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Política

Temer diz que União vai exigir contrapartidas para socorrer estados

Câmara aprovou pacote de ajuda nesta terça (20), mas derrubou exigências da União; resultado foi uma derrota para o governo.

G1

21 de Dezembro de 2016 - 09:37

O presidente Michel Temer disse na noite desta terça-feira (20) que, embora a Câmara dos Deputados tenha aprovado a renegociação das dívidas estaduais sem exigências do governo, a União vai cobrar as contrapartidas para aprovar o pacote de socorro aos estados em situação financeira delicada.

A resposta de Temer à derrota imposta pela Câmara foi dada em um vídeo gravado pelo presidente e divulgado na noite de terça-feira.

“Hoje ainda a Câmara Federal aprovou um projeto, e lá havia [...] estas contrapartidas que foram retiradas, embora se mantivesse a tese e o preceito da recuperação fiscal. Mas isso não significa que a União, quando firmar o contrato com os estados, não irá exigir essas contrapartidas. Elas serão indispensáveis para que se viabilize a recuperação fiscal prevista na lei que hoje foi aprovada”, afirmou o presidente.

A votação do pacote de ajuda aos estados representou uma derrota para a equipe econômica do governo.

A Câmara dos Deputados aprovou na tarde desta terça, por 296 votos a 12 e três abstenções, o projeto que renegocia dívidas dos estados e do Distrito Federal com a União. A proposta aprovada, que agora vai à sanção presidencial, aumenta em até 20 anos o prazo para o pagamento de dívidas de estados e do Distrito Federal com a União. Aos estados que enfrentam crises financeiras mais graves, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, o texto permite que o pagamento das dívidas seja suspenso por até três anos (leia detalhes mais abaixo).

À noite, o Ministério da Fazenda divulgou nota informando que somente aprovará os planos de renegociação das dívidas dos estados com a União que, “de fato”, viabilizarem o equilíbrio das contas estaduais.

Retirada das contrapartidas

A aprovação do projeto passou por um acordo, costurado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pelo qual foram retiradas do projeto as contrapartidas defendidas pelo governo federal que deveriam ser cumpridas pelos governos estaduais para participar da renegociação de débitos, entre as quais aumento da contribuição previdenciária de servidores estaduais, reajustes salariais de servidores e proibição da criação de novos cargos.

O texto já havia sido aprovado pela Câmara em uma primeira votação, mas, ao passar pelo Senado, foi alterado para acolher as contrapartidas, acertadas entre o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP), e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Como foi alterado pelos senadores, o projeto precisava passar por nova votação na Câmara.

Depois da sessão, Rodrigo Maia afirmou que a votação não foi contra o governo. Antes, ele já havia afirmado que a Câmara não precisa “dizer amém” ao Ministério da Fazenda. “Os técnicos da Fazenda sempre querem mais, sempre querem um arrocho maior. Só que a crise que o país vive não foi vista nem na Primeira Guerra Mundial. Então, não dá que os técnicos da Fazenda, o pessoal do mercado financeiro, que têm um coração que não bate com a emoção, não dá que eles ganhem tudo”, disse Maia após a aprovação da proposta.

Líder do governo ausente

Vários deputados criticaram a atitude do líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), que se ausentou da discussão, mas esteve no plenário no momento de registrar o voto.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a dizer que Moura estava pedindo a parlamentares da base não registrarem presença na votação.

Ao iniciar a sessão, Rodrigo Maia disse que a Casa não precisava dar “amém” às exigências do Ministério da Fazenda. Segundo o deputado, “se o presidente entender que [a proposta] não é o melhor para o Brasil, ele veta”.

Parlamentares da oposição estavam obstruindo a votação, mas mudaram de posicionamento depois que o relator do projeto, Espiridião Amin (PP-SC), retirou pontos do texto em acordo com o líder do PT, Afonso Florence (BA).

Depois da aprovação da proposta, André Moura disse que o projeto não significa uma derrota do Ministério da Fazenda e que será uma derrota para os estados se eles não aproveitarem a renegociação para equilibrar as contas.

“Eu estava no Ministério da Fazenda negociando. Por isso, não estive na discussão da proposta. Não dá para estar em dois lugares ao mesmo tempo, não sou onipresente”, justificou.

O projeto

A proposta aprovada aumenta em até 20 anos o prazo para o pagamento de dívidas de estados e do Distrito Federal com a União.

Estados que assinarem termos aditivos para prorrogar o pagamento das dívidas deverão estabelecer um teto para os gastos públicos, correspondente à inflação do ano anterior, nos dois primeiros anos após o fechamento do acordo.

Aos estados que enfrentam crises financeiras mais graves, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, o texto permite que o pagamento das dívidas seja suspenso por até três anos.

Na prática, esses estados terão um alívio fiscal por três anos e depois ainda terão 20 anos para quitar os débitos com a União. No caso do Rio de Janeiro, a estimativa é de que esse alívio seja de R$ 7 bilhões ao ano.

Para viabilizar a aprovação do projeto, o relator Espiridião Amin aceitou retirar várias exigências que deveriam ser cumpridas pelos estados, entre as quais:

criação de programas de desestatização de empresas estaduais;

elevação da contribuição previdenciária para 14% no mínimo;

redução de incentivos tributários a empresas;

suspensão de reajustes salariais de servidores estaduais.

O relator também retirou proibições para criação de cargos, aumento para servidores que levem ao crescimento de despesas, contratação de pessoal e realização de concursos públicos.

Em acordo com petistas, Amin aceitou retirar o financiamento pela União de programas de demissão voluntária em empresas estatais.

Para os petistas, isso estimularia empresas a realizar demissões voluntárias “forçando empregados a se voluntariarem”. Já Amin disse que a retirada não impedirá que estados realizem programas de demissão voluntária e, se isso acontecer, não haverá financiamento para garantir os direitos dos servidores que se demitirem.

Amin também retirou a punição de reclusão de um a quatro anos para gestores que descumprirem regras previstas no regime de recuperação fiscal.

De acordo com a proposta aprovada, caberá ao Ministério da Fazenda aprovar e a instaurar o plano de recuperação fiscal. A pasta deverá verificar se existem condições necessárias para a homologação da recuperação.

Um parlamentar contrário à proposta, que preferiu falar em anonimato, disse que o texto não resolve os problemas dos estados. “Empurramos a crise dos estados para daqui a três anos. Foi isso que fizemos”, declarou.