Esporte
A vez delas? Mulheres são cotadas para a Fifa, e personalidades opinam
Marta, cinco vezes melhor do mundo, acredita que avaliação não deve estar ligada ao gênero. Isha Johansen e Lydia Nsekera são os nomes ventilados para cargo de Blatter
Globo Esporte
15 de Junho de 2015 - 08:53
Tão logo Joseph Blatter anunciou que deixaria o cargo para a realização de novas eleições para a presidência da Fifa, alguns nomes começaram a ser especulados como possíveis candidatos. Na lista de cotados, apareceram duas mulheres: Isha Johansen, presidente da Federação de futebol de Serra Leoa, e Lydia Nsekera, que integra o comitê executivo da entidade e já esteve à frente da Federação de futebol do Burundi. Mas será que o momento é o propício para que uma mulher tome conta da organização que comanda o futebol mundial? Marta, cinco vezes melhor do mundo e capitã da seleção brasileira feminina, acredita que não é correto pensar que colocando alguém do sexo oposto os problemas serão extintos e tudo voltará aos trilhos. Para ela, independentemente do gênero, há que se ter alguém íntegro no poder.
- Eu acredito que o momento não é de imaginar que uma mulher vá entrar e tentar fazer melhor que um homem. Independentemente do sexo, de ser homem ou mulher, acredito que a pessoa que entrar para ser um presidente de uma entidade que movimenta o maior esporte mundialmente, tem que ser uma pessoa íntegra, uma pessoa que tenha dignidade de fazer com que a modalidade cresça realmente e dê continuidade a um trabalho produtivo e que enfim no final de tudo quem tem a ganhar é a modalidade. Essa é a torcida. Independentemente de ser homem ou mulher, eu acredito que tenha que ser uma pessoa que tenha capacidade e integridade de comandar a entidade tão importante no esporte - afirmou Marta.
Nair Ackermann, presidente do conselho feminino da Associação Uruguaia de futebol, citou outras duas mulheres que fazem parte do comitê executivo da Fifa - Moya Dodd e Sonia Ben Amie - e lembrou que a organização está sim dando maior valor à participação feminina. O exemplo é o fortalecimento do futebol da modalidade. Ela comenta que também está sendo organizado o primeiro Mundial de Clubes feminino. Experiência não seria o problema para o cargo.
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Estão dando passos muito importantes à integração das mulheres no no Executivo
da Fifa. Hoje são três: Lydia Nsekera, Moya Dodd e Sonia Ben Amie. E
viu-se um avanço muito interessante em todo o futebol como a criação dos
10 princípios do futebol feminino. Também as comissões permanentes integradas
por mulheres para os Mundiais sub-17 e sub-20 e principal. Trabalha-se para
conseguir maior desenvolvimento do futebol feminino e ações que o fortaleçam.
Hoje se está trabalhando para o primeiro Mundial de Clubes feminino e isso
daria uma parcela de igualdade no futebol como um todo. Estes passos não são
acompanhados nas Confederações, pois observemos a Conmebol e sinto que se pode
construir algo mais com mulheres e homens muito valiosos que estão na América.
Marco Aurélio Cunha, hoje diretor de futebol feminino da CBF, coloca que não é o momento de uma mulher assumir a presidência. Para ele, elas precisam de um pouco mais de vivência no esporte. O dirigente acredita uma divisão de comando dentro da Fifa entre futebol feminino e masculino poderia ajudar.
- Eu acho que toda mudança deve ser muito bem analisada. Mudanças por procedimentos éticos e mudanças radicais demais, são difíceis. Eu acho que ainda não chegou a hora de ter uma presidente mulher na Fifa. Nós estamos saindo de uma transição de presidentes longevos, que ficaram muito tempo, mas realmente é necessário dar o cargo a quem seja muito experiente em futebol. Eu ainda não acho que as mulheres para uma liga internacional do tamanho da Fifa acho precipitado. Gostaria que houvesse talvez divisão entre o futebol feminino e masculino e uma presidente feminina do futebol feminino. Não no global. No global é um erro absurdo.
Marco Aurélio ressaltou ainda que o momento não é para experimentos ou simplesmente pelo modismo de ter uma mulher no cargo.
- A Fifa é uma entidade maior que a ONU. As mulheres seguramente não viveram o futebol ao longo desses anos todos embora possam conhecer, gostar e entender. Mas a vivência administrativa do futebol, esse processo todo, passou por muito pouca gente. É preciso passar por mais pessoas que tenham vivido o futebol e aí sim é o masculino porque o feminino não existia. É uma questão de não fazer experimentos e não ser modismo. Ser uma coisa realmente por competência, alguém que tenha anos a fio no futebol, que conheça as competições. Tenha vivido isso ou como atleta ou como um gestor muito perto dos atletas. Mas não fazer isso por uma coisa bonita, elegante e que é diferente. Tudo que é diferente dá mal resultado. As coisas têm que ser planejadas. Eu gostaria sim que o presidente da Fifa pegasse e separasse o futebol feminino não da entidade, mas a um seguimento e desse a uma mulher para fazer a gestão do futebol feminino com a sua sensibilidade e com o conhecimento do futebol feminino. Agora abraçar o masculino seria uma loucura.
Blatter
anunciou a saída do cargo para a realização de um novo pleito depois de ser
reeleito no dia 29 de maio. A decisão foi tomada em razão das diversas
denúncias envolvendo o nome da Fifa e alguns dos seus dirigentes. Algumas das
acusações terminaram em prisões feitas em 27 de maio, em Zurique, feitas pelas
autoridades suíças e também pelo FBI. Concorrente na última disputa contra
Blatter, o príncipe da Jordânia, Ali bin al-Hussein, já confirmou que
concorrerá novamente - caso haja mesmo nova eleição.
Confira o perfil das mulheres cotadas ao cargo de presidente da Fifa:
Isha Johansen - presidente da Federação de futebol de Serra Leoa. Juntou-se à Fifa em 2013 e teve papel importante em seu país na luta contra o Ebola. Em declaração ao canal CNN, quando perguntada se ela gostaria de ser presidente da Fifa, ela respondeu: "Por que não?".
Lydia Nsekera - Também em 2013, Lydia tornou-se a primeira mulher eleita para o comitê executivo da Fifa. Ela tem sido membro do Comitê Olímpico Internacional desde 2009. Entre 2004 e 2013, foi presidente da Federação de Futebol do Burundi.




