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Policial

Pavão comandava tráfico da cadeia, mas juíza escondeu denúncia do Brasil

Documento da justiça brasileira, revelando que traficante continuava atuando com uma organização criminosa, foi engavetado em 2015.

Campo Grande News

07 de Dezembro de 2016 - 14:15

No período de sete anos em que ficou no presídio de Tacumbú, o brasileiro Jarvis Gimenez Pavão construiu uma cela vip, reformou a sala do diretor e o refeitório e bancou uma ala adventista, para orações. Mas essa “benevolência” tinha um preço. Em troca, autoridades paraguaias fechavam os olhos para os crimes que o sul-mato-grossense continuava praticando, principalmente o tráfico internacional de cocaína da Bolívia para o Brasil.

Além da omissão de guardas e diretores da penitenciária, ele contava também com a ajuda de uma juíza do Paraguai, Patrícia Gonzales, que foi alertada pela Justiça do Brasil sobre as atividades que Pavão mantinha mesmo atrás das grades. Só que o documento enviado pelo Brasil em abril de 2015 foi parar em uma gaveta do gabinete da magistrada.

A informação só veio à tona agora, seis meses depois de Pavão ser transferido de Tacumbú para uma cela de um grupo especial da Polícia Nacional do Paraguai, onde continua cumprindo a pena de oito anos por tráfico de drogas.

A descoberta foi feita recentemente pelo juiz Pablino Escobar, no Tribunal Penal de Garantias. Patrícia Gonzalez está de licença desde julho deste ano. Ela acompanha o marido, Roberto Melcha Melgarejo, que foi nomeado cônsul do Paraguai na Espanha.

O documento - De acordo com o jornal ABC Color, a Justiça brasileira informou ao país vizinho que Jarvis Chimenes Pavão continuava coordenando as operações de sua organização, levando uma vida de luxo na prisão.

Conforme o documento, Jarvis mantinha contato com a organização criminosa que opera na cidade de Santa Cruz do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, liderada por Antônio Marco Braga Campos.

A quadrilha também mantinha base em outra cidade gaúcha, Novo Hamburgo, e dois membros importantes do grupo, Fabricio Santos da Silva e Ênio Souza, também presos no Paraguai, negociavam com Pavão o envio de cargas de cocaína através de Foz do Iguaçu (PR).

Cocaína de avião – Ainda segundo o documento enviado pelo Brasil ao Paraguai, mesmo atrás das grades, Jarvis Pavão continuava trazendo grandes cargas de cocaína da Bolívia para o Paraguai através de transporte aéreo, usando aeronaves e pistas de pouso clandestinas.

A droga era envida depois para a quadrilha comandada por Marco Antônio Campos Braga no Rio Grande do Sul.

Na gaveta – O documento que revelava as atividades de Pavão foi encontrado escondido em uma gaveta. Além de denunciar que o brasileiro continuava operando o narcotráfico, a carta pedia cooperação da justiça paraguaia para barrar as ações do traficante, mas ficou ignorado no escritório de Patrícia Gonzalez.

No documento, a justiça do Brasil solicitava a apreensão de todos os bens que o traficante mantém em território paraguaio. Com dupla nacionalidade, Pavão é casado com uma cidadã paraguaia e tem filhos registrados no Paraguai.

Segundo o ABC Color, o juiz interino também encontrou sete cartas rogatórias engavetadas, indicando pelo menos uma negligência grave da juíza Patrícia. Após a descoberta, a Suprema Corte ordenou uma auditoria no tribunal.

Pavão recusa notificação – Após descobrir o documento da justiça brasileira, Pablino Escobar mandou notificar Jarvis Pavão na cela onde o brasileiro está recolhido, mas ele se recusou a receber o documento.

Escobar disse que também recebeu uma ligação telefônica da Espanha – sem mencionar da parte de quem – pedindo que não revelasse a descoberta do documento engavetado, “para não acabar prejudicando alguém".

Escândalo sexual – A juíza Patrícia Gonzalez é conhecida no Paraguai por causa de um escândalo sexual envolvendo o senador do Partido Colorado Juan Carlos Galaverna.

Partiu dela a decisão de proibir a divulgação de vídeos com conteúdo sexual envolvendo o político colorado. A imprensa paraguaia apontou “rapidez incomum” na concessão da liminar para proibir publicações relacionadas ao vídeo, contrariando a liberdade de expressão garantida na Constituição daquele país.