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Sidrolandia

Falta de bons exemplos e dinheiro fácil atraem menores para o tráfico

Segundo Maria de Lourdes, isso acontece mais nas classes menos favorecidas, porém há registros de casos em classes mais abastadas também

Midiamax

13 de Janeiro de 2011 - 08:33

A apreensão de um adolescente de 12 anos com papelotes de cocaína na noite de terça-feira (11) mostrou o quanto o assunto drogas, tráfico e educação familiar ainda precisa ser debatido. Flagrado com sete “paradinhas” da droga, o adolescente declarou à polícia que teria encontrado o entorpecente.

O flagrante aconteceu na Vila Nhá-Nhá, em um beco após a denúncia de moradores que um adolescente estava vendendo drogas no local. Um fato gritante, pois além da idade, esse era o primeiro delito cometido pelo menino, que aqui chamaremos de João, um nome fictício em respeito a lei, que proíbe a divulgação de nomes e fotos de adolescentes em conflito com a lei.

João, agora está preso na Unei (Unidade Educacional de Internação) Los Angeles e falou durante o depoimento que não tinha ideia de que aquilo era crime. Mas já havia visto outros garotos fazendo o mesmo no bairro dele.

Diante de um fato como esse, o Midiamax foi buscar quais as explicações para que os jovens estejam entrando tão jovens no mundo do tráfico. Em conversa com Maria de Lourdes Cano, titular da Delegacia Especializada em Infância e Juventude, ela aponta que a ociosidade aliada à ausência de bons exemplos e dos pais, mais a certeza de que a punição é branda para um crime que rende bem financeiramente, acaba atraindo os adolescentes para o tráfico.

“Um motivo para começar é o número de jovens ociosos, muitos deles que tem envolvimento principalmente com tráfico, estão fora da escola. Alguns já têm o vínculo no próprio núcleo familiar, onde há alguém preso ou usuário de drogas”, aponta Maria de Lourdes.

Ela que defende que adolescentes devem ter o direito de trabalhar, também na facilidade de ganhar dinheiro, uma porta “luminosa” para os adolescentes. Junto a essa mistura, está a certeza de passar pouco tempo apreendido.

“Alguns se atraem pelo valor pago para ser ‘mula’ ou do tráfico formiguinha, como ele – o adolescente – tem um retorno financeiro muito rápido, ele acaba entrando. Sem contar que ele sabendo que ele não vai ser tratado da mesma maneira pela lei, por que o tratamento judicial para o adolescente infrator é totalmente diferente. A lei para o maior de idade, o tráfico é uma situação de perigo, agora para o menor, há uma situação em que ele vai estar lá e logo vai sair. Já aconteceu do adolescente ser autuado em flagrante, passado dois meses ele foi apreendido de novo pelo mesmo delito de tráfico”, conta ela.

Bons exemplos

Para a delegada, acostumada a ver vários casos diariamente de adolescentes infratores, acredita que há também falta de bons exemplos dentro da família. “O foco principal no deve ser a educação familiar. O jovem que não tem espelho em sua casa onde não tem pai e mãe presente, o que acontece? Esse jovem é levado para as ruas”, entende.

“É um problema social, e voltamos na questão de o que deve ser feito para resolver o problema dos jovens. Dando ocupação para esses adolescentes. No caso o menino que foi apreendido, ele acabou confessando que iria vender a droga. Isso mostra que é o momento de vários segmentos se unirem e ver o que é que faltou. Cadê os pais? O que é que está nessa família que esse adolescente foi desviado. Qual a causa? É o primeiro caso dele e um delito tão grave, não teve uma escala, e isso hoje é cada vez mais comum”, atesta com indignação.

Segundo Maria de Lourdes, isso acontece mais nas classes menos favorecidas, porém há registros de casos em classes mais abastadas também, só que com menor freqüência, e em todos os casos, a questão é educacional. “Quando ele não tem a base da educação e da informação, ele vai ser facilmente aliciado pelo traficante”, finaliza.