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Economia

Produção industrial termina 2º trimestre seguido no vermelho

Na passagem de maio para junho, maioria das grandes categorias econômicas das 26 atividades investigadas sofreram queda na produção.

G1

03 de Agosto de 2021 - 08:45

Produção industrial termina 2º trimestre seguido no vermelho
Indústria Automotiva registrou a queda — Foto: Shutterstock

A produção industrial brasileira ficou estagnada em junho, com variação nula, de 0,0%, na comparação com maio, quando havia avançado 1,4%. Com esse resultado, o setor completou dois trimestres seguidos de queda. É o que apontam os dados divulgados nesta terça-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Com essa variação nula em junho, o setor permanece no patamar pré-crise, mas no resultado desse mês observa-se uma predominância de taxas negativas entre as atividades industriais”, apontou o gerente da pesquisa, André Macedo.

Indústria registra variação nula em junho — Foto: Economia/G1

Indústria registra variação nula em junho — Foto: Economia/G1

Segundo o pesquisador, ao se manter no patamar de fevereiro de 2020, antes do início da pandemia, a indústria opera em nível semelhante ao que era observado em fevereiro de 2009. Isso equivale a dizer que o setor se encontra 16,7% abaixo de seu ponto mais alto, alcançado em maio de 2011.

Em janeiro deste ano, quando a indústria acumulava nove taxas positivas seguidas, a distância do patamar em relação ao ponto mais alto da série era de 13,8%. "Isso dimensiona a perda de ritmo do setor ao longo deste ano", destacou Macedo.

Embora o resultado do setor industrial como um todo ter sido de estagnação, três das quatro grandes categorias econômicas e 14 das 26 atividades investigadas pelo IBGE registraram queda na produção no mês.

Dois trimestres seguidos de queda

Diante destes resultados, o setor industrial fechou o segundo trimestre do ano com queda de 2,5% na comparação com o primeiro trimestre. Foi a segunda taxa trimestral negativa seguida nesta base de comparação (trimestre contra trimestre imediatamente anterior).

Indústria tem queda na produção pelo segundo trimestre consecutivo — Foto: Economia/G1

Indústria tem queda na produção pelo segundo trimestre consecutivo — Foto: Economia/G1

Taxas altas frente base de comparação baixa

Já na comparação com junho de 2020, a indústria registrou crescimento de 12%, a 10ª décima taxa positiva consecutiva nesta base de comparação. Já o resultado do 2º trimestre na comparação com igual trimestre do ano passado foi de alta de 22,6%, acumulando alta de 12,9% no semestre na comparação com o segundo semestre do ano passado.

Também foi registrado novo avanço do indicador acumulado em 12 meses, que passou de 4,9% em maio para 6,6%, o que demonstra manutenção do ritmo de retomada do crescimento da produção industrial iniciada em agosto do ano passado, quando apresentava queda de 5,7%.

Indicador acumulado em 12 meses mantém trajetória de recuperação iniciada em agosto do ano passado — Foto: Economia/G1

Indicador acumulado em 12 meses mantém trajetória de recuperação iniciada em agosto do ano passado — Foto: Economia/G1

O gerente da pesquisa ponderou que a alta taxa acumulada em 12 meses "acontece diante de uma base de comparação muito depreciada". Ele lembrou que no primeiro semestre de 2020 o setor acumulou perda de 10,9%.

"A magnitude de crescimento [do acumulado em 12 meses] de dois dígitos está associada ao fato de que o setor industrial, por conta da pandemia de Covid-19, mostrou perdas importantes naquele período”, disse.

Efeitos da pandemia prejudicam o setor

De acordo com o gerente da pesquisa, o menor dinamismo do setor industrial está relacionado aos efeitos da pandemia de Covid-19 no processo de produção e na economia.

“Há, no setor industrial, uma série de adversidades por conta da necessidade das medidas de restrição, como a redução do ritmo produtivo, a dificuldade de obtenção de matérias-primas e o aumento dos custos de produção", apontou Macedo.

O pesquisador enfatizou que também pesam negativamente sobre a indústria a o alto desemprego no país, que compromete a massa salarial e impacta no consumo.

Disseminação de resultados negativos

Na passagem de maio para junho, houve disseminação de resultados negativos entre a maioria das grandes categorias econômicas e das atividades investigadas pelo IBGE.

Das quatro grandes categorias econômicas, apenas bens de capital registrou avanço na produção. Foi a terceira taxa positiva nessa comparação, acumulando crescimento de 5,9% nesse período. Já a queda mais acentuada foi observada em bens de consumo semi e não duráveis, eliminando parte do avanço de 3,6% registrado no mês anterior, quando interrompeu três meses seguidos de queda, período em que acumulou redução de 11,5%.

Resultados de junho por grande categoria:

  • Bens de capital: 1,4%
  • Bens de consumo: -0,9%
  • Bens de consumo semiduráveis e não duráveis: -1,3%
  • Bens intermediários: -0,6%
  • Bens de consumo duráveis: -0,6%

Já entre as 26 atividades investigadas, 14 registraram queda na produção em junho. A perda mais relevante foi a de veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,8%), que voltou a recuar após crescer nos meses de abril (1,6%) e maio (0,3%).

Também se destacaram negativamente as atividades de celulose, papel e produtos de papel (-5,3%), que teve a terceira taxa negativa seguida, acumulando perda de 8,4% no período; e a de produtos alimentícios (-1,3%), cujo resultado eliminou parte do avanço de 2,9% registrado em maio.

Outras contribuições negativas importantes partiram de produtos de metal (-2,9%), indústrias extrativas (-0,7%), produtos diversos (-5,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,5%), móveis (-5,2%) e outros produtos químicos (-0,8%).

Já entre as 11 atividades que registraram crescimento na produção, o principal destaque ficou com a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (4,1%), que já havia crescido 2,7% no mês anterior.

Também se destacaram as atividades de máquinas e equipamentos (2,9%), de outros equipamentos de transporte (11,0%), de couro, artigos para viagem e calçados (6,0%) e de impressão e reprodução de gravações (12,3%).

Perspectivas

Em julho, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) subiu 0,8 ponto, para 108,4 pontos, segundo a Fundação Getulio Vargas. Esta foi a terceira alta seguida do indicador, que atingiu o maior patamar desde janeiro, quando ficou em 111,3.

Apesar da melhora, o otimismo dos empresários em relação aos próximos meses desacelerou, influenciado pela escassez de insumos e pela possibilidade de racionamento energético no país, além da alta incerteza econômica em relação ao segundo semestre do ano.

A despeito das incertezas, o mercado financeiro elevou, mais uma vez, a estimativa de crescimento da economia em 2021. Conforme o relatório Focus, divulgado nesta segunda-feira (2) pelo Banco Central, a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi revisada de 5,05% para 5,30%.

Os analistas do mercado financeiro também elevaram de 6,36% para 6,38% a expectativa de crescimento da produção industrial este ano. Se a projeção se confirmar, o setor terá o primeiro resultado anual positivo após dois anos seguidos de queda - em 2020, a indústria brasileira registrou um tombo de 4,5%, depois de ter recuado 1,1% em 2019.

Economistas têm destacado que uma recuperação mais consistente do mercado de trabalho só deverá ser mais visível a partir o segundo semestre, e condicionada ao avanço da vacinação e também à retomada do setor de serviços – o que mais emprega no país e o mais afetado pelas medidas de restrição para conter o coronavírus.