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Sidrolandia

Para evitar assédio sexual, mulheres podem ter presença de enfermeira em ginecologista

Marcar um exame ginecológico pode parecer uma saga para as mulheres mais jovens ou para aquelas extremamente tímidas.

Midiamax

29 de Julho de 2013 - 07:50

Após vários registros de pacientes que dizem ter sido abusadas por médicos em Mato Grosso do Sul, a delegada titular da DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher) Rosely Molina, conversou com o Midiamax para divulgar dicas de como se prevenir.

Marcar um exame ginecológico pode parecer uma saga para as mulheres mais jovens ou para aquelas extremamente tímidas. Os anos podem passar e mesmo assim o problema persistir. Registros de assédio sexual e tentativas de estupro como as registradas recentemente podem, de acordo com a delegada Molina, agravar a situação.

O exame ginecológico, que deve ser pautado pelo respeito e conduta ética, pode ser realizado na presença de uma enfermeira ou técnica se a paciente entender que isso minimiza o constrangimento. “É um direito da paciente solicitar a presença de uma técnica na hora do exame, se ela julgar necessário”, explica a delegada. Como medida de precaução, a paciente pode pesquisar o histórico do médico.

“Não que toda mulher deva ficar preocupada com a rotina de um exame médico, mas ela deve fazer de tudo para se sentir mais à vontade”, explica. A delegada explica que no caso da senhora de 48 anos, que relatou ser virgem e mesmo assim um exame de colposcopia foi realizado. A mulher se sentiu agredida pelo médico e procurou a delegacia.

“Ela explicou que era virgem e ele prosseguiu com o atendimento, introduzindo um objeto nela para a realização do exame”, relata a delegada. Neste caso, a titular aguarda o laudo do exame de corpo de delito. Porém, as situações não devem ser generalizadas.

“A mulher precisa entender que em um exame ginecológico é comum o constrangimento natural devido ao procedimento, a posição em que a mulher fica exposta, o toque para examinação”.

Entretanto, sempre que se sentir constrangida, pode procurar a delegacia para averiguação dos fatos, como no caso de uma paciente cardiológica, em que o médico pediu para que ela retirasse a blusa.

“A paciente tirou, até aí tudo bem, é o procedimento normal. Tornou-se desrespeitoso, segundo a paciente, porque o médico começou a questioná-la sobre uma pintinha que havia no seu seio. E prosseguiu, com comentários indecorosos”, explica.

Sentindo-se ofendida e 'cantada' pelo médico, a paciente procurou a delegacia. “Não é obrigação da mulher aceitar uma situação dessas em uma consulta, que deve ser pautada pela ética”, relata a delegada, explicando que a paciente foi procurar um atendimento médico, não um namorado.

Dificuldades

Muitas mulheres sentem-se constrangidas em fazer a denúncia. O machismo que envolve a situação ainda trava algumas mulheres. “É preciso entender que se o boletim for registrado aqui na delegacia, há uma equipe especializada de assistentes sociais e psicólogas para conversar antes”, explica Molina.

As mulheres não são obrigadas a aceitar um gracejo forçado. “Mas é preciso diferenciar. Não é porque foi cantada na rua que vai procurar a delegacia, mas sentindo-se moralmente ofendida, é direito dela procurar sim”, ressalta.

“Não é porque a mulher anda com pouca roupa que o homem vai ter o direito de violentá-la ou desrespeitá-la. Há um limite onde a pessoa tem o controle do próprio corpo, que a outra não pode ferir”.

A argumentação machista, entretanto, tem sido menor na delegacia. “Não sei se por mudança de comportamento ou por estarem na delegacia da mulher, mas acredito que pela Lei Maria da Penha, os médicos que interroguei não têm utilizado nem insinuado que as pacientes concederam receber este tipo de violação. Eles têm se baseado na conduta ética para a própria defesa”, conta Rosely.

Um problema que deveria estar fora de cogitação em 2013, mas que está aí. A delegada define que a conduta médica deve pautar o atendimento, mas não descarta interpretações erradas de algumas pacientes.

“Quando conversam com as psicólogas, algumas demonstram um histórico de vida que denota má interpretação daquele atendimento médico também. Então é preciso ter muita cautela, mas estamos aqui exatamente para averiguar com o inquérito policial sobre quem teve a conduta errada ou mal interpretada”, ressaltou.