Logomarca

Um jornal a serviço do MS. Desde 2007 | Sexta, 19 de Abril de 2024

Economia

Regras para compras parceladas no cartão de crédito mudam no dia 1º

Essa nova opção poderá ser contratada no momento da compra, diretamente pelas maquininhas.

Correio do Estado

29 de Março de 2019 - 10:07

Regras para compras parceladas no cartão de crédito mudam no dia 1º

Os bancos brasileiros anunciaram na quarta-feira que vão passar a oferecer uma nova forma de crediário via parcelas no cartão de crédito. Essa nova opção poderá ser contratada no momento da compra, diretamente pelas maquininhas, com taxas de juros a partir de 0,99% ao mês e prazo de até 36 meses para o pagamento. A notícia pode impactar mais de 115 mil famílias somente em Campo Grande, que estariam endividadas nesse tipo de modalidade de crédito. No entanto, é preciso avaliar os riscos com calma antes de sair optando pelo parcelamento que deve valer mesmo a partir da próxima segunda-feira.

Os bancos alegam que a principal vantagem será mesmo para os comerciantes que poderão receber o dinheiro entre dois e cinco dias, como uma transação de débito - mesmo que o cliente pague parcelado. Segundo a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) “essa alternativa reduz custos e amplia a competitividade do varejista, especialmente do pequeno estabelecimento comercial, que geralmente não conta com capital de giro para financiar suas vendas”.

Com isso, o consumidor também pode sair ganhando. “Uma vez que a loja recebe à vista, o cliente pode ser beneficiado com descontos em relação ao preço a prazo. A Lei 13.455 autoriza o comércio a cobrar preços diferentes pelo mesmo produto ou serviço em função da forma de pagamento (à vista ou parcelado)”, de acordo com a associação. A entidade realizou a padronização operacional da nova modalidade, que permite ao cliente simular a transação na própria máquina de cartão antes de contratar.

“Com a padronização, os diferentes terminais apresentam as mesmas etapas e mensagens sobre o processo de parcelamento, facilitando a utilização pelo consumidor e pelo lojista”, diz a Abecs em nota.Cada banco está trabalhando com diferentes condições para os clientes (Veja abaixo).

Avaliação

Rodrigo Carneiro, diretor da Rede, acredita que a chegada dessa medida é uma boa alternativa para o mercado.“Vejo o produto com potencial para ser adotado em larga escala, tantos pelos benefícios gerados para o lojista, quanto para o consumidor - que vai poder entender melhor as taxas de seu parcelamento e ter mais argumentos para negociar descontos, como nas compras à vista”, afirmou o executivo.

O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurante (Abrasel), Paulo Solmucci, disse que um ponto positivo é oferecer o parcelamento com juros como uma opção de pagamento, e não como substituição ao parcelamento sem juros.No entanto, ele vê com preocupação a atuação dos bancos nessa modalidade. Segundo Solmucci, as taxas que os bancos vão cobrar dos lojistas no parcelamento com juros serão maiores do que as praticadas pelas administradoras de maquininhas e fintechs, o que, na prática, aumentará o custo para o consumidor.”Os bancos querem cobrar o máximo de juros para terem o máximo de lucro”, concluiu.

CREDIÁRIO NO CARTÃO 

Como vai funcionar

- Ao pedir uma compra parcelada, o emissor do cartão deve apresentar ao cliente até três opções de parcelamento, bem como os custos envolvidos na operação, que vão depender do banco e do perfil de risco do cliente. Assim, serão oferecidos diferentes prazos e juros para cada perfil de compra e cliente na própria maquininha do cartão. O consumidor deverá escolher a opção que melhor se encaixa em seu orçamento, digitar a senha e concluir a transação.

- As parcelas do crediário serão lançadas nas próximas faturas, conforme a opção contratada. A concessão dessa modalidade está atrelada ao limite de crédito do cartão, que é restabelecido à medida que as prestações do crediário são quitadas.

- Para acontecer, as maquininhas de cartão precisarão estar prontas para isso. A Cielo afirmou que já implementou a modalidade de crediário no seu sistema, e que ele já está habilitando aos lojistas. “Até maio, 100% do parque de POS (maquininhas) da Cielo estarão habilitados. Já na próxima semana, 50 mil unidades estarão habilitadas”, afirmou a empresa em nota.

- A Getnet afirmou que a “habilitação dos estabelecimentos comerciais, principais bandeiras e emissores de cartões será concluída até o segundo trimestre deste ano”. Já a Rede não deu nenhuma meta a respeito da habilitação de suas maquininhas para a nova modalidade de crédito.

Bancos

- As condições de financiamento dependerão do perfil de crédito do cliente e também do banco. Confira o que cada banco informou quando começarão a oferecer a modalidade:

Banco do Brasil
O BB oferecerá o crediário no cartão de crédito a partir do dia 4 de abril, com prazo de até 24 meses. As taxas serão divulgadas oportunamente, informou a instituição.
Bradesco
O Bradesco passou a oferecer a opção de crédito para uso dos clientes em 18 de fevereiro deste ano. As taxas variam de 0,99% a 3,99% ao mês, de acordo com o perfil do cliente, e o prazo de parcelamento vai de dois a 24 vezes. Pela facilidade de contratação e pelos prazos de recebimento de recursos, afirmou o banco, o produto tem sido bem recebido pelos estabelecimentos comerciais.
Caixa
Ainda não oferece a modalidade de crédito.
Itaú Unibanco
O Itaú informou que os prazos e as taxas de juros vão depender do perfil de crédito do cliente e de seu relacionamento com o banco.
Santander
O banco lançará na segunda-feira, dia 1º de abril, o Crediário, produto que permitirá aos clientesparcelar suas compras em até 36 vezes no cartão. As taxas de juros serão a partir de 1,99% ao mês.

NOVO MODELO PODE SER PREJUDICIAL

Especialistas discordam dos benefícios do crediário e afirmam que novo modelo pode acabar com o parcelamento sem juros e prejduicar consumidores e lojistas. A modalidade pode aumentar o descontrole financeiro das famílias e prejudicar o processo de recuperação econômica, alerta o  Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio-MS (IPF-MS).

“É preciso parcimônia. Esse tipo de taxa de juros torna o crédito mais caro e interfere de forma negativa nas expectativas do consumidor, que são importantes para a recuperação da economia. O acesso ao crédito é um dos indicadores analisados na Intenção de Consumo das Famílias (ICF), calculada pela CNC”, observa o presidente do IPF-MS, Edison Araújo.

Outra preocupação é quanto ao possível aumento do índice de inadimplência, já que o cartão hoje é o meio de endividamento para cerca de 65% das famílias. Se por um lado, traz como vantagem ao lojista o lojista o recebimento do valor da venda em até cinco dias, ao passo em que hoje esse prazo depende do parcelamento. De outro, os juros podem inibir o consumo, segundo a economista do IPF-MS, Daniela Dias.

“O consumidor que toma crédito usando o parcelamento por meio do cartão está sujeito à exposição de juros sobre juros porque, se ele não conseguir cumprir com o pagamento da fatura integral no vencimento, esse valor que já foi parcelado com juros será novamente parcelado por uma nova taxa, dentro das novas regras do BC. Ou seja, ele volta para uma situação muito pior do que as que já são oferecidas no mercado de crédito pessoal”, afirmou o Instituto de Defesa do Consumidor.