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Sidrolandia

Campanha "Gente boa também mata" do governo vira alvo de processo no Conar

Após polêmica, Ministério dos Transportes decidiu retirar cartazes das ruas, mas manteve campanha em vídeo feita para TV e internet.

G1

10 de Janeiro de 2017 - 16:51

O conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) decidiu abrir nesta terça-feira (10) processo para julgar a polêmica campanha "Gente boa também mata", criada pela agência Nova/sb para o Ministério dos Transportes.

O processo foi aberto a partir de reclamações de consumidores, que acusam a campanha de promover associação indevida entre pessoas que praticam boas ações e aquelas que matam no trânsito, e pedem a retirada de todas as peças publicitárias. Segundo as queixas, a campanha "denigre a imagem de pessoas que lutam pela sociedade".

Segundo o Conar, a previsão é que a campanha seja julgada em até 40 dias pelo conselho de ética do órgão que autorregulamenta a publicidade no Brasil. Até o momento, não houve nenhuma decisão em caráter liminar pelo relator do processo.

O G1 procurou o Ministério dos Transportes e a agência de publicidade e aguarda retorno.

Na semana passada, após repercussão negativa nas redes sociais, o Ministério dos Transportes decidiu pedir a retirada dos cartazes distribuídos em mobiliário urbano, mas informou que a campanha estava mantida, inclusive o vídeo feito para TV e internet, que continua disponível nas páginas do ministério na internet. Assista ao vídeo

Em conversa com o Blog do Camarotti, o ministro Maurício Quintella confirmou a decisão do governo de recolher os cartazes da campanha mais polêmicos e disse que, a partir dessa semana, seria veiculada uma nova fase da propaganda na televisão, mais "light", sem "conteúdo de chocar e chamar a atenção".

"De forma isolada, algumas peças produziram mensagem equivocada, e isso acabou gerando a polêmica. Foi feito um 'mea culpa' dentro do governo, e está sendo recolhida toda essa parte mais polêmica da propaganda. Numa campanha de publicidade, tudo o que é preciso explicar já não é bom, mas há uma linha de publicitários que defende esse tipo de polêmica para chamar atenção para o fato", disse o ministro ao blog.

Entenda a polêmica

A campanha começou a ser veiculada no final do ano passado e dividiu opiniões. Passou a ser alvo de críticas e elogios, e também de questionamentos e pedidos de retirada. Teve gente dizendo que sequer entendeu. No vídeo e nos cartazes, a campanha traz frases como “Quem planta árvores pela cidade”, “Quem faz trabalhos voluntários”, “Quem resgata animais na rua” e “O melhor aluno da sala” com o complemento "pode matar".

"A campanha criada pela Nova/sb mostra que não basta ser uma boa pessoa, ser solidário e contribuir para comunidade se não respeitar as leis de trânsito", diz o texto de apresentação do filme.

Antes de decidir pela retirada dos cartazes, o governo chegou a sair em defesa da campanha, afirmando que o objetivo era mudar a realidade.

"O alerta que se faz é que não apenas o motorista estereotipado como 'inconsequente' provoca acidente. Mesmo que involuntariamente, qualquer cidadão pode causar acidentes graves e até mortes no trânsito com pequenas atitudes, como mandar um whatsapp enquanto conduz, desviar a atenção das ruas ao trocar a música no rádio ou fazer uma ultrapassagem em locais de risco, sem visibilidade ou em trecho com faixa continua. As mortes no trânsito estão entre as 10 principais causas de óbitos no país. É essa realidade que o Governo Federal quer mudar", afirmou a Secretaria Especial de Comunicação da Presidência da República.

Como funciona o Conar

As medidas do Conar não têm força de lei, e o conselho não tem poder de determinar multas. Mas, em geral, as decisões recomendando alterações ou retirada da propaganda do ar costumam ser atendidas pelos anunciantes e agências de publicidade. O órgão informa que desde a sua fundação, em 1978, já instaurou mais de 9,2 mil processos éticos, que nunca foi desrespeitado pelos veículos de comunicação e que "nas raras vezes em que foi questionado na Justiça, saiu-se vitorioso".

O Conar abre processos a partir de denúncias de consumidores, autoridades, anunciantes, dos seus associados ou ainda formuladas pela própria diretoria.

Se a denúncia tiver procedência, o conselho de ética do Conar recomenda aos veículos de comunicação à suspensão da exibição da peça ou sugere correções na propaganda. Pode ainda advertir anunciante e agência.

Os casos costumam levar mais de um mês para serem julgados. Mas o Conar pode recomendar a sustação imediata nas situações de infração flagrante ao Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária.

O conselho de ética está dividido em oito câmaras, sediadas em São Paulo, Rio, Brasília, Porto Alegre e Recife, e é formado por 180 conselheiros, recrutados entre profissionais de publicidade e representantes da sociedade civil.