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Economia

Vendas do comércio crescem 0,60% em fevereiro

Em 12 meses, avanço é 0,4%, mas setor enfrenta agora o agravamento da pandemia.

G1

13 de Abril de 2021 - 08:15

Vendas do comércio crescem 0,60% em fevereiro
Comércio fechado durante medidas de restrição no Distrito Federal — Foto: TV Globo/Reprodução

As vendas do comércio varejista cresceram 0,60% em fevereiro, na comparação com janeiro, impulsionadas por produtos relacionados à volta às aulas, apontam os dados divulgados nesta terça-feira (13) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na comparação com fevereiro do ano passado, porém, houve queda de 3,8%, com o setor passando a enfrentar agora o agravamento da pandemia de Covid-19 e restrições mais rigorosas no funcionamento do comércio.

Vendas do comércio voltam a crescer após dois meses seguidos de queda — Foto: Economia/G1
Vendas do comércio voltam a crescer após dois meses seguidos de queda — Foto: Economia/G1

O resultado veio dentro do esperado. A expectativa em pesquisa da Reuters era de alta de 0,6% na comparação mensal e de recuo de 3,9% sobre um ano antes.

Efeito volta às aulas

De acordo com o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, o crescimento das vendas em fevereiro está diretamente relacionado com o retorno das atividades escolares.

"Janeiro é um mês de contas extraordinárias, como IPTU e IPVA, então é comum um consumo menor no comércio. Já em fevereiro, temos a volta do orçamento mensal das famílias a uma maior normalidade e o retorno dos alunos às escolas, aquecendo as compras de material escolar. Assim, mesmo com o cancelamento do carnaval, que impacta, por exemplo, em menores vendas de bebidas alcoólicas nos supermercados, tivemos uma variação positiva esse mês”, afirmou o pesquisador.

Santos destacou, também, a alta de 9,3% nas vendas de móveis e eletrodomésticos, após 5 meses seguidos de queda.

"No início da pandemia, houve uma antecipação de consumo desses produtos. As pessoas ficando em casa, houve uma substituição desses itens. Há quedas a partir de setembro e agora, então, tem um reposicionamento", explicou.

Queda de 2,1% no acumulado no ano

No acumulado dos dois primeiros meses de 2021, na comparação com o mesmo período do ano passado, o varejo brasileiro ainda tem queda de 2,1% – maior recuo para o período desde 2017, quando ficou em -2,4%.

Já no acumulado nos últimos 12 meses, o avanço é de 0,4%, mostrando redução do ritmo pelo quarto mês seguido. O resultado do varejo em 12 meses até fevereiro também é o mais baixo desde 2017 (-5,4%).

"O varejo se encontra agora no mesmo patamar de setembro de 2020 e 0,4% acima do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020)", destacou o IBGE.

Indicador acumulado em 12 meses mostra perda de ritmo da recuperação do comércio varejista — Foto: Economia/G1
Indicador acumulado em 12 meses mostra perda de ritmo da recuperação do comércio varejista — Foto: Economia/G1

4 das 8 atividades tiveram taxas positiva

O avanço de 0,6% no volume de vendas na passagem de janeiro para fevereiro teve taxas positivas em quatro das oito atividades pesquisadas, com destaque para "Livros, jornais, revistas e papelaria" (15,4%), "Móveis e eletrodomésticos" (9,3%) e "Tecidos, vestuário e calçados" (7,8%).

Veja o desempenho de cada um dos segmentos em fevereiro:

  • Combustíveis e lubrificantes: -0,4%
  • Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: 0,8%
  • Tecidos, vestuário e calçados: 7,8%
  • Móveis e eletrodomésticos: 9,3%
  • Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: -0,2%
  • Livros, jornais, revistas e papelaria: 15,4%
  • Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: -0,4%
  • Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -0,5%
  • Veículos, motos, partes e peças: 8,8% (varejo ampliado)
  • Material de construção: 2% (varejo ampliado)

Na outra ponta, houve queda em fevereiro nos segmentos de "Outros artigos de uso pessoal e doméstico" (-0,5%), "Combustíveis e lubrificantes" (-0,4%), "Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação" (-0,4%) e "Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos" (-0,2%).

Já as vendas de supermercados, que possui o maior peso no índice, registraram avanço de 0,8% contra janeiro e queda de 4,6% contra na comparação anual, houve queda de 4,6%.

Na análise por regiões, 19 das 27 unidades da federação tiveram taxas positivas em fevereiro frente a janeiro, com destaque para Amazonas (14,2%), Rondônia (11,5%) e Piauí (8,3%). Já as maiores quedas ocorreram no Acre (-12,9%), Tocantins (-4,4%) e Distrito Federal (-2,1%).

Varejo ampliado

Pelo conceito varejo ampliado, que inclui "Veículos, motos, partes e peças" (8,8%) e de "Material de construção" (2%), o volume de vendas cresceu 4,1% em relação a janeiro e caiu 1,9% na comparação com fevereiro de 2020. No acumulado no ano e nos últimos 12 meses, ainda há queda, de 2,5% e de 2,3%, respectivamente.

"Material de construção é uma atividade que tem crescido muito, tanto porque as pessoas, estando mais tempo dentro de casa, acabam vendo necessidade de fazer melhorias em suas residências, quanto pelo fato de que grandes obras também veem sendo retomadas pelas construtoras”, destacou Santos.

Agravamento da pandemia e inflação

Indicadores antecedentes têm mostrado uma queda no ritmo da atividade econômica e da confiança de empresários e consumidores neste começo de ano em meio ao agravamento da pandemia, novas medidas restritivas e aumento das preocupações com as contas públicas do país.

A confiança do comércio despencou em março para o menor nível desde maio de 2020, de acordo com sondagem da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Para o economista da Necton, André Perfeito, os números do comércio reforçam a perspectiva de um trimestre com retração do PIB.

"Vale notar que os dados são de fevereiro e que foi em março que a fase mais aguda das medidas de distanciamento social foram adotadas, logo é de se esperar que os dados venham ainda piores no trimestre efetivamente completo", avaliou.

Analistas têm destacado que o grande número de desempregados, o aumento de preços e a interrupção da concessão do auxílio emergencial nos primeiros meses do ano e a nova rodada de pagamentos com valor menor em 2021 são outros fatores de maior pressão sobre o consumo das famílias.

“O rendimento médio das famílias de baixa renda chegou a aumentar 130% com o auxílio emergencial e, por isso, o período de maio e outubro foi muito bom para o comércio varejista, que chegou a atingir patamar 6,5% acima do período pré-pandemia. Em dezembro, no entanto, o valor do auxílio diminuiu e, em janeiro, deixou de existir, e isso reduziu o consumo”, destacou o gerente da pesquisa do IBGE.

Pesquisa Focus do Banco Central, divulgada nesta segunda, mostrou piora nos principais indicadores. A projeção do mercado para a inflação de 2021 subiu de 4,81% para 4,85%. A expectativa dos analistas para a alta do PIB (Produto Interno Bruto) caiu de 3,17% para 3,08%. Já a estimativa para a taxa básica de juros ao final do ano subiu de 5% ao ano para 5,25% ao ano.