Sidrolandia
Senado critica PF por entrar em imóvel funcional de Collor
Segundo advogado-geral do Senado, PF descumpriu resolução; PF nega. Operação desta terça tem 53 mandados e é desdobramento da Lava Jato.
G1
14 de Julho de 2015 - 16:53
A Polícia Legislativa do Senado e a Advocacia-Geral do Senado informaram nesta terça-feira (14) que a Polícia Federal descumpriu resolução da Casa ao entrar em apartamento funcional do senador Fernando Collor (PTB-AL) para cumprir mandado de busca e apreensão. Segundo o Senado, a entrada de policiais na casa do parlamentar ocorreu sem que fosse apresentado o mandado judicial.
A PF deflagrou na manhã desta terça a Operação Politeia, com a execução de mandados de busca e apreensão na residência de políticos suspeitos de envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava Jato.
Os agentes da PF foram também às casas do senador Ciro Nogueira (PP-PI) e do deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), em Brasília, do ex-ministro e ex-deputado Mário Negromonte (PP-BA), na Bahia, e do ex-ministro e senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE). Também foi realizada busca e apreensão na casa do ex-deputado João Pizzolati (PP) e na casa da ex-mulher dele, em Santa Catarina.
De acordo com o advogado-geral do Senado, Alberto Cascais, a PF descumpriu a resolução nº 40 da Casa e fez o que ele chamou de "invasão". "Pra quem não sabe, resolução tem força de lei. Então, a PF ao adentrar a um próprio do Senado, eu entendo, é claro que anda vamos estudar o caso, mas entendo que começam aí as ilegalidades. E isso pode até macular o inquérito policial", disse Cascais.
"Não tem objetivo nenhum da Polícia do Senado, do Senado, de qualquer órgão, de obstar o cumprimento de um mandado judicial, só que esse mandado judicial nunca foi apresentado. O que houve aqui foi uma simples invasão, porque esse mandado não foi mostrado a ninguém", completou.
A assessoria de imprensa da Polícia Federal informou que a Polícia Legislativa não possui legitimidade para receber mandados oficiais. Ainda assim, segundo o órgão, a PF apresentou o documento, mas não o entregou. A PF também informou que a resolução é do Senado e a busca foi amparada por uma decisão de ministros do Supremo Tribunal Federal.
De
acordo com o diretor da Polícia Legislativa do Senado, Pedro Ricardo Araújo
Carvalho, não foi apresentada nenhum documento oficial da PF durante a
apreensão. Nós chegamos aqui e fomos impedidos de entrar numa residência
oficial do Senado, supostamente por pessoas que diziam ser membros do
Ministério Público e policiais federais. Não nos foi mostrado nenhum documento
oficial que comprovasse a informação e também não nos foi mostrado o mandado de
busca e apreensão, disse.
Ao todo, a PF foi autorizada a cumprir 53 mandados. As autorizações foram dadas
pelos ministros Teori Zavascki, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski, do
Supremo Tribunal Federal (STF). Os mandados fazem parte de seis inquéritos do
Supremo que investigam políticos dentro da Operação Lava Jato.
O que dizem os suspeitos
Senador Fernando Collor (PTB-AL) - A defesa de Collor usou as redes
sociais para se manifestar sobre a busca e apreensão em suas residências. No
Twitter e no Facebook, os advogados do senador do PTB disseram repudiar com
"veemência" a ida dos policiais federais a residência dele.
A medida invasiva e arbitrária é flagrantemente desnecessária, considerando que
os fatos investigados datam de pelo menos mais de dois anos, a investigação já
é conhecida desde o final do ano passado, e o ex-presidente jamais foi sequer
chamado a prestar esclarecimentos", diz trecho da nota.
Senador Ciro Nogueira (PP-PI) - Responsável pela defesa do senador Ciro Nogueira (PP-PI), o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, classificou de abusiva a busca e apreensão de documentos na casa do cliente dele.
O senador já falou, colocou à disposição da polícia o sigilo telefônico, bancário e fiscal. Vivemos uma época em que medidas invasivas se tornaram regra, não exceção. Ele já prestou depoimento, ressaltou Kakay.
Senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) - Por meio de nota, o advogado André Luís Callegari, que defende Fernando Bezerra Coelho, disse que o parlamentar do PSB confia no trabalho das autoridades e que continua à disposição da polícia para colaborar nas investigações. Segundo o criminalista, Bezerra está aguardando para prestar depoimento no inquérito da Lava Jato.
O senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) manifesta sua confiança no trabalho das autoridades que conduzem este processo investigatório e continua, como sempre esteve, à disposição para colaborar com os ritos processuais e fornecer todas as informações que lhe forem demandadas; inclusive, de documentos que poderiam ter sido solicitados diretamente ao senador, sem qualquer constrangimento. Fernando Bezerra Coelho aguarda o momento de seu depoimento e reitera sua confiança no pleno esclarecimento dos fatos", escreveu o advogado no comunicado.
Organização Arnon de Mello - O diretor jurídico da Organização Arnon de Mello, Djalma Mello, disse que a empresa está atendendo ao mandado judicial cumprido pela Polícia Federal. Vamos atender a todas as exigências porque não há nada fora da normalidade, disse o assessor jurídico.
João Pizzolati, ex-deputado - O advogado Michel Saliba, que defende o ex-deputado João Pizzolati, criticou a operação. "Confio muito na equidade com a qual a ministro Teori Zavascki decide, acho extremamente ponderada. E confio plenamente nas decisões do Supremo. Mas atitudes invasivas me preocupam, achei a operação desnecessária. Nos colocamos à disposição para quaisquer esclarecimentos."
Thiago Cedraz, advogado - Em nota, o escritório onde trabalha Thiago Cedraz disse que "considera uma violência sem precedentes, um atentado ao regular exercício da profissão, medidas autorizadas com base em uma delação negociada por um réu confesso que mente a fim de se beneficiar". A nota tambem afirma que "desde as primeiras notícias publicadas na imprensa, o escritório se colocou à disposição das autoridades para repassar informações necessárias à correta compreensão dos fatos. Com reiteradas solicitações. Mas sequer teve uma reposta das autoridades".