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Esporte

Ceni festeja volta por cima antes de "viver a vida em 90 minutos"

Goleiro comemora final após 6 meses longe dos gramados, elogia grupo, mas teme pelo futuro sem Lucas. Para ele, 2013 tem de começar logo

Globo Esporte.com

05 de Dezembro de 2012 - 15:43

Não estranhe se, no vídeo da entrevista de Rogério Ceni, você ouvir um incômodo barulho ao fundo. É que o goleiro do São Paulo atendeu o GLOBOESPORTE.COM num cenário um tanto quanto rústico. Uma arquibancada de ferro no ginásio poliesportivo do Boca Juniors, na Bombonera, local onde nesta quarta-feira o seu Tricolor começa a lutar pelo título da Copa Sul-Americana contra o Tigre.

À frente, garotas treinavam futsal. Atrás, rapazes jogavam bocha, e “participavam” da entrevista a cada vez que a pesada bola batia com força na parede. A rápida entrevista, antes que Ney Franco chamasse os jogadores para o último treino antes da decisão, teve de ser feita dentro do ginásio porque fora, no estacionamento, dezenas de garotos com camisa do Boca cercaram o capitão em busca de fotos e autógrafos. Garotos que certamente nem eram nascidos quando Rogério Ceni esteve na Bombonera pela primeira vez, em 1993.

- Eu mudei mais do que o estádio. O concreto não muda tanto quanto o rosto da gente.

A pouco mais de um mês de completar 40 anos, Ceni vive também uma vitória pessoal ao disputar a final da Sul-Americana. No início do ano, a séria lesão no ombro direito gerou dúvidas sobre a sequência de sua carreira. Na época, o goleiro gravou um vídeo e disse que aquele “não era o fim”. E não era mesmo. O ótimo momento na reta final do Brasileiro e na Sul-Americana, e o fato de disputar uma final tão rapidamente, não surpreendem tanto quanto os mais de 30 jogos consecutivos sem lesões musculares. Fruto de um trabalho intensivo de recuperação, que vai continuar até nas férias.

A decisão empolga Rogério Ceni, mas o futuro o preocupa, principalmente sem Lucas, xodó do capitão. Entre elogios ao comportamento do grupo, ele alertou contra o relaxamento em razão de um possível título da Sul-Americana, pediu reforços ainda neste ano e analisou a contratação do goleiro Renan Ribeiro, do Atlético-MG.

- É jovem, tem certa experiência, mas te confesso que há outras posições mais carentes.

 GLOBOESPORTE.COM: Você teve um início de ano muito sofrido, e termina numa final. Foram sensações muito diferentes, como você viveu isso?

Rogério Ceni: Ter lesão em pré-temporada é sempre complicado, mas houve tempo de pegar as principais competições, já que não disputamos a Libertadores. Foram momentos distintos. Chegamos às semifinais do Paulista, o que não deixa de ser obrigação, e da Copa do Brasil. Não participei, foram tempos de paciência, dedicação e trabalho, que reverteram em coisas difíceis, como a volta à Libertadores e a oportunidade de chegar a uma final inédita. Quem sabe a gente não traga essa Sul-Americana para o torcedor, acho que ele ficaria muito feliz. Seria um fim de ano justo e razoável por tudo que se passou em 2012.

E jogar aqui na Bombonera...

 Pra você ter uma ideia, joguei uma Recopa aqui em 1993 contra o Boca, aos 20 anos. Fico muito feliz de, chegando aos 40, poder jogar uma final novamente nesse estádio. É extremamente gratificante viver situações semelhantes quando garoto e no fim da carreira.

O que mudou mais, você ou a Bombonera?

 Acho que eu. Aqui a tinta faz uma diferença, nós não podemos usar maquiagem. Fiquei mais velho, experiente, conheci mais coisas. Foram mais de mil jogos de lá pra cá, aqui também provavelmente foram mais de mil jogos disputados. É um estádio muito bacana, de uma grande equipe, palco de grandes decisões, assim como o Morumbi, onde será o jogo da volta. Eu fiquei mais velho. O concreto não muda tanto quanto o rosto da gente.

Você disse, ainda machucado, que esse grupo merecia coisas boas porque era muito aguerrido. Depois que você voltou a jogar, confirmou essa impressão?

 Olha, é um grupo excepcional em amizade, relacionamento, comportamento diário. Tem algumas deficiências, é natural. Por mais que haja opções em determinadas posições, faltam em outras, mas esse grupo merece pela maneira como vive as coisas. Podemos evoluir bastante como equipe, é a última oportunidade do Lucas chegar a um título, e tudo passou pelo amadurecimento desse jogador. Um menino que cresceu muito nesse fim de ano, carrega uma pressão grande, mas joga mais solto. Seria um fechamento com chave de ouro ter uma conquista internacional.

E é uma vitória pessoal para você também, após a lesão, as dores, chegar à final jogando bem?

 Sim, e tão rapidamente porque as dores continuam no ombro. Faço fortalecimento todo dia para entrar numa partida em condições. Foram seis meses no ostracismo, na recuperação física, com dificuldades, e poder desfrutar de um momento tão bacana, de tentar ser campeão novamente, foi uma surpresa. E outra grande surpresa foi ter conseguido me manter sem lesões musculares, pela falta de ritmo. Convivi com edemas, líquido, joelho dolorido, mas consegui manter essa sequência fundamental para estar bem e confiante antes dessa decisão.

Independentemente do que acontecer na final, suas férias serão diferentes?

 Serão muito diferentes dependendo do resultado. Quando sai vitorioso, são férias. Derrotado, é só uma sequência para o ano que vem. Mas a preparação tem de ser diferente. Não posso me dar o luxo de parar, mesmo sendo só três semanas, o que também não é nada fora do comum. Preciso de musculação e manter o peso para voltar bem.

Como você avalia a contratação do Renan Ribeiro e a situação do Denis?

 O Denis é um ótimo goleiro tecnicamente, se aprimorou, é natural para mim que ele venha a ser o titular, e está sendo preparado para isso. E vejo o Léo (terceiro goleiro) num ótimo momento técnico, apesar de inexperiente. O Renan é uma aposta, jovem, mas jogou numa equipe de grande porte que é o Atlético-MG. Confesso que há outras posições mais carentes, mas entendo como uma aposta. O São Paulo fez uma análise do seu potencial e viu que ele teria futuro.

 Depois de um 2011 tão ruim, essa final pode ser a reconstrução do São Paulo?

 Tenho muito medo da saída do Lucas para o ano que vem, e a conquista de um título pode trazer um relaxamento que não fará bem. 2013 já está sendo pensado, mas tem de ser executado ainda este ano. Temos de ter reposição. Dificilmente será à altura do Lucas, mas temos de ter opções porque teremos o Fluminense e o Corinthians prontos, o Grêmio competitivo. Nesse campeonato, somamos um ponto contra o Fluminense, nenhum contra o Grêmio e tivemos 50% de aproveitamento contra o Atlético-MG, times que terminaram à nossa frente. E o Lucas faz muita diferença. 2013 pode começar com muito entusiasmo, mas com muita preocupação. Serão várias competições e se faz necessário um grande elenco.

É gostoso estar numa final, não é?

 Ah, é sempre muito bom. Torneios eliminatórios têm jogos especiais, é preciso minimizar o erro, viver a vida naqueles 90 minutos. O Campeonato Brasileiro tem de continuar sempre por pontos corridos, mas essas copas são muito legais. Gera ansiedade até em quem é mais velho, como eu. Você fica mais ligado, vive a emoção do jogo, tem a parte psicológica. É uma atmosfera diferente.

Você jogou duas Copas do Mundo, uma com Felipão e outra com Parreira. Como vê a volta deles à Seleção?

 A troca em meio a uma caminhada gera dúvidas, mas acho que foi feita por pessoas acostumadas à seleção brasileira e à Copa do Mundo. O Felipão tem o carisma da última conquista, e o Parreira, a experiência de outras Copas. Foi uma boa escolha, acalma o torcedor. Troca-se a vontade que o Mano tinha de vencer pela experiência de treinadores que sabem viver bem aquilo. Torço muito pelos dois, em especial pelo Felipão, que conheci naquela conquista de 2002. Acho que a intenção do presidente da CBF foi dar mais credibilidade à Seleção para o torcedor.