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Agronegócio

Calor e seca reduzem a produtividade da soja

Estudo aponta redução de 6% no rendimento do grão para cada 1°C a mais na temperatura; prejuízos chegam a R$ 11,4 bilhões.

Correio do Estado

27 de Julho de 2023 - 09:15

Calor e seca reduzem a produtividade da soja
GERSON OLIVEIRA.

Com influência direta sobre uma das mais importantes atividades econômicas de MS, a agricultura, as mudanças climáticas já impactam o Estado, que acumula prejuízos de R$ 11,4 bilhões. Estudo do Instituto de Pesquisas Ambientais (Ipea) apurou redução de 6% no rendimento da soja para cada 1°C de aumento na temperatura.

Conforme dados da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), que têm por base o histórico da produção do grão no Estado nos últimos 10 anos, é possível observar a quebra na produtividade em períodos sistêmicos, em que a irregularidade de chuvas interferiu negativamente.

“O preço médio da comercialização da safra de soja 2021/2022 ponderado pelo volume comercializado por mês foi de R$ 168,34. Ao considerarmos o valor de R$ 168,34 por saca de 60 kg, tem-se que 1 tonelada de soja equivale a R$ 2.805,67. Para uma produção de 8,692 milhões de toneladas, o resultado foi de R$ 24,4 bilhões. Considerando a primeira estimativa de produção antes dos problemas climáticos, teríamos 12,773 milhões de toneladas, resultando em R$ 35,8 bilhões”, detalha o departamento econômico da Aprosoja-MS.

Em resumo, é possível concluir que houve uma diferença de R$ 11,4 bilhões, ou seja, redução de 31,84% na produtividade da soja durante o período de deficit hídrico em Mato Grosso do Sul.

Segundo a pesquisa do Ipea, produtores apontam que as consequências dos períodos de seca recentes são a concentração fundiária e o endividamento. “As tecnologias agrícolas não fornecem adaptação ao calor extremo e criaram uma dependência da disponibilidade de capital para investimentos em irrigação, levantando questões sobre a sustentabilidade futura desse sistema agrícola intensivo em capital se não ocorrerem avanços na adaptação”, cita o estudo.

Neste ciclo 2022/2023, em que houve maior disponibilidade hídrica, MS colheu 15 milhões de toneladas do grão, com produtividade média de 62,44 sacas por hectare.

De acordo com a Embrapa, aproximadamente 15% dos estabelecimentos agropecuários do Brasil estão localizados no Cerrado, que totaliza mais de 30% da renda bruta agrícola do País.

Da mesma forma, a expansão agrícola recente no Cerrado ocorreu principalmente para a cultura da soja e representa 50% da área total plantada em 2018.

Em contraste, as secas de 2015 e 2016 reduziram a produtividade média em 33% no bioma, conforme indica pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Assim, à medida que as projeções de temperaturas mais altas na região em razão das mudanças climáticas se concretizam, os ganhos financeiros esperados podem se tornar irreais para as próximas décadas.

No contexto climático, o economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Staney Barbosa Melo, destaca que o Brasil é privilegiado geograficamente, por não possuir eventos extremos como furacões e tornados, todavia, frisa que o fato não torna a região imune às influências nocivas das intempéries climáticas.

“Aqui a questão do clima também é uma constante determinante de nossa economia. Em 2021, tivemos uma das piores crises hídricas de nossa história. Na safra 2020/2021, a produtividade do milho caiu 36%, de 4.700 quilos por hectare [kg/ha] para 2.980 kg/ha”, exemplifica.

PARECER

Sobre o panorama atual, o pesquisador em Agrometeorologia da Embrapa Agropecuária Oeste, Éder Comunello, faz alguns apontamentos. “Os efeitos ocorrem principalmente pela alteração nos padrões de chuvas e na temperatura. A ocorrência de eventos extremos, como secas prolongadas ou chuvas intensas e estresse térmico, podem prejudicar a produção”.

Ainda segundo Comunello, mudanças climáticas também podem ter influência na proliferação de pragas e doenças.

“Os agricultores precisam adotar práticas agrícolas mais sustentáveis e adaptadas ao clima futuro, como o uso de variedades de soja resistentes e técnicas de conservação do solo, como seguir o Zoneamento Agrícola de Risco Climático [Zarc]”, salienta.

Quanto ao Zarc, o pesquisador José Renato Bouças Farias, da Embrapa Soja, explica que se trata de uma ferramenta de análise de risco que auxilia a tomada de decisão no campo, considerando a probabilidade de ocorrência de adversidades climáticas baseada em uma série histórica de dados.

Para a soja, foram definidas as áreas e os períodos de semeadura, simulando probabilidades de perdas de rendimento inferiores a 20%, 30% e 40% em razão da ocorrência de eventos meteorológicos adversos, principalmente seca durante a fase reprodutiva da planta. “É importante ressaltar que o Zarc não estabelece os períodos e os locais de semeadura com maior probabilidade de obtenção dos maiores rendimentos”, relata o pesquisador.