Política
Temer anuncia "ajustamento" com Congresso contra anistia a caixa 2
Presidente deu entrevista conjunta com presidentes de Câmara e Senado. Objetivo foi conter eventual movimento por anistia de crimes eleitorais.
G1
27 de Novembro de 2016 - 21:44
O presidente da República, Michel Temer, anunciou neste domingo (27) um "ajustamento institucional" com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a fim de impedir a tramitação no Congresso de qualquer medida que permita anistia a políticos que em eleições passadas tenham praticado caixa 2 (uso de recursos não declarados à Justiça Eleitoral).
O anúncio foi feito durante entrevista conjunta com Maia e Renan no Palácio do Planalto. Os três descartaram a hipótese de aprovação de alguma proposta que eventualmente venha a ser apresentada com a finalidade de anistiar o caixa 2 ou crimes associados a essa prática, como corrupção e lavagem de dinheiro.
Na quinta-feira (24), a votação do projeto com medidas anticorrupção acabou adiada para esta terça-feira (29) após ter sido revelada uma articulação que previa a apresentação de uma emenda para anistiar quem tivesse feito uso de caixa 2 em eleições passadas. Nos bastidores da Câmara, chegou a circular um texto de uma emenda que previa livrar, em todas as esferas (cível, criminal e eleitoral) quem tivesse praticado caixa dois.
Segundo Temer, é preciso "ouvir a voz das ruas" em relação à anistia. "Estamos aqui para revelar que no tocante à anistia, há uma unanimidade daqueles dos poderes Legislativo e Executivo", afirmou. "Não há a menor condição de se patrocinar, de se levar adiante essa proposta", declarou.
De acordo com o presidente, o objetivo da entrevista foi desestimular qualquer movimentação interna na Câmara dos Deputados com o objetivo de viabilizar uma proposta de anistia ao caixa 2. Segundo ele, "seria impossível ao presidente da República sancionar uma matéria dessa natureza".
Rodrigo Maia
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, apontou uma "confusão de comunicação" em relação à suposta proposta de anistia ao caixa 2.
"Nossa intenção nunca foi anistiar crimes, já que o projeto [de medidas anticorrupção] enviado pela sociedade tipifica os crimes", declarou Maia.
O presidente da Câmara afirmou que pretende colocar em votação nesta semana no plenário o projeto de medidas anticorrupção enviado pelo Ministério Público que tipifica o crime de caixa 2.
"Queremos votar as dez medidas e, entre elas, existe a proposta que vem encaminhada pelo MP da tipificação do caixa dois", afirmou. Na semana passada, a comissão especial criada para discutir as medidas aprovou o texto-base do relator Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que prevê a tipificação do crime de caixa 2 eleitoral e estipula pena de dois a cinco anos de prisão.
Maia disse que nunca houve discussão entre os líderes partidários de proposta de anistia e que nunca houve assinatura de deputados em nenhum projeto do gênero.
"Estamos discutindo algo que não existe. Esta reunião [a entrevista coletiva] é importante para esclarecer que a anistia nunca aconteceu e nunca foi assinada por nenhum parlamentar", complementou. Maia ainda ressaltou que, se alguma emenda vier a ser apresentada, a votação será por meio nominal.
"Do ponto de vista regimental [...], eu disse que essa emenda nunca existiu do ponto de vista legal da Casa. Ela não prosperou com o apoio de líderes nem prosperaria com o apoio do plenário. E se alguém apresentar, votação nominal", afirmou.
Renan Calheiros
O presidente do Senado, Renan Calheiros, reiterou que uma eventual proposta de anistia ao caixa 2 não terá andamento no Congresso.
"Essa matéria não deve tramitar. Devemos fazer o ajuste fiscal e vamos votar as matérias necessárias para retomar o crescimento da economia. Todas as nossas forças estarão voltadas para votarmos essas pautas, inclusive a lei orçamentária. Até o fim do ano, vamos aprovar a lei orçamentária de 2017", afirmou o presidente do Senado.
Caso Geddel Vieira Lima
O presidente Michel Temer afirmou que está "examinando com muito cuidado" o perfil do novo ocupante da Secretaria de Governo, em substituição a Geddel Vieira Lima, que pediu demissão.
Segundo ele, é preciso alguém com "lisura absoluta" e com facilidade para conversar com os integrantes do Congresso.
Temer afirmou que é "indigno" e "gravíssimo" um ministro gravar o presidente da República, em referência a Marcelo Calero, que se demitiu do Ministério da Cultura depois de denunciar ter sido pressionado por Geddel Vieira Lima para liberar a obra de um edifício no centro histórico de Salvador no qual o ex-ministro da Secretaria de Governo tem um apartamento. Calero gravou conversas com Temer e com ministros do governo sobre o assunto.
"Espero que essas gravações venham a público", disse o presidente, que afirmou que é muito cuidadoso com o que fala e que a atitude de Calero foi de uma "indignidade absoluta".
Temer disse que ainda não tomou uma decisão, mas cogita passar a fazer gravações oficiais das audiências na Presidência da República.
"Estou pensando em pedir ao Gabinete de Segurança Institucional que grave aí publicamente , que grave todas as audiências do presidente da República", declarou.
Temer afirmou que, se Geddel tivesse pedido demissão antes, "talvez teria sido melhor". "É claro que ganhou uma dimensão extraordinária. A demora não foi útil", disse.
O presidente disse que "não estava patrocinando nenhum interesse privado" ao "arbitrar" a divergência entre Marcelo Calero e Geddel Vieira Lima e ter sugerido ao então ministro da Cultura encaminhar o caso para a Advocacia Geral da União (AGU).
"Você verifica que eu estava administrando conflitos de natureza pública. Quando ele [Calero] falou que não queria despachar, falei para mandar para a AGU", disse.
Eliseu Padilha
No depoimento que deu à Polícia Federal, Calero disse que conversou com o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, sobre a obra embargada em Salvador. Em nota divulgada nesta quinta-feira (24), Padilha confirmou que discutiu a questão com o ex-ministro da Cultura sugerindo que procurasse a AGU. O ex-ministro ignorou minha sugestão, afirmou Padilha.
Ao ser questionado sobre o ministro-chefe da Casa Civil, Temer defendeu o subordinado e disse que ele apenas "sugeriu" a Calero o que a lei determina.
Para Temer, sugerir que a AGU fosse consultada foi a medida correta a ser tomada por Padilha. De acordo com o presidente, uma das funções do órgão é justamente ajudar a mediar conflitos quando um ministro não quer "despachar" uma decisão.
"O que o Padilha fez foi exatamente o que, de alguma maneira, eu disse. Porque ele [Calero] conversou com o Padilha e disse que tinha esse conflito. Padilha sugeriu aquilo que a lei determina", afirmou Temer.
Odebrecht
Questionado sobre a hipótese de os acordos de delação premiada de executivos da empreiteira Odebrecht na Operação Lava Jato atingirem integrantes do governo, Temer disse que isso, de fato, é uma preocupação.
Segundo ele, há uma preocupação "de natureza institucional". "Dizer que não há preocupação, estaria sendo ingênuo", afirmou.
O presidente disse que, depois de os termos das delações se tornarem conhecidos, vai analisar caso a caso. "Vou ver qual o gesto concreto em relação a ministros porque [as delações] ainda nao foram assinadas", afirmou.
Crise econômica
Na avaliação do presidente Michel Temer, os resultados concretos do crescimento econômico só serão visíveis a partir do segundo semestre de 2017. Segundo ele, é preciso combater a ideia de que os problemas se resolverão de uma hora para outra.
"Essa coisa de céu azul, as coisas não são assim. Quando isso realmente se consolidará? A equipe econômica está trabalhando ativamente. Vejo que eventuais resultados se darão no segundo semestre do ano que vem. Não estamos parados, estamos trabalhando para gerar o crescimento", afirmou.
Para Temer, também é necessário "desmistificar essa coisa de lua de mel" com o seu governo. "Não houve lua de mel. Pelo contrário, houve gente que fez campanha contra, inclusive física", acrescentou.