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Esporte

Pesadelo vermelho: Inter perde em casa e está fora da Libertadores

Falcão volta a cair para um uruguaio na Libertadores, desta vez como treinador. Peñarol vence de virada, por 2 a 1

Globo Esporte

05 de Maio de 2011 - 07:55

Pesadelo vermelho: Inter perde em casa e está fora da Libertadores
Pesadelo vermelho: Inter perde em casa e est - Divulga

É um pesadelo. Em algum momento nesta quinta-feira, cada torcedor colorado espera despertar suado, com o coração acelerado, e perceber que não é verdade que o Inter levou 2 a 1 do Peñarol em casa e deu adeus à Libertadores.

 Cada sujeito que veste vermelho há de acordar no meio da madrugada, assustado, e se dar conta que, imaginem, o Inter do ídolo Paulo Roberto Falcão, com o talento de D’Alessandro, com os gols de Leandro Damião, simplesmente não pode ter levado uma virada em casa na noite desta quarta-feira, simplesmente não pode ter visto a esperança do tricampeonato continental morrer em cinco minutos inexplicáveis, simplesmente não pode ter transformado uma vaga que parecia encaminhada em decepção. Bobagem.

Tudo bobagem. O Inter está, sim, fora da Libertadores da América. Pesadelos também podem ser reais.

Foi inacreditável. O Inter abriu 1 a 0 na largada do jogo e ficou com a vaga na mão. Mas o Peñarol foi lá e virou, com dois gols em cinco minutos, no início do segundo tempo, diante de um adversário adormecido, perdido, pasmo. Oscar fez o gol dos brasileiros. Martinuccio e Olivera marcaram para a equipe de Montevidéu.

Paulo Roberto Falcão, em seu retorno à Libertadores, revive o drama de três décadas atrás, novamente para um uruguaio. Em 1980, perdeu a final para o Nacional; em 2011, caiu nas oitavas de final para o Peñarol.

Os carboneros aguardam a definição de seu oponente nas quartas de final. Será o Grêmio ou o Universidad Católica. Ao Inter, resta se livrar do pesadelo, chorar sua dor e encarar os dois Gre-Nais decisivos do Gauchão.

Tinha colorado comprando cachorro-quente. Tinha colorado ao telefone. Tinha colorado entrando no estádio. Tinha até colorado estacionando o carro. E lá foi Oscar, em um piscar de olhos, colocar o Inter na frente. Tinha só um minuto o jogo no Beira-Rio quando o guri tabelou com Leandro Damião, avançou com a bola e mandou o chute no canto esquerdo do goleiro Sosa. Mal parecia verdade. Cedo, muito cedo, mais cedo do que os colorados mais empolgados poderiam sonhar, o Inter estava na frente.

Era a melhor notícia do mundo para aquela massa vermelha que ainda se acomodava no estádio. Com o gol, era certa a vitória, estava combinado o passeio, estava tudo perfeito, certo? Nada disso. O toque da bola na rede dos carboneros pareceu uma senha para o Peñarol mostrar as garras, expor os dentes e ir para o ataque. Aconteceu aquilo que vem ocorrendo sistematicamente com o Inter de Falcão: o oponente conseguiu circular com a bola, mas sem criar grandes chances. Quando criou, quase provocou um infarto coletivo no Beira-Rio.

Se não tivesse torcida do Peñarol (e muita: umas 2 mil pessoas), seria possível ouvir os grilos do Beira-Rio aos 15 minutos, tamanho o silêncio que envolveu o Gigante quando Freitas subiu na primeira trave e cravou a testa na bola. O lance redimensionou o conceito de susto. A bola foi em diagonal na direção do gol, inalcançável para Renan, irremediável para a zaga. Tinha todo o desenho de gol. Mas ela saiu. Graças a todos os santos colorados, ela saiu.

E graças a Bolatti, uma outra não entrou. Após escanteio da esquerda, a bola tomou o rumo do gol. Se o volante argentino não estivesse por ali, a vitória parcial teria virado empate no primeiro tempo. O jogador cortou na pequena área.

Mas nem tudo foi susto. O Inter, sustentado em um esquema 4-5-1, com Oscar, D’Alessandro e Andrezinho na articulação, criou suas chances também, e até em maior número do que o Peñarol. Andrezinho mandou três chutes, todos tortos, para fora. D’Alessandro mandou colocado, também para fora. E Kleber teve a melhor das oportunidades desperdiçadas. Recebeu pela esquerda, após bom tabelamento de Bolatti e Damião, e mandou chute cruzado – de novo, para fora.

Duas punhaladas

Para uma torcida que já venceu o Barcelona e já perdeu do Mazembe, poucas coisas soam inacreditáveis, seja para o bem, seja para o mal. Mas não pareceu real o que aconteceu nos primeiros cinco minutos de segundo tempo no Beira-Rio. Parecia pegadinha aquela bola entrando com bizarros 11 segundos. Parecia piada de mau gosto aquela outra bola morrendo na rede de Renan logo depois. Em tão pouco tempo, duas punhaladas. Absolutamente impossível de acreditar.

O Beira-Rio mergulhou em um misto de incredulidade, tristeza, preocupação e desejo de apoiar. Do outro lado, a torcida do Peñarol vivia segundos de êxtase, de surto, de euforia. Foi tudo tão rápido... O primeiro gol foi na saída de bola, uma arrancada de Martinuccio, o melhor jogador do Peñarol, caçado inutilmente por Bolívar. No segundo, Aguiar cruzou da esquerda e Olivera, muito bom centroavante, fuzilou Renan de cabeça.

O jogo virou uma roleta-russa para o Inter. Ao mesmo tempo em que precisava atacar, o time de Paulo Roberto Falcão corria riscos absurdos atrás. Freitas, com o gol vazio, perdeu chance clara em rebote de Renan, após cruzamento da direita. A defesa colorada estava em curto-circuito.

Cada tiquetaquear do relógio era um rasgo a mais na esperança colorada. Por que cargas d’água o tempo corria tão rápido? Quem diabos acelerava aqueles ponteiros? Com 20 minutos, o Inter não tinha criado bulhufas no segundo tempo! Falcão, antes disso, agiu. Colocou Ricardo Goulart, estreante na Libertadores, e Tinga nos lugares de Andrezinho e Oscar. Não deu certo.

O Inter até criou chances. D'Alessandro fez grande jogada pela direita, dentro da área, e rolou para Bolatti, que chutou fraco, em cima da zaga. Rafael Sobis arriscou de longe, mas Sosa pegou. Tinga perdeu gol feito. E o relógio rasgando a alma vermelha. E os ponteiros sendo acelerados por alguma entidade uruguaia misteriosa. E o pesadelo ganhando forma.

Todos os colorados vão acordar nesta quinta-feira, porque a vida segue. Mas o duro será perceber que não foi só um pesadelo. Foi real. E essa realidade machuca...