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Sidrolandia

Justiça bloqueia auxílio de vítima de erro médico porque mãe comprou pão e bolacha

Midiamax

08 de Abril de 2011 - 15:44

A Justiça Federal bloqueou o benefício mensal da indenização por dano moral e/ou material para a compra de alimentos e medicamentos de Rita Stephany Ribeiro, a Ritinha. Com o bloqueio, a família está passando por dificuldades, inclusive para manter a continuidade dos remédios e comida especial da moça, que desde janeiro de 2010 passou a viver em estado praticamente vegetativo.

A justificativa da decisão, segundo a mãe de Ritinha, Inalécia de Oliveira, é porque mensalmente tem que prestar contas à Justiça sobre como foi gasto o dinheiro repassado, que soma pouco mais de R$ 3.700,00 – brutos sem descontar os 35% dos honorários advocatícios.

O problema encontrado pela Justiça que levou ao bloqueio do montante foi que a mãe de Ritinha comprou um pacote de pão de forma, pacote de bolacha e fez recarga para celular, esta última aquisição, segundo a mãe, para que pudesse ligar para pedir socorro em caso de urgência, falar com a advogada que está com a causa, entre outras necessidades que, segundo Inalécia, de inteira necessidade para atender Rita. “Pode ser legal a decisão, mas a gente quer então que o juiz retenha o valor destas compras e não tudo. Ela (Rita) só tem comido e tomado o leite especial porque vizinhos, amigos e parentes estão doando”, diz.

Por dia, Rita toma mais de um litro da dieta líquida (Iso Source) que custa R$ 23,00 a unidade e só é vendida por um estabelecimento comercial de Campo Grande. Para economizar, a mãe tem diminuído a quantidade indicada e substituído por suco, mas as frutas para o preparo também estão em falta. “A sorte é um pé de limão do vizinho que acabou “invadindo” nosso quintal. Daí faço suco de limão pra ela, mas é muito ácido para quem tem a debilidade estomacal dela”, lamenta.

Segundo Inalécia, há três meses Rita está sem o auxílio que é pago, via decisão judicial pela Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul , município de Campo Grande, estado de Mato Grosso do Sul e União.

Desde o bloqueio, os acompanhamentos de neurologista, fisioterapia e fonoaudiologia estão reduzidos e os profissionais que atendem Rita estão sem receber por seus procedimentos, pois o dinheiro que o padrastro da moça, Antônio Valdemar Varela, ganha como técnico de oxigêncio (não fixo) que deveria sustentar a família agora é para comprar a dieta líquida e alguns medicamentos de Ritinha, que não estão disponíveis na rede pública de saúde.

Inalécia explica que o valor determinado pela justiça não pode pode ser utilizado para comprar a sonda gástrica, por exemplo, que custa R$ 780,00. Como Ritinha precisava tirar a sonda nasal e sustitituir por esta outra, a família acabou comprando uma bem inferior no valor de R$ 180,00. “Não é a ideal, mas é a que pudemos comprar e ainda com dinheiro doado de um e de outro”, relata.

Com prestações do apartamento atrasadas e correndo o risco do débito ir para cartório e ainda contas de água e luz também com serviços prestes a ser suspensos, a família de Ritinha faz apelos ao juiz federal que tomou a decisão do bloqueio e ainda para que a comunidade faça doações até a situação ser definida positivamente. “Tem dia que não tem alimentação pra Rita, daí grito pra vizinha me dar um pouco de caldo de feijão pra dar pra ela. Tem dia também que não como. Minha outra filha come na escola e o meu marido: falo pra tentar conseguir comer onde presta serviço. Digo pra ele não recusar nem cafezinho porque em casa a situação está difícil”, completa Inalécia.

Durante todo o tempo em que Inalécia recebeu a reportagem do Midiamax na casa da família, se manteve firme e não chorou. Relatou com detalhes o sofrimento desde o dia que a filha entrou para fazer uma cirurgia e nunca mais andou, comeu utilizando as próprias mãos e falou. A garra da mãe de Ritinha é apontada pela vizinha Sebastiana Moreira, que a socorre nas dificuldades.

Mãe e irmã fazem cachecol para tentar suprir o arroz e o feijão

Inalécia e a filha de 13 anos, Kácia Julian, estão fabricando cachecol para tentar conseguir algum dinheiro e, assim, comprar, ao menos, arroz e feijão. A pouca linha de lã foi doada, mas também está acabando. Os valores das peças vão de R$ 10,00 a R$ 35,00. As vendas ainda não começaram porque a mãe não tem tempo de oferecer para clientes.

A arte do tear foi ensinada para Kácia por Rita antes do problema, depois foi a vez da mãe aprender com a filha mais nova.

O caso

A estudante foi internada dia 26 de janeiro de 2010, no Hospital Universitário para fazer um procedimento simples de implantação de cateter para desobstruir o canal da urina. Após a cirurgia, Rita entrou em coma e segundo a família, o caso se agravou com uma parada cardíaca que causou uma hipoxia cerebral. Ela perdeu os movimentos e ficou totalmente dependente da mãe, que trabalhava como esteticista autônoma e agora pensa em voltar a fazer depilagem em casa para tentar suprir necessidades urgentes de alimentos. A família acredita na tese de erro médico.

Contato

Foto: Alessandra de Souza

Foto: Divulgação

Quem puder colaborar com a família de Ritinha pode entrar em contato pelo telefones: 9624-2921 ou 3381-4543 (este último prestes a ter serviço suspenso por falta de pagamento).