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Sidrolandia

Família da “musa” do Enem depende do bolsa família para reforçar orçamento

A estudante, que ficou conhecida em todo o País após o parto em situação inusitada, afirma que vai continuar com os estudos para dar um futuro bom para o filho.

Flávio Paes/Região News

07 de Novembro de 2012 - 17:00

De volta a sua rotina no Assentamento Alambari CUT, onde mora em companhia da mãe, Leide Oliveira Lima e do padrasto, Edilson Rodrigues, Pamela de Oliveira Lescano, que teve direito aos seus 15 minutos de fama ao ter seu filho domingo no banheiro da Escola Estadual Catarina de Abreu onde foi fazer as provas do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), tem uma preocupação além dos cuidados com o recém-nascido a quem deu o nome de Everton, em homenagem ao irmão: arrumar a documentação para entrar na Secretaria Municipal de Assistência Social com o pedido do bolsa família, que sua mãe já recebe para reforçar o orçamento doméstico.

Os R$ 112,00 do programa vão ajudar a custear as despesas com Everton que por conta do lugar inusitado em que nasceu, foi "adotado" pela população que o  presenteou com fraldas e vários itens para improvisar seu enxoval.  Pâmela não trabalha (ajuda apenas nos serviços da casa e estuda à noite) não tem uma fonte de renda, daí precisar do bolsa família para amenizar suas dificuldades financeiras.

A  estudante, que ficou conhecida em todo o País após o parto em situação inusitada, afirma que vai continuar com os estudos para dar um futuro bom para o filho. “Quero dar um futuro para esse grande homem que será o Everton”, disse, acrescentando que vai contar com a ajuda da família para terminar o 3º ano, que está cursando.  Nos dia 4 e 5 de dezembro, ela vai dar estar volta a sala de aula para fazer as provas do ENEM que não pode concluir na semana passada. Fará as provas nos mesmos em que o exame será aplicado para presidiários e adolescentes que cumprem penas sócio-educativas nas unidades de internação.

Ainda empolgada com a chegada do filho, Pâmela não tem dúvida: “Agora o meu foco é outro, minha prioridade é o bebê.”.

Para a mãe de Pâmela, Leide de Oliveira Lima, 44 anos, a chegada do neto despertou sentimentos confusos, surpresa e desespero ao mesmo tempo. “Quando falaram que a Pâmela estava em trabalho de parto entendi que havia sofrido um infarto”, relembra. A mãe garante que não desconfiava da gestação da filha e diz que a jovem chegou a procurar o médico por causa das fortes dores que sentia na barriga.

Foto: Rafael Brites/Região News

Família da “musa” do Enem depende do bolsa família para reforçar orçamento

Edilson Rodrigues, Pamela de Oliveira Lescano e a avó de Eventon, Leide Oliveira Lima

A exemplo de tantos outros assentados que receberam lotes da reforma agrária, dona Leide depende do bolsa família para sobreviver. Mesmo tendo acesso aos R$ 20 mil dos recursos do Pronaf (financiamento da Agricultura familiar) não conseguiu tornar a propriedade produtiva. Com medo de não ter condições de pagar o banco, preferiu guardar parte do dinheiro, aplicando apenas na compra de nove vacas leiteiras.

Como não teve dinheiro para investir em técnicas de manejo do gado, como a formação de piquetes, o plantel tem uma produtividade muito baixa, produz em média 20 litros de leite por dia que é vendido na vizinhança. Mantém uma criação de galinhas que acabou destruindo os canteiros da horta que começou a cultivar.

“O que gente produz aqui e só para o próximo consumo”, explica. Ela comemora o fato de ter recebido recursos do INCRA para construção da casa que foi instalada a luz. “Melhorou bastante. Depois de receber o lote, ficamos um ano acampados dentro do acampamento”. Por dois anos ficou acampada em Nova Alvorada do Sul, onde Pâmela morou por algum tempo.

Separada do pai de Pamela, que mora em Fátima do Sul, dona Leite se relaciona com um vizinho de assentamento, Edilson Rodrigues. Como ainda não conseguiu tornar produtivos seus 10 hectares, trabalha na construção civil em Campo Grande para tirar o sustento.