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Sidrolandia

Agricultura: R$ 132 milhões deixarão de circular na economia de Sidrolândia

O município, mesmo com o reconhecimento na segunda-feira do estado de emergência, não deve contar com ajudar federal

Flávio Paes/Região News

19 de Abril de 2011 - 09:08

Agricultura: R$ 132 milhões deixarão de circular na economia de Sidrolândia
Agricultura: R$ 132 milh - Foto: Marcos Tom

A queda de 50% na produção de soja em consequência dos  400 milímetros de chuva que caíram por mais de duas semanas entre a segunda quinzena de fevereiro e o a primeira de março, provocou um prejuízo de R$ 132,9 milhões, dinheiro que deixará de circular na economia sidrolandense e do estado, equivalente ao orçamento anual (de R$ 82 milhões) e mais 60% de toda a receita da prefeitura municipal.

Pelos cálculos da Secretaria  de Desenvolvimento Econômico (aceitos pelo Governo Federal no reconhecimento da situação do estado de emergência) o aguaceiro impediu que brotasse ou reduzisse a  grãos sem valor comercial ou negociados com 50% de desconto, o equivalente a 3,286  milhões de sacas,  que vendidas a um preço  médio de R$ 42,00, colocaria na mão dos produtores um montante de dinheiro superior ao maior prêmio já pago a uma aposta da Mega-Sena, que foi de R$ 119 milhões em outubro do ano passado,  no concurso 1.220.

Ao invés das 6,5 milhões de sacas esperadas, 400 mil toneladas, o agronegócio terá de se contentar com 3,3 milhões. Ao invés de R$ 273 milhões injetados na economia, a projeção é um faturamento bruto de R$ 141,1 milhões, dinheiro suficiente para comprar 4.703 carros populares ao preço unitário de R$ 30 mil.

Segundo o produtor Lucio Bassos, que fala com a propriedade de quem plantou 3.500 hectares e que com a chuva perdeu a oportunidade de ter a conta bancária engordada por mais R$ 3,3 milhões, tudo caminhava para o cenário dos sonhos de qualquer agricultor: safra com produtividade alta, na casa dos 60 hectares por hectare, com preço médio de mercado, R$ 40,00, uma benção ante os R$ 32,00 do ano passado.

Esta projeção de prejuízo (ou faturamento que deixará de ser obtido) resulta de uma conta simples. Havia perspectiva de se obter 60 sacas por hectare, que garantiria um faturamento bruto de R$ 2.400,00, sem descontar os gastos de custeio, que devem ter beirado metade deste valor.

Com a produtividade reduzida a 38 sacas, o faturamento cai para R$ 1.440 mil, o prejuízo é a diferença, R$ 960,00. A perda de faturamento não resulta só da soja que apodreceu por conta do excesso de  umidade, mas também dos grãos que “azedaram”, enxargaram, perderam valor comercial.

Neste caso a saca de R$ 40,00 é vendida por R$ 22,00, passando a ser destinada  a ração, quando não, misturada com os grãos sadios numa mutretagem que o mundo milionário das tradings não está imune de cometer. Mesmo neste cenário de perdas as margens serão positivas.

Ou seja  a soja gera renda suficiente para pagar as contas e fechar o ciclo no azul. Cada real aplicado na lavoura retornará ao agricultor R$ 1,12, o equivalente a R$ 150 por hectare. A conta considera custo de R$ 1,231/ha e preço médio de R$ 40,65/sc. Com certeza o prejuízo não vai ser a razão da falência da maioria absoluta dos produtores que plantou 120 mil hectares de soja nesta safra. Uma das razões é que o nível de endividamento é relativamente baixo.

Calcula-se que no máximo 40% desta produção tenham sido custeadas por meio de financiamentos bancários.  A perda maior, segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Nilo Cervo, é para o conjunto da economia da cidade.

“Com menos dinheiro na mão a tendência é o agricultor segurar o consumo. Adiar a reforma da casa, ou mesmo o concerto adiável do trator ou da colheitadeira”. Oficinas e lojas de peças já devem estar sofrendo os efeitos da postura cautelosa do agricultor.

O município, mesmo com o reconhecimento na segunda-feira do estado de emergência, não deve contar com ajudar federal para refazer 64 quilômetros de estradas vicinais, reconstruir duas pontes  na região do Quebra-Coco, duas na região do Serrote, além de bueiros na região do Piqui, destruídos pelas chuvas. A prefeitura calcula que precisa de R$ 1,1 milhão para cobrir os gastos, incluindo R$ 55 mil da despesa extra com transporte escolar por conta da reposição de aulas.