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Sidrolandia

Fiel da balança, Marina propõe plenária no PV sobre 2º turno

A candidata petista vai enfrentar o tucano no segundo turno, em 31 de outubro

BBC Brasil

04 de Outubro de 2010 - 13:12

A candidata do PV à Presidência, Marina Silva, defendeu neste domingo uma votação plenária para definir se seu partido apoiará algum candidato no segundo turno.

Com quase 20 milhões de votos, Marina terminou o primeiro turno das eleições presidenciais em terceiro lugar, com 19% dos votos válidos, contra 46% de Dilma Rousseff (PT) e 32% de José Serra (PSDB). A candidata petista vai enfrentar o tucano no segundo turno, em 31 de outubro.

Apesar da terceira posição, o resultado foi festejado pelo PV, devido à ascensão da candidata nas últimas semanas e ao peso que seus votos terão no segundo turno. Considerando os votos por Estados, Marina acabou em primeiro lugar no Distrito Federal e em segundo no Rio de Janeiro.

"Essa jornada nos deixou felizes e nos fez sentir profundamente vitoriosos. Nós nos dispusemos a iniciar um processo político e a quebrar a ideia do plebiscito, e o Brasil ouviu o nosso apelo de pensar duas vezes", disse Marina Silva durante evento na sede do PV, em São Paulo.

"Estamos felizes, ainda que não tenhamos ido ao segundo turno, porque o Brasil foi para o segundo turno, para pensar duas vezes. Quem sair vitorioso, seja Serra ou seja Dilma, sairá mais legitimado", acrescentou.

Segundo a candidata, a plenária no partido é necessária para ouvir todos os "núcleos sociais" envolvidos no PV.

Durante o discurso de Marina, o clima na sede do PV era de euforia. Estavam presentes o vice na chapa presidencial, Guilherme Leal, o candidato do partido ao governo de São Paulo, Fábio Feldmann, e o candidato ao Senado, Ricardo Young. Fernando Gabeira, derrotado na disputa pelo governo do Rio, não compareceu.

Futuro de Marina

Para o cientista político e professor da PUC-Rio Ricardo Ismael, independentemente do resultado, Marina Silva sai da eleição consolidada como uma liderança nacional fora do eixo PT-PSDB.

"Como é muito nova, ela tem condições de em 2014 disputar de novo, e dentro de uma agenda que tende a crescer no Brasil, que é a do desenvolvimento sustentável", afirmou o professor à BBC Brasil.

Já o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Cláudio Couto diz que, apesar de ter se fortalecido, a candidata do PV corre o risco de perder espaço até a eleição de 2014 por ser radicada em um Estado (Acre) menos relevante politicamente que outros, como São Paulo e Minas, por exemplo.

"A não ser que ela resolva mudar de Estado e dar uma de (Leonel) Brizola", afirma Couto, lembrando o político do PDT que foi governador tanto do Rio Grande do Sul (1959-1963) como do Rio de Janeiro (1983-1987 e 1991-1994).

Peso no 2º turno

Os analistas entrevistados pela BBC Brasil se dividem quanto à influência e ao destino dos votos de Marina Silva no resultado do segundo turno.

Ricardo Ismael avalia que a tendência é que os votos dados a Marina no primeiro turno se dividam de maneira mais ou menos equânime entre Dilma e Serra em 31 de outubro.

Para Cláudio Couto, embora o eleitor do PV seja principalmente oposicionista, a divisão dos votos de Marina será equilibrada, o que descartaria uma influência decisiva dos eleitores do partido no resultado final.

Já na opinião do professor da UnB David Fleischer, a maioria dos votos dados à candidata do PV irão para Serra no segundo turno. "Boa parte dos eleitores dela (Marina) é de estratos mais altos da população, que são os níveis onde Dilma não vai tão bem", diz.

O analista político e professor da USP Gaudêncio Torquato, por sua vez, diz que Dilma será a principal "herdeira" dos votos dados ao PV no primeiro turno. Ele vê tanto uma "proximidade ideológica" de Marina com o PT como uma aproximação de Serra com a direita, o que, em sua opinião, afastaria os eleitores da candidata verde.

Participação do PV

Para Cláudio Couto, seria "estrategicamente correto" para Marina assumir uma posição de neutralidade no segundo turno, mesmo que o PV declare apoio a um ou outro candidato.

"Ela tem tanto uma história com o PT quanto uma vontade de 'paquerar’ a oposição", diz o professor da FGV. "Então não faria sentido apoiar um ou outro."

Já Ricardo Ismael avalia que a candidata verde tende a deixar metade de seu eleitorado insatisfeita caso decida apoiar um concorrente específico no segundo turno.

Ismael vê ainda o próprio PV dividido entre "governistas" (como o atual ministro da Cultura, Juca Ferreira, e o músico e ex-ministro Gilberto Gil) e "oposicionistas" (como o candidato ao governo do Rio, Fernando Gabeira), o que dificulta a opção do partido por Dilma ou Serra.