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Esporte

Ex-companheiro de equipe, Tarso Marques defende Alonso: "Na F1, egoísmo é mérito"

Brasileiro, que foi uma espécie de professor do espanhol em seu ano de estreia pela Minardi, em 2001, coloca Alonso acima de Schumacher e aprova a busca por outros caminhos fora da Fórmula 1.

Globo Esporte

18 de Agosto de 2018 - 09:56

Tarso Marques foi a primeira referência de Fernando Alonso na Fórmula 1. Em 2001, com apenas duas temporadas nas divisões de base, o espanhol chegou à equipe Minardi para uma temporada de aprendizado na elite do automobilismo. Encontrou no brasileiro, cinco anos mais velho, um professor. Que logo se tornaria um amigo para toda a vida. Laços que fizeram o paranaense conhecer, como poucos, o espírito competitivo daquele garoto de 19 anos. 

- Ele chegou muito cedo, muito jovem, e mesmo com essa falta de experiência, já havia ali esses primeiros sinais de que ele era um piloto fantástico. Não só pela velocidade, mas sim por aprender tudo muito rápido e se adaptar às situações inusitadas com muita facilidade. É um daqueles caras abençoados, que realmente fazem a diferença e tiram muito mais do que o equipamento proporciona – conta Marques. 

Amigos, amigos, negócios à parte 

Atualmente afastado no automobilismo de competição, Tarso discorda do discurso da maioria, que culpa o comportamento de Alonso dentro das equipes nas quais correu como o grande empecilho para a continuidade de sua carreira na F1. E defende a postura individualista do pupilo, que considera "uma característica dos campeões". 

- Quando vejo as pessoas criticando a postura dele, que ele cria problema nas equipes, eu não vejo por esse lado. É um mérito de todo campeão, de certa forma, manipular a equipe. O automobilismo é um esporte que, para ter sucesso, ser vencedor, você tem que ser egoísta. Tem que pensar em você em primeiro lugar, você em segundo lugar, você em terceiro lugar, e depois vem o resto. Lógico, você quer que sua equipe esteja bem. Desde que o outro piloto acabe a corrida atrás. Então eu acho que é mérito, é qualidade – salienta o piloto, que também correu na Indy e na Stock Car. 

Competitividade à flor da pele 

Apesar da amizade e das horas de lazer fora da pista, Tarso lembra com bom humor que a competitividade da dupla nos tempos de Minardi aparecia em detalhes do cotidiano. Como, por exemplo, ver quem seria o último a sair do box da equipe após as reuniões com engenheiros, assim como chegar o mais cedo possível ao autódromo antes dos treinos. Até o dia em que deram e cara com os portões fechados e combinaram, a partir de então, sair do hotel no mesmo horário. 

- É um cara que eu respeito demais, e ele sempre me respeitou demais como piloto. E foi o piloto que eu mais me dei bem na minha carreira e o que eu mais considero amigo de todos os pilotos com quem eu convivi em toda a minha carreira. Um cara sensacional. Muita gente fala muito mal, que é um cara arrogante, difícil de lidar, e penso: “não é o mesmo cara que eu conheço” – afirma o paranaense de 42 anos. 

Novos horizontes 

Dizendo não se apegar a números, Tarso classifica Fernando Alonso como “gênio” e coloca o espanhol acima de Michael Schumacher entre os maiores pilotos de todos os tempos. Observando o amigo “mais feliz, mesmo não tendo os resultados”, ele concorda com o movimento de carreira que o bicampeão mundial de Fórmula 1 fará em 2019. Quando se dedicará a outras competições, como as 500 Milhas de Indianápolis e as 24 Horas de Le Mans. 

- É um cara que é competitivo, que todas as equipes consideram por unanimidade um dos três melhores do mundo. Mas não está num carro em condições de chegar entre os dez primeiros. É um esportista reconhecido, bem pago, que agora está preocupado com este desafio da Tríplice Coroa, e está certo. Para ficar na F1 se matando para andar em décimo, é melhor ir lá e tentar ganhar tudo isso, e ficar livre para voltar à F1 num time competitivo em 2020. Acho que ele está vendo dessa maneira – avalia. 

Corridas previsíveis motivaram decisão de deixar a Fórmula 1, justifica Alonso 

Em 2018 Alonso já vem revezando os GPs de F1 com as provas de longa duração do Mundial de Endurance. Venceu em julho as 24 Horas de Le Mans, e no próximo ano deve voltar suas atenções à Fórmula Indy. Em caso de vitória nas 500 Milhas de Indianápolis, ele conquistaria a Tríplice Coroa, que inclui Le Mans e o GP de Mônaco de F1. Algo que apenas o britânico Graham Hill conseguiu na história do automobilismo.