Policial
Mais de duas décadas depois, rota do major Carvalho continua ativa em MS
Polícia Civil fez operação ontem contra quadrilha que utilizava caminho pelo Pantanal para transportar cocaína da Bolívia.
Correio do Estado
07 de Julho de 2023 - 10:45
Quase 26 anos depois da prisão de um dos maiores traficantes de cocaína de Mato Grosso do Sul, o ex-major da Polícia Militar Sérgio Roberto de Carvalho, conhecido como “Pablo Escobar brasileiro”, a mesma rota na qual o criminoso foi pego ainda é utilizada.
A chamada rota pantaneira, que leva a droga da Bolívia por Corumbá, passando também por Rio Negro e Rio Verde de Mato Grosso, já era utilizada em novembro de 1997, quando a Polícia Federal conseguiu apreender quase 250 kg de cocaína no interior da Fazenda Santa Therezinha, de propriedade de major Carvalho, no município de Rio Verde.
Ontem, a Polícia Civil, em atuação conjunta com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), deflagrou a Operação Rota Pantaneira, que teve o objetivo de cumprir dez mandados de busca e apreensão contra traficantes de drogas que se utilizam do mesmo caminho usado por Carvalho para o escoamento de entorpecentes.
“Diversas foram as apreensões de drogas e de veículos adulterados na região do Pantanal pelas forças de segurança, notadamente envolvendo os municípios de Rio Negro, Rio Verde e Corumbá”, diz nota da Polícia Civil.
Essa investigação foi iniciada após o monitoramento de determinados veículos modificados usados pelo grupo criminoso para ocultação de drogas, sendo também identificado o uso de fundos falsos em caminhonetes.
Ainda de acordo com a polícia, esses veículos que transportavam a cocaína, depois de passar por essas localidades, eram trazidos para pontos de apoio em Campo Grande, inclusive em algumas oficinas, para a realização de reparos e adulteração.
Na véspera de desencadear a operação, a Polícia Militar de Rio Negro apreendeu 650 kg de cocaína e pasta base na MS-080, próximo da área urbana do município.
O carregamento interceptado estava em uma caminhonete L200 que vinha da região de fronteira com a Bolívia e estava a caminho de Rio Negro, trafegando por estradas pantaneiras para tentar escapar da fiscalização.
Um homem foi preso, mas os outros dois ocupantes da caminhonete conseguiram fugir pelo mato, à beira da estrada.
Para a polícia, essa apreensão demonstra “a importância da região para as organizações criminosas. Ao longo do ano, também foram apreendidas caminhonetes adulteradas e produtos de furto e roubo de outros estados”.
Para a operação de ontem, foram necessárias dez equipes da Polícia Civil e dez equipes da PRF, sendo mais de 60 policiais lotados no Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), na Delegacia Especializada em Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras), na Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico (Denar), na Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos (Defurv), além das delegacias de Rio Negro, Corumbá e Ladário.
Durante a ação, uma pessoa foi presa em uma chácara monitorada por câmeras de segurança, a qual a polícia classificou como “um verdadeiro bunker”, na saída de Campo Grande, sentido BR-262.
O indivíduo, que tem passagens por tráfico e estava em liberdade condicional, foi encontrado com diversas armas de fogo, entre elas um revólver S&W calibre .32, um revólver Taurus calibre .38, uma pistola Taurus calibre .380; uma pistola Glock calibre 9mm, uma carabina calibre .22, uma espingarda de pressão, diversos carregadores e inúmeras munições de diversos calibres.
No local, também foram apreendidos R$ 36 mil em espécie e meio tablete de cocaína, que pesou 554 gramas.
“Todas as forças de segurança que atuam em Mato Grosso do Sul permanecem atentas ao desenvolvimento de toda a região do Pantanal e empreende esforços para que suas vias sejam utilizadas apenas para o empenho de atividades lícitas, de modo a garantir segurança e crescimento sustentável”, finalizou a polícia sobre a rota.
OUTRAS ROTAS
A Polícia Federal investiga o uso do Pantanal como base para várias quadrilhas que trazem a cocaína da Bolívia. Em alguns casos, os traficantes levam a droga de Corumbá para Coxim por meio de embarcações nos rios Paraguai e Taquari.
A partir da cidade do norte do Estado, a droga era levada para outras regiões do País, como Rio Grande do Norte e Ceará.
Em 2020, a PF prendeu os responsáveis pelo transporte da droga nesta rota e os gerentes da quadrilha. Os chefões moravam em Natal (RN).
Já neste ano, a polícia descobriu que a rota fluvial para transporte de cocaína estava sendo usada para chegar até a BR-163, de onde a cocaína era levada para Mato Grosso e, depois, para o Norte do País.
MAJOR CARVALHO
O ex-major da PM de MS desenvolveu extensa lista de crimes. A organização criminosa que ele lidera teria conseguido traficar, a partir de 2017, cerca de 45 toneladas de cocaína para a Europa, carga avaliada em R$ 2,2 bilhões. Em junho de 2022, após anos foragido, ele foi preso na Hungria.
SAIBA
Para levar a cocaína de Mato Grosso do Sul para a Europa, a quadrilha liderada por major Carvalho utilizava portos como o de Paranaguá (PR) e o de Santos (SP), no Brasil, e o de Antuérpia, na Bélgica.