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Sidrolândia

Áudios captados pela PF são indícios que PMS tentaram extorquir contrabandistas

Foram captados diálogos que evidenciariam a tentativa dos policiais de extorquirem R$ 200 mil de contrabandistas.

Flávio Paes/Região News

23 de Outubro de 2019 - 16:14

Os áudios interceptados pela Polícia Federal, com autorização judicial, no dia 31 de outubro do ano passado, de telefones grampeados de dois batedores (um deles identificados como Carlos Magno Pinto Ramos), é um dos principais elementos de prova apresentados pelo Ministério Público contra quatro dos cinco policiais militares lotados em Sidrolândia, presos desde o último dia 26 de setembro. Na época os federais participavam da Operação Trunk, que investigou organizações criminosas que atuavam no contrabando de cigarros do Paraguai.

Foram captados diálogos que evidenciariam a tentativa dos policiais de extorquirem R$ 200 mil de contrabandistas, para liberar 900 mil carteiras de cigarro, transportadas em carretas, que apreenderam na MS-455, estrada da Gameleira, proximidades do Assentamento Capão Bonito. A carga foi avaliada em R$ 5 milhões.

Conforme a denúncia da promotora Renata Ruth Fernandes (atuando em substituição na 26ª Promotoria de Justiça de Campo Grande), com base nas escutas telefônicas, às 9 horas do dia 31 de outubro de 2018, os policiais denunciados, 2º sargento W.V.P e os soldados R.P.S., R.L.F e M.G.B, abordaram dois batedores (que vem à frente para alertar o motorista da carga contrabandeada sobre a presença policial na estrada). Um deles identificado como Carlos Magno Pinto Ramos (o "formigão") e em seguida, pararam 2 carretas carregadas de cigarro: uma Volvo, cor cinza, placa JUY-0958, engatada no reboque placa EJY-9892 e a outra, a carreta Iveco Strallis, cor branca, placa MJA-9806, engatada no reboque placa CZB-1624. Os dois batedores tiveram permissão para seguir viagem, com a missão de levantar o recurso pedido (os R$ 200 mil) com os donos da carga.

Áudios captados pela PF são indícios que PMS tentaram extorquir contrabandistas

Seguiu-se então, conforme o que está relatado na denúncia do Ministério Público, “uma intensa tratativa para levantar o valor exigido pelos denunciados”. Os diálogos, captados dos telefones grampeados, demonstram que os membros da Organização Criminosa (os contrabandistas), “pretendiam depositar parte do valor nas contas bancárias dos motoristas e batedores, para que eles sacassem e efetuassem o pagamento da propina exigida".

Os policiais teriam desistido de esperar o pagamento, ao perceberem no período da tarde, que uma equipe do serviço de inteligência da Polícia Federal estava nas proximidades do quartel da PM, provavelmente na expectativa de efetivar a prisão em flagrante dos envolvidos. Os agentes foram identificados e abordados pelos policiais que “formalizaram a apreensão por meio de boletim de ocorrência de apreensão das carretas e inclusive divulgaram o fato na apreensão”.

Ainda conforme a denúncia da promotora, o “boletim de ocorrência é falso”. No histórico da ocorrência relataram que os motoristas das carretas “abandonaram os veículos e empreenderam fuga a pé, embrenhando-se em um matagal e não foram localizados, o que não condiz com a realidade dos fatos, pois ficou demonstrado que os denunciados abordaram os batedores, motoristas e os liberaram, bem como os veículos pequenos, para que providenciassem o valor exigido para liberarem as carretas e as cargas. Esta versão do histórico do BO, que o Ministério Público acredita ser inverídica, possibilitou o MP denunciar os policiais pelo crime de falsidade ideológica.

Na denúncia, a que o Região News teve acesso, a promotora Renata Ruth Fernandes, este episódio, das carretas e outras quatro situações (entre os dias 31 de outubro e o último dia 4 de setembro, 18 dias antes dos policiais serem presos), são evidências para consubstanciar sua convicção de que os policiais (integrantes de uma guarnição com forte atuação no combate ao tráfico de drogas e ao contrabando “tecnicamente descaminho”) se dedicavam a praticar ilícitos, como a apropriação de produtos por eles apreendidos, como cigarro, 100 caixas de essência narguilé, brinquedos, artigos de pesca e equipamentos eletrônicos.