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Sidrolandia

Projeto revoluciona escola de periferia da Capital

A instituição de ensino não era diferente da maioria e apresentava estrutura precária e alunos desinteressados

Diário Digital

15 de Setembro de 2014 - 08:45

Se mudar o mundo depende de cada um de nós, então um professor em Campo Grande tem cumprido com a missão. Ao implantar um projeto que transformou uma escola pública na periferia da Capital, Alexandre Gonçalves de Souza mostra que educação exemplar pode vir de pequenas grandes ideias. Quando o professor Alexandre assumiu uma turma na Escola Estadual Olinda Conceição Teixeira, no bairro Jardim Oliveira II, ele já esperava as dificuldades.

A instituição de ensino não era diferente da maioria e apresentava estrutura precária e alunos desinteressados. Diante de uma sala com pior desempenho da escola e alunos com problemas de relacionamento, Alexandre resolveu mudar o rumo da grade curricular e criou em 2011 o projeto Agência 30 Ideias PP (Publicidade e Propaganda). Totalmente baseada no funcionamento de uma agência publicitária real, a atividade envolve grupos de alunos que desenvolvem as funções de contabilidade, de recursos humanos, de criação e produção de campanhas. A iniciativa era o que faltava para motivar os estudantes.

"Bastou um bimestre para a turma se tornar a melhor da escola e os pais começaram a nos perguntar qual o milagre de toda mudança", afirma o professor. 

Nas campanhas publicitárias, os alunos tratam temas relacionados ao ambiente escolar como bullying, matrículas e a devolução de livros na biblioteca. "Aproveitamos até mesmo as disciplinas para serem trabalhadas no projeto. A matemática, por exemplo, é colocada em prática pelos alunos no departamento de contabilidade", explica.  A melhora significativa das notas foi o primeiro indício de que o professor Alexandre estava no caminho certo. Em poucos meses, os alunos saltaram da média 6 para 7,5 e alunos que até então eram considerados praticamente analfabetos deixaram a média 3 para trás e assumiram médias acima de 6.

"Sem contar as relações entre alunos e professores que tiveram uma mudança drástica", revela. Em 2012, foi integrada ao projeto a agência de cinema, o que cativou ainda mais o interesse dos estudantes e que ajudou Alexandre a descobrir talentos. O primeiro filme produzido foi baseado na poesia de Manoel de Barros e levou alunos a mergulharem na vida do poeta sul-mato-grossense.

"Eu não conhecia Manoel e antes de produzirmos o filme, trabalhamos a biografia dele e as poesias", conta Carla Thallytat, de 8 anos. Depois de Manoel, alunos se dedicaram as gravações do filme "Copa do Mundo" que mostrou o clima da torcida brasileira nos jogos da Seleção. Atualmente, a turma de 90 alunos da agência de cinema está envolvida na produção de um curta que revela as belezas de Campo Grande.

"Muitos estudantes da periferia não conhecem a Capital e é uma forma de oportunizar que isso aconteça", diz o professor que desembolsa junto dos alunos parte dos recursos para levar o projeto adiante.  Por meio do trabalho, o estudante Jean Felipe, 12 anos, descobriu a paixão pela produção de vídeos.

 "Aprendi a fotografar e a filmar no projeto e hoje faço meus próprios filmes sobre skates", ostenta o garoto que pretende seguir na carreira de cinema.  A ideia da agência publicitária se tornou grandiosa e arrebatou não só o interesse dos alunos, mas também de instituições de ensino Brasil e mundo afora.

Hoje, a Escola Olinda mantém um intercâmbio cultural com escolas dos países do Panamá e Costa Rica para onde são enviados os vídeos produzidos pelos integrantes do projeto. Tudo começou em setembro de 2012 quando o professor Alexandre foi premiado como educador inovador pela Microsoft e representou o Brasil na República Tcheca onde apresentou o 30 Ideias PP a professores do mundo todo.  De lá para cá, vieram outras premiações que colocaram a Escola Olinda em um patamar de destaque nacional. A instituição, em 2013, ficou entre as seis melhores do Brasil.

Projeto revoluciona escola de periferia da Capital"Revelamos que não é porque é escola pública e de periferia que precisa ser ruim", afirma Alexandre. O projeto da agência impulsionou mudanças na escola. "Hoje temos uma estrutura boa, computadores novos e até uma câmera de filmagem melhor, tudo graças ao sucesso da Ideia PP".  De uma escola com pintura descascada e móvel quebrado, a escola no bairro Jardim Oliveira hoje é orgulho da comunidade. Os pais chegam a peregrinar no local para garantir que os filhos não percam vagas no que eles consideram uma escola de qualidade.

"O trabalho é exaustivo, mas vale pelo resultado final, ao ver o encantamento dos alunos e dos pais e a mudança trazida para o ambiente escolar", reflete o professor.  Para o aluno Luciano Ortiz, 9 anos, iniciativas como as trazidas pelo professor Alexandre deveriam receber investimentos do poder público e se estender para as outras escolas. O estudante que antes apresentava notas abaixo de 5 aprendeu a gostar de estudar, porém de um modo diferente e criativo. "Tenho mais motivação todos os dias para vir para a escola”.