Policial
Ex-chefão do PCC é entregue pela Bolívia à Polícia Federal de Mato Grosso do Sul
Tio Arantes liderou maior rebelião da Máxima de MS.
Correio do Estado
08 de Setembro de 2023 - 14:10
A Polícia boliviana entregou o ex-líder da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), José Cláudio Arantes, conhecido como Tio Arantes, à Polícia Federal no início da tarde desta sexta-feira (8). Ele estava foragido do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira de Campo Grande novembro de 2021 e foi preso no país vizinho na última quarta-feira (6).
Foi montada uma grande operação para entregar o preso. Policiais da Força Nacional de Luta contra o Crime (Felcn) fecharam o trânsito na fronteira do Brasil com a Bolívia por cerca de 20 minutos. Nenhum carro ou caminhão foi autorizado a cruzar a região.
Em torno de 10 policiais bolivianos fortemente armados atuaram na operação diretamente.
A Polícia Federal enviou duas viaturas para receber o preso e oito policiais federais participaram da ação. Pelo fato de ser foragido, Tio Arantes foi levado diretamente para o presídio estadual em Corumbá, que atua no sistema fechado.
O comandante da Polícia Nacional boliviana no departamento de Santa Cruz, Erick Holguín, participou na operação e esteve em Puerto Quijarro, na fronteira com o Brasil, para fazer a extradição de José Cláudio Arantes.
"A Polícia Boliviana atua com troca de informações e com apoio de autoridades brasileiras. O preso extraditado aqui era procurado da Justiça e tinha notificação pela Interpol para ser preso. Conseguimos localizá-lo em Santa Cruz e felizmente ele foi preso. Nosso objetivo é buscar a segurança dos cidadãos bolivianos", afirmou, em entrevista concedida ao Correio do Estado.
Além de José Cláudio Arantes, outro preso também foi extraditado na manhã desta sexta-feira. Conforme dados das autoridades bolivianas, os nomes que o investigado utiliza é Mariano Pereira Dominick, mas ele também tinha documentação de Patrício de Araújo Edmilson. Na Interpol, ele aparece com notificação em lista vermelha.
O homem também foi preso em Santa Cruz. A Polícia Federal faz levantamento de detalhes relacionados a esse investigado, porém não divulgou detalhes.
Prisão
Tio Arantes tem extensa ficha criminal, principalmente por tráfico de drogas, rebeliões e assassinatos. Ele é apontado como tendo participação na morte do advogado William Maksoud Filho, que foi assassinado por um integrante da facção, Rafael Carlos Masqueda, condenado em 2013 pelo crime.
Arantes também foi acusado de liderar a maior rebelião já ocorrida no Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande, em 2006.
De acordo com informações do comandante da Polícia de Santa Cruz, na Bolívia, coronel Erick Holguín, por volta das 18h30 da última quarta-feira, após um trabalho da inteligência, Tio Arantes foi abordado na capital boliviana por policiais e apresentou documento de identidade brasileiro, com nome de Raildo Teixeira da Silva.
Em análise, os policiais desconfiaram que se tratava de um documento falso e, portanto, decidiram conduzi-lo até uma unidade da Força Especial de Luta contra o Crime (Fuerza Especial de Lucha Contra el Crimen - Felcc) e, neste momento, Tio Arantes apresentou comportamento violento e tentou destruir o celular que estava com ele.
Já nas dependências policiais, trabalhos investigativos apontaram que o documento apresentado realmente era falso e que a identidade real era de José Cláudio Arantes, que uma série de antecedentes criminais e se encontrava foragido da Gameleira, onde cumpria prisão em regime semiaberto. Ele contava com dois mandados de prisão em aberto para recaptura, expedidos em 2022 e 2023.
Na coletiva de imprensa no país vizinho, a polícia boliviana utilizou uma matéria publicada pelo Correio do Estado em 2017, onde era noticiado que “depois de 8 meses nas ruas, ex-líder do PCC, 'Tio Arantes' retorna à prisão”. Na época, ele foi posto em liberdade em fevereiro, mas voltou a ser preso em outubro por receptação.
Morte de advogado e maior rebelião da Máxima
Tio Arantes é apontado como um dos implicados no assassinato do advogado William Maksoud, morto a tiros dentro do escritório, em abril de 2006.
O criminalista teria sido morto por determinação do comando do PCC, que lhe dera dinheiro para agir na transferência de um criminoso, tarefa não efetuada.
Em maio de 2006, pouco tempo depois do assassinato de William, integrantes do PCC e de outra facção entraram em confronto na Penitenciária de Segurança Máxima, em Campo Grande, que durou mais de 30 horas. Essa rebelião é considerada a maior do Presídio de Segurança Máxima do Estado.
Mais de 1,3 mil presos participaram do motim. Mulheres e crianças que realizavam visitas foram feitas reféns.
Na ocasião, um dos presos foi decapitado e os presidiários exibiram a cabeça da vítima aos policiais que estavam do lado de fora da unidade.