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Sidrolandia

Em favela acampamento na Brejão, noites geladas a 1° grau expõe crianças, idosos e mulheres

A presidente do Sindicato Rural, Rosa Marques, acredita que ainda este ano, o Incra faça vistoria na Fazenda Brejão pertencente a Eduardo Barcelos

Flávio Paes/Região News

25 de Julho de 2013 - 08:18

Foto: Marcos Tomé/Região News

Em favela acampamento na Brejão, noites geladas  a 1° grau expõe crianças, idosos e mulheres

Se para quem está em casa embaixo do edredom não é fácil suportar temperaturas próximas ou até abaixo de 1° grau deste inédito e rigoroso inverno (para os padrões sul-mato-grossenses), imaginem para quem mora num barraco coberto por lona plástica, sustentado por pedaços de madeira recolhidos em entulhos da construção? Esta é a dura rotina das famílias acampadas às margens de uma estrada boiadeira nos fundos da Seara, que na prática, se tornou uma favela nas bordas da área urbana, onde lado a lado com a expectativa pela terra, a motivação é não pagar aluguel.

Boa parte das 625 famílias (algumas há oito anos) que montou barracos para entrar na fila por lotes de um futuro assentamento da reforma agrária, tem seus empregos e casa em Sidrolândia ou Campo Grande, só visita o acampamento duas vezes por mês para participar de reuniões. Ficam lá, desempregados, mulheres chefe de família, que sem emprego fixo ou sobrevivendo da aposentadoria de um salário mínimo do pai ou da mãe, fogem dos aluguéis caros da cidade morando ali mesmo.

É o caso do aposentado Hermenegildo Sorrilha, que aos 80 anos de idade,  que há oito anos se mudou  de Jardim para acampar em Sidrolândia, já se acostumou a esta dura rotina de viver num barraco, sem energia elétrica, água encanada (uma vez por semana a Prefeitura manda um caminhão pipa para encher as caixas d’água).  Por causa do risco de incêndio, não é possível acender uma fogueira para aquecer as noites.

“Pior que o frio, só quando chove e venta forte. O medo que o barraco caia na cabeça da gente”, conta.  Moram também no acampamento, sua filha, Adelaide  três netos  um deles com síndrome de dow que por ser um portador de necessidades especiais garante a mãe, um  benefício da Previdência equivalente a um salário mínimo pago  a portadores de deficiências e idosos.

Em favela acampamento na Brejão, noites geladas  a 1° grau expõe crianças, idosos e mulheresAlguns barracos na frente mora Rafaelli Cabreira, uma garotinha de 4 anos, que desde que nasceu mora no acampamento. Ela não se intimida com o frio, brinca, corre atrás das galinhas criadas pelos vizinhos. Mora com a mãe, Rosilene e  a avó, num barraco as três dividem a mesma cama. Sua rotina é como de qualquer criança da sua idade. Pela manhã vai para a escola (um ônibus da Prefeitura a leva para a uma creche), enquanto a mãe trabalha como diarista nos aviários da região.

Ano passado, a família Camparim retomou 23 hectares onde estavam acampados, fechou um trecho da estrada boiadeira obrigando 80 famílias transferir seus barracos. “Foi a segunda mudança. Antes, morava perto dos trilhos, mas uma decisão da Justiça nos obrigou sair de lá”, relata Rosilene. Ela como seus vizinhos, não tem a menor ideia de quando sairão dos barracos para seus lotes. Um grupo de 20 famílias aceitou a proposta do Sindicato e se mudou para o acampamento em frente da Fazenda Nazaré, propriedade a 100 km dali, na divisa com Nova Alvorada do Sul, adquirida pelo Incra para implantação de um novo assentamento.

A presidente do Sindicato Rural, Rosa Marques, acredita que ainda este ano, o Incra faça vistoria na Fazenda Brejão pertencente a Eduardo Barcelos, onde os acampados esperam ser assentados. “Nem penso mais nisto. Já fica aqui, porque pelo menos, não paga aluguel”, comenta dona Rosilene.