Logomarca

Um jornal a serviço do MS. Desde 2007 | Sábado, 9 de Novembro de 2024

Sidrolandia

Deputado chama ruralistas de paramilitares e vê risco de novos ataques

Em Coronel Sapucaia, produtores dizem que estão cercados por índios e denunciam que Força Nacional não foi aos locais de conflito

Campo Grande News

29 de Junho de 2015 - 09:37

O clima ainda é de tensão nos municípios de Aral Moreira e Coronel Sapucaia, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Nem mesmo a presença da Força Nacional de Segurança Pública, enviada sábado pelo Ministério da Justiça, diminuiu o risco de novos confrontos entre índios e produtores rurais. A guerra de informação entre ruralistas e órgãos de defesa dos índios também acirra a disputa na área de conflito.

No fim de semana, o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal, o deputado gaúcho Paulo Pimenta (PT), afirmou por meio da assessoria que dois adolescentes índios, de 12 e 14 anos, continuam desaparecidos após o confronto ocorrido quarta-feira na fazenda Madama, em Coronel Sapucaia.

Na sexta-feira, um dia após visitar a fazenda Madama e outras duas propriedades ocupadas por índios em Aral Moreira, Pimenta disse ao site que apenas um garoto continuava desaparecido e que o outro já tinha sido encontrado no mato.

Entretanto, no sábado sua assessoria distribuiu material informando que os 60 indígenas se dispersaram durante as ofensivas e na fuga, G.G., de 14 anos, e T.B., de 12 anos, desapareceram e até agora não foram encontrados. “As buscas, na manhã de hoje, foram realizadas pela Força Nacional, Funai e indígenas”, afirmou a assessoria.

Segundo o parlamentar, as informações de que G.G havia sido encontrado não se confirmaram. O garoto é filho de Mario Lescano e Eliane Gomes, e T.B, de Lenivaldo Vasques e Maria Lúcia Martins, que fazem parte do grupo que defendem a demarcação do território de Kurusu Ambá.

Paramilitares – Paulo Pimenta alertou que novas ofensivas contra os índios podem ocorrer nos próximos dias e chamou o grupo de fazendeiros que expulsou os índios da sede da fazenda Madama de “paramilitares”.

Segundo ele, o ponto de maior tensão no momento é na divisa entre as cidades de Aral Moreira e Amambai, “onde famílias indígenas retomaram territórios tradicionais na antiga aldeia de Guaiviry”.

Citando índios que ocupam as duas fazendas em Aral Moreira, Pimenta disse que homens armados permanecem “de tocaia” próximos aos acampamentos.

O Cimi (Conselho Indigenista Missionário), braço da igreja católica que defende os índios brasileiros, também acusa “paramilitares” pelo ataque e reforça que os dois adolescentes continuam desaparecidos.

Citando depoimento de índios do acampamento, o Cimi levanta suspeita de que os garotos teriam sido sequestrados e afirmam que estivessem se perdido já teriam retornado, porque conhecem bem a região.

Produtores cercados – Já os produtores rurais que entraram na fazenda Madama e expulsaram os índios na quarta-feira, afirmam que estão cercados e temem ser “massacrados” em caso de nova ocupação. Ao site A Gazeta News, de Amambai, eles afirmaram que estão desarmados e sem proteção do Estado. Afirmam que os índios fazem “movimentação hostil” nos arredores e teriam bloqueado estradas de acesso à fazenda.

“Estamos desarmados e sem condições de se defender. Eles estão armados e agindo em tons ameaçadores. Precisamos de segurança para evitar um possível confronto e derramamento de sangue”, afirmou o presidente do Sindicato Rural de Sete Quedas, Orlando Vendramini, que está na fazenda Madama em apoio aos produtores.

Sem Força Nacional – Os produtores denunciam também que ao contrário do informado pelo Ministério da Justiça, a Força Nacional não está nas áreas de conflito. As equipes, que se deslocaram de Ponta Porã, estariam em Amambai, a 20 km das áreas em disputa.

O comandante da Polícia Militar em Amambai, Major Josafá Dominoni, informou ao site daquela cidade que a Força Nacional não pode manter uma equipe permanente na fazenda por se tratar de propriedade particular. Segundo ele, o trabalho preventivo é feito de forma permanente na região, mas as viaturas trafegam nas estradas e estão prontas para intervir em caso de novo confronto.