Logomarca

Um jornal a serviço do MS. Desde 2007 | Sábado, 6 de Dezembro de 2025

Policial

Cocaína "mais barata" motivou guerra entre facções na fronteira

Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital têm travado briga por rotas do tráfico, que se estendem por todas as divisas de MS, e deixam em alerta autoridades.

Correio do Estado

11 de Agosto de 2025 - 09:27

Cocaína "mais barata" motivou guerra entre facções na fronteira
Quase meia tonelada de cocaína foi apreendida em Campo Grande no mês passado pela Polícia Civil - Foto: Marcelo Victor

O recente aumento de mortes na região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai e a Bolívia e também na divisa com Mato Grosso estaria relacionado à guerra para tomar o controle de rotas do tráfico de cocaína, após a droga ter se “popularizado” e ficado com valor reduzido no mercado interno.

De acordo com o titular da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antônio Carlos Videira, desde a pandemia de Covid-19, em 2020, a cocaína tem sido produzida em uma escala maior nos países produtores, como Bolívia, Peru e Colômbia. Isso porque o isolamento social levou muitas pessoas a consumirem a droga.

Com a produção maior, o valor da droga comprada desses produtores, segundo o secretário, baixou e, com mais droga no mercado, ela se “popularizou”, o que fez dela mais rentável. E é por causa desse “mercado aquecido” que as duas maiores facções criminosas do País, Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), têm travado uma guerra sangrenta em Mato Grosso do Sul.

“Não só nas fronteiras, mas nas divisas de Mato Grosso do Sul também. Há uma disputa entre as facções pelo controle do tráfico de drogas e pelas melhores rotas. No norte do Estado, o Comando Vermelho tenta entrar em MS, que tem mais integrantes do PCC. Mas temos acompanhado de perto essa questão”, garantiu Videira ao Correio do Estado.

Segundo o secretário, uma cena que pode exemplificar o maior consumo da droga dentro do Brasil é a quantidade de usuários de drogas que podem ser encontrados em Campo Grande, por exemplo.

“A droga se popularizou, principalmente o crack, que é um subproduto da cocaína, e hoje você pode ver o que isso causou nas ruas, aliada com uma falta de estrutura e com políticas públicas falhas. Por isso há um reforço nosso nas rodovias de Mato Grosso do Sul e nas cidades para evitar que essa droga chegue aos consumidores”, declarou o secretário.

Um exemplo disso é a quantidade de apreensões de cocaína realizadas nos últimos anos. De acordo com dados da Sejusp, que somam apreensões feitas pelas forças estaduais e federais de segurança, desde 2021, as polícias têm apreendido volume não inferior a 8 toneladas de cocaína por ano.

Na série histórica disponibilizada pela instituição, que começa em 2015, o ano com a maior apreensão foi 2023, quando mais de 18 toneladas da droga foram encontradas pelas forças de segurança. No ano passado, foram 17,6 toneladas, o segundo maior volume. Este ano, até o dia 4, haviam sido apreendidos 8,9 toneladas do entorpecente.

EXECUÇÕES

Desde o anúncio do fim do acordo de trégua entre PCC e Comando Vermelho, em maio deste ano, vários crimes de pistolagem e execuções no meio da rua foram registrados em Mato Grosso do Sul e do lado paraguaio, nas cidades que fazem fronteira com o Estado.

A situação mais delicada talvez seja na fronteira entre Coronel Sapucaia e Capitán Bado, onde quatro pessoas foram assassinadas em três dias na região no mês passado.

Francisco Willams da Silva, de 33 anos, e Camila Barros Barboza, de 35 anos, foram mortos em Coronel Sapucaia. O casal foi fuzilado em uma rua da cidade, e os pistoleiros fugiram do local.

Dias depois, Alexi Xavier Escurra Rodrigues, de 25 anos, que teria inúmeras passagens pela polícia e seria sobrinho do narcotraficante Felipe Escurra, conhecido como Barón, que é ligado ao CV, foi executado com vários tiros, ao lado de Sebastian Gonzalez Espínola, de 37 anos.

Além das fronteiras, também houve mortes nas regiões de divisa entre MS e MT. No mês passado, Edeilson Cardoso dos Santos, de 40 anos, foi executado em Coxim. Membro do PCC, o homem foi morto por integrantes do Comando Vermelho. Seis pessoas foram presas após o crime.

Nessa região, segundo Videira, um dos fatores que tem motivado a briga entre as facções é o uso da BR-163 para o escoamento da cocaína para grandes centros, como São Paulo e a Região Sul, além de chegar a portos do País, em Santos (SP) e Paranaguá (PR), estados que fazem fronteira com Mato Grosso do Sul, comandado pelo PCC, mas não com Mato Grosso, onde há maioria do CV.

“Eles usam a BR-163 para cruzar MS e chegar aos portos e grandes centros, onde eles não fazem fronteira. Há outras rotas por Goiás e por outras rodovias, mas, como há um grande volume de caminhões na BR-163, é uma das rotas que eles usam, e essa briga é para escoar a droga em segurança, porque existe o mercado nacional e internacional da cocaína”, explicou o secretário.

Já a última execução ocorreu na quarta-feira, em Pedro Juan Caballero, quando Rafael Gonzalez Bermejo, conhecido como Cara Branca e Alemão, foi fuzilado na fronteira.

O homem tinha histórico de passagens pela polícia por tráfico de drogas, armas e roubo de veículos e estava foragido do regime semiaberto do presídio da cidade de Pedro Juan Caballero.

“A disputa pelas rotas do tráfico é sangrenta, e temos atuado para coibir essa briga, porque o que se faz aqui traz resultado para muito além da fronteira. É como um tabuleiro de xadrez, e a gente vai movendo as peças [forças de segurança] de acordo com o movimento que esses grupos fazem e que nossa Inteligência identifica. É um trabalho ininterrupto”, afirmou o titular da Sejusp.

Ainda conforme Videira, recentemente, foram feitas ações envolvendo o uso do helicóptero da Sejusp em Campo Grande, na região de Corumbá e em Chapadão do Sul, localizado na divisa com Goiás, que também é usado como rota do tráfico.

“Temos centenas de policiais trabalhando no monitoramento de cargas que chegam a MS, muitas vezes, essas apreensões são feitas aqui, outras vezes, passamos para os estados de destino, para que eles consigam identificar as rotas, porque não nos interessa prender só os caminhoneiros, queremos os donos das cargas”, finalizou o secretário.