Policial
Para Federal, líder indígena não foi assassinado, está desaparecido
Flávio Paes/Marcos Tomé
21 de Dezembro de 2011 - 17:00
O Laudo pericial da Polícia Federal (PF) concluiu que o líder indígena Nizio Gomes não foi assassinado durante ataque de pistoleiros no dia 18 de novembro no acampamento Guayviry, na Fazenda Nova Aurora, rodovia MS-386, em Ponta Porã (MS).
O crime, não teria ocorrido tendo em vista que a quantidade de sangue apresentava possível compatibilidade com seu perfil e os demais indícios encontrados no local não foram suficientes para que confirmasse tal suspeita.
A informação é da Polícia Federal em nota oficial distribuída na manhã desta quarta-feira. (...) até o presente momento, a polícia federal ainda o considera desaparecido, até mesmo porque restam mais evidências de que ele esteja vivo do que morto. A teoria de sequestro também ''foi derrubada por terra''. Isto significa que o ferimento de Nízio Gomes não foi o suficiente para causar sua morte, segundo o laudo, informa a PF.
Com relação a principal testemunha, diz à nota que o filho do Nizio, que no dia do evento, estava aguardando os agressores portando uma espingarda e que, no curso das investigações, levou ao conhecimento da polícia federal fato que sabia ser falso, no momento em que acusou pessoas que sabia inocentes de serem integrantes do grupo armado que atentou contra os indígenas, foi também formalizado o seu indiciamento pela prática do crime de 'Denunciação Caluniosa'".
Inquérito
A PF informou que o inquérito encontra-se em fase de relatório, devendo ser concluído até esta quinta-feira (22) e encaminhado a Justiça Federal.
Segundo a nota, durante as investigações, diante de todos os indícios e provas juntadas aos autos, restou evidenciado que fazendeiros da região e um advogado contrataram pessoas que atuam na área de segurança, vinculadas a uma empresa estabelecida em Dourados (MS), para que retirassem os indígenas do local invadido, mediante grave ameaça.
Assim, três integrantes do grupo de agressores foram presos temporariamente, porém já se encontram em liberdade, sendo que um pertence aos quadros da empresa de segurança e os outros dois são contratos temporariamente.
No local em que se deram os fatos foram colhidos materiais (sangue) para exames de perfil genético e, nos resultados apresentados, somente em um destes locais foi possível a compatibilidade com o perfil genético do índio Nizio Gomes, porém este local é o que havia menos sangue, afirma a nota.
Continuando, a PF informa que o sangue em maior quantidade encontrado no local, ainda está em fase de análise de compatibilidade, pois um dos agressores foi ferido no local dos fatos por Nizio Gomes, que utilizou um machado com veneno de sapo, segundo os indígenas.
A conclusão que chegou a Perícia Criminal, no Laudo de Local de Suposto Homicídio, qual seja, o ferimento de Nizio Gomes, não foi suficiente para causar morte, aliado ao sangue encontrado nos cartuchos deflagrados na área do conflito, o qual deu compatibilidade com o sangue do indígena Nizio Gomes, joga por terra a versão apresentada pelo seu filho, principal testemunha, na qual ele afirma que Nizio Gomes foi morto e seu corpo carregado pelos agressores em uma camioneta, frisa a nota.
Neste sentido, derruba também a teoria do sequestro o fato das marcas de sangue que iam em direção à camioneta não pertencerem também ao indígena. Ainda, o fato dos cartuchos deflagrados encontrados na área estarem impregnados com sangue do Nizio, demonstra, provavelmente, que o próprio Nizio Gomes tenha procedido a colheita dos cartucho deflagrados, tendo em seguida entregue ao seu filho, principal testemunha, para que entregasse a polícia.
Segundo ainda PF, outra observação é o fato dos cartuchos deflagados utilizados pelos agressores serem da cor verde, o que dificulta a localização dentro da mata, sendo muito mais difícil e demorado localizá-los do que cartuchos de outra cor. Daí a demora em avisar à agressão as autoridades, vez que os fatos ocorreram no amanhecer e a comunicação a polícia se deu por volta de 09hs40min do dia 18/11/2011, portanto, quase quatro horas de intervalo.
Afirma também a nota da PF que outro indício que contraria a primeira versão apresentada pela principal testemunha filho do Nizio - de que os agressores teriam chegado ao local em camionetas, é que os integrantes do grupo de ataque, em todos os depoimentos colhidos, foram unânimes em afirmar que foram ao local em que se encontravam os indígenas a pé e pela mata. Durante novo depoimento (reinquirição), a principal testemunha, voltando atrás na primeira versão apresentada, confirmou este fato
Prisões
No curso das investigações, a polícia federal requereu prisão temporária dos fazendeiros e dos administradores da empresa de segurança implicados nos fatos, porém o judiciário decidiu ao contrário.
Ficou evidenciado que os indígenas tinham conhecimento antecipado da investida e ficaram aguardando, todos pintados e também com armas (espingardas, machados e facas). Em todo o contexto, pelas práticas dos crimes de lesão corporal, formação de quadrilha e porte ilegal de arma de fogo, a polícia federal indiciou quatro fazendeiros, um advogado, dois administradores de empresa de segurança e mais três contratado individualizado o grau de participação de cada um no episódio, diz a nota.




