrão de vida, afirma Follador.
Segundo o professor de
Finanças da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Picolli, a idade
limite para aderir a um plano de previdência privada a tempo de garantir uma
boa reserva para a aposentadoria é com 40 anos. A partir daí, a única solução é
promover uma mudança no padrão de vida, diminuindo os gastos e aumentando os
aportes mensais.
"Das três variáveis de um investimento - valor, tempo de investimento e
remuneração -, o tempo é o que proporciona o melhor resultado. Entre poupar o
dobro ou contribuir o dobro do tempo a segunda opção é sempre a mais
recomendada, porque a regra dos juros compostos joga a favor de quem poupa mais
tempo e não de quem poupa mais ou tem remuneração melhor", explica
Picolli.
De acordo com
especialistas, a exemplo do que já ocorreu em outros países, o Instituto
Nacional de Seguridade Social (INSS) vai ter muita dificuldade para manter o
atual padrão de aposentadoria no Brasil e, em hipótese alguma, terá condições
de melhorar a previdência social. De 20 salários mínimos na década de 1970, o
teto da aposentadoria caiu para os atuais 6,1. "Daqui a oito anos, quem se
aposentar com a atual política de aumento do salário mínimo terá direito a
cinco salários mínimos. Em 2035, o teto cairá para três salários mínimos, o que
deve corresponder a R$ 2.034", projeta o especialista em previdência.
Rentabilidade depende de revisão anual
Não existe milagre quando se trata de investimento em previdência privada, dizem os especialistas. A lógica é clara: quanto maior o tempo de investimento, menor é o montante a ser aplicado. Por outro lado, quem tem pouco tempo para poupar precisa desembolsar mais. Mesmo quem já possui investimentos dessa natureza não deve descuidar, achando que o futuro está garantido.
Esse é um erro que pode custar caro, afirma o superintendente comercial da seguradora Mongeral Aegon, Ednei Cesar de Andrade. Segundo ele, é importante que o investidor acompanhe de perto as mudanças e oscilações do mercado e faça uma revisão anual do seu plano de previdência privada.
"Investidor com
perfil estático tende a perder boas oportunidades, principalmente porque as
modalidades de investimentos são bastante flexíveis e permitem trocas de planos
para obter melhores rendimentos.", diz Andrade. Há cerca de três anos,
alguns planos de previdência privada projetavam rentabilidade de 10% a 12% ao
ano. Hoje o cenário é outro e a rentabilidade oscila entre 6% e 7%, considerando
a soma de aplicações em renda fixa e variável, como as ações da Bolsa de
Valores, explica Andrade.
Opções
Diante desse cenário, a saída é pagar mais para manter a projeção futura de retirada do investimento ou diversificar as aplicações. "Existem bons produtos no mercado, mas é preciso pesquisar. Uma boa alternativa para investimento em aposentadoria é o Tesouro Direto", afirma o professor de Finanças da UFPR, Pedro Piccoli.
Segundo ele, os juros que o governo paga para títulos do governo são altos e vantajosos. Além disso, investidores com apetite para o risco não devem deixar de considerar o mercado de ações. A poupança, segundo Piccoli, não é um bom negócio. "A única vantagem da poupança é a questão da liquidez, que não importa muito em investimentos de longo prazo como para a aposentadoria".
Segundo Piccoli, o investidor deve ficar muito atento às taxas de administração e carregamento de alguns fundos de previdência. Em muitos casos esses custos são tão altos que comprometem a rentabilidade do investimento.